segunda-feira, 14 de junho de 2010

Instituto de Estudios Histórico-Sociales


João Paulo Garrido Pimenta
Pós-graduando do Depto.de História FFLCH-USP

Anuario IEHS, n°10. Tandil, Instituto de Estudios Histórico-Sociales, Facultad de Ciencias Humanas/Universidad Nacional del Centro, 1995.

Desdobramento das atividades do Instituto de Estudios Histórico-Sociales - criado em 1986 com a finalidade de promover pesquisas no campo das ciências sociais, especialmente na História - o Anuario chega à sua décima edição mantendo um alto padrão editorial, oferecendo espaço para autores de diversas filiações metodológicas e, o que é de ressaltar, de diferentes países. Além disso, traça um painel de tendências historiográficas mundiais em diferentes campos de pesquisa. Esta edição, dividida em cinco partes temáticas, e ainda com uma seção de resenhas ao final, contém primordialmente artigos referentes à história da América, mas abre espaço para discussões eminentemente teóricas e artigos de avaliação historiográfica.

A primeira parte rende homenagem ao historiador argentino José Carlos Chiaramonte, autor de extensa e importante obra sobre o Vice-Reinado do Rio da Prata, sobre a independência e formação do Estado nacional argentino. Traz uma entrevista, concedida a Carlos Marichal em 22/09/1993, e um artigo inédito do próprio Chiaramonte.

A bem conduzida entrevista faz um balanço geral da trajetória de pesquisa de Chiaramonte, abordando as motivações que o levaram a produzir algumas de suas obras. A primeira delas, Ensayos sobre la Ilustración argentina (Paraná, 1962), insere-se nas preocupações iniciais do autor, voltadas para o estudo do pensamento que supostamente teria levado à emancipação platina. Logo mudaria o enfoque desta proposição, considerando a impossibilidade de se falar em uma doutrina específica formulada com vistas à independência. Influenciado pelos clássicos trabalhos de Tulio Halperín-Donghi (que interpreta a emancipação como um processo deflagrado em um nível imediato em virtude do contexto europeu, portanto recusa a idéia de uma "gestação da independência" na época colonial), e embasado em sólida pesquisa documental, Chiaramonte chega à conclusão de que, falar-se na emancipação como resultado desta suposta doutrina , é na verdade uma inversão do problema. O que houve foram líderes (como Belgrano e Moreno) que estudaram na Europa, influenciados por idéias ilustradas que lá circulavam, ou que chegavam na América através de livros. Porém, isto não é suficiente para associar-lhes a formação intelectual com o movimento de 1810, este como fruto daquela. O século XVIII, especificamente no âmbito platino, tratar-se-ia de uma época de transição de idéias, um dilema entre a novidade e a tradição, onde idéias européias eram aceitas ou não, reelaboradas na maioria dos casos. O autor publicaria décadas depois, La Ilustración en el Río de la Plata -Cultura eclesiastica y cultura laica durante el Virreinato (Buenos Aires, 1989), fruto bastante maduro destas reflexões.

Mergulhado no estudo das idéias, Chiaramonte passou a deter-se na investigação acerca do pensamento político-econômico platino nos séculos XVIII e XIX, fazendo história política, econômica e social. Preocupado com a relação entre a demanda externa (Ilustração) e a formação da elite dirigente interna nos anos de organização do Estado nacional, publicou Nacionalismo y liberalismo económicos en Argentina: 1860-1880 (Buenos Aires, 1971), um estudo sobre o nacionalismo econômico argentino. Chama a atenção para a distância geralmente verificável historicamente entre a formulação teórica de doutrinas econômicas e sua aplicação enquanto políticas econômicas. Importante ressalva metodológica na medida em que, ao mesmo tempo em que busca as origens intelectuais e as formulações teóricas das políticas econômicas, evita por seu simples reflexo explicar a realidade prática. Esta é aliás uma tônica em toda a obra de Chiaramonte, o que o leva, na maioria das vezes, a resultados de análise absolutamente historicizados, e lhe permite apontar anacronismos em outras.

Mas é talvez em algumas de suas obras recentes que mais clara fica a sua renovação no campo dos estudos sobre a emancipação. Estudou províncias que integraram o Vice-Reinado até então pouco estudadas, como Santa Fe, Entre Ríos, e Corrientes. Sobre esta última, publicou o importante Mercaderes del Litoral: economía y sociedad en la província de Corrientes, primera mitad del siglo XIX (Buenos Aires, 1991) tratando "la cuestión regional como cuestión nacional" ("Entrevista...", p.20), na medida em que Corrientes já era uma província soberana e autônoma antes de integrar a Confederação e alinhar-se politicamente a Buenos Aires; mergulhou nas conceituações de federação e de confederação ("confederação", na linguagem de época, traria consigo a idéia de reunião de Estados independentes e soberanos. Assim, o que muitas vezes é entendido como uma tendência à união, pressuporia justamente a separação), e trouxe à luz a utilização de outros vocábulos reveladores da coexistência de diversas identidades políticas no âmbito platino quando de 1810. Basicamente, chama a atenção para a necessidade de se historicizar com precisão o significado destes termos, verificando em que medida a tais expressões associa-se alguma forma de organização estatal e soberana.

Percebe-se que no todo de sua obra, atribui grande importância ao período conhecido como de luta entre Buenos Aires e as outras províncias, na verdade um complexo processo justamente de coexistência conflituosa entre projetos políticos diversos, momento em que uma das grandes questões que se colocava era a da trajetória das populações americanas sem a soberania monárquica, em virtude dos acontecimentos deflagrados com o cativeiro de Fernando VII. Em boa parte da historiografia argentina (talvez a partir das obras de Juan Batista Alberdi, como Bases y puntos de partida para la organización política de la República Argentina, de 1852), tal período - de violentos conflitos, mas principalmente de absoluta indefinição política - é entendido como de "anarquia". Tal concepção fundamenta-se sobretudo na idéia de que, logo após 1810, existiria no âmbito platino um sentimento coletivo e geral de pertencimento a uma mesma nação, com correspondente organização estatal soberana, e, portanto, a destruição daquela suposta união seria a obra "fragmentadora" das províncias. Para Chiaramonte, ao contrário, a verificação da coexistência de inúmeras identidades, algumas de caráter político, e muitas contraditórias entre sí, revelaria justamente a impossibilidade de detectar-se este "sentimento nacional" naquele momento. Com isto, desmistifica o que chama de "mito das origens", e avança sobremaneira não apenas na interpretação da história platina, como também no trato da questão nacional de maneira geral.

É nesta linha que se insere o artigo presente na edição, "Acerca del origen del Estado en el Río de la Plata": um breve - porém profundo - estudo sobre a historicidade das idéias políticas platinas, onde o termo nação difere de nacionalidade (idéia praticamente inexistente no período, tal qual entendida hoje em dia), associando-se com Estado. A especificidade deste vocabulário indicaria a correspondente especificidade das formas políticas verificáveis no Prata, a partir das quais se organizaram estruturas de tipo estatal e soberano. Processo este tanto de predominância de formas corporativas de participação política, como de recorrência ao argumento da ancestralidade de certas práticas enquanto legitimação de argumentos (pp.29-37). O resultado é o conflito em torno de formas de soberania divergentes, de autonomia das províncias contra as pretensões unificadoras em torno de Buenos Aires, "conflicto éste que consideramos central a la historia del período, y que tendió a ser menospreciado tanto por los líderes centralistas de la época, que reducían aquellas pretensiones soberanas [das províncias] a manifestaciones de estrecho 'espíritu localista', como por la historiografía posterior que, en su afán de suponer nacionalidades preexistentes a la aparición de los nuevos Estados, aceptó y convirtió en criterio historiográfico aquel juicio partidista"(p.50).

Assim, com esta homenagem, o Anuario apresenta uma contribuição para todos os historiadores preocupados não somente com a história platina, mas também com caminhos teórico-metodológicos que, quando bem trilhados, resultam em produção intelectual do mais alto nível.

A segunda seção apresenta como eixo orientador "Estado, nación y federalismo", extremamente pertinente não apenas por, no contexto do Anuario relacionar-se com a parte anterior, como também pela atualidade que o estudo da questão nacional apresenta como campo de reflexão de intelectuais no mundo todo, preocupados com a emergência de conflitos pautados pela diversidade e que se oferecem como desafio à idéia de "globalização", ou de qualquer outra pretensamente harmonizadora ou totalizante. O primeiro artigo, "Nación y pluralismo analítico", de Raúl Antelo, esboça uma reflexão teórica, tomando a idéia de "nação" em uma dimensão simbólica e imaginária e propondo a abordagem do tema através do que o autor chama "pluralismo analítico", ou seja, a compreensão do fenômeno nacional por sistemas culturais amplos e diversos. O seguinte, de Gérard Noiriel, "La 'identidad nacional' y la historiografía francesa", aborda a questão via historiografia francesa, analisando como nesta produção - especialmente em autores do século XIX e inícios do XX, como Michelet, Renan e Vidal de la Blache - uma determinada idéia de "França" está presente enquanto categoria organizadora de seus escritos, assumindo esta uma espécie de "identidade própria". Trata-se de uma variante francesa do "mito das origens" apontado acima em Chiaramonte. O terceiro, "Federalismo y cantonalismo en México, 1824-1892: soberanía y territorialidad", por Guy P.C.Thomson, analisa as relações entre poder central e soberanias locais no México no referido período, traçando alguns apontamentos comparativos com o caso espanhol, embasado em uma boa bibliografia acerca do tema. Finalmente, novamente de Carlos Marichal, "Liberalismo y política fiscal: la paradoja argentina, 1820-1862", propõe relações entre política fiscal e formação de estados liberais (no caso o argentino pós-Rosas), com um minucioso estudo da economia platina do período e sugestivas conclusões.

Exceção feita ao primeiro artigo, os outros três analisam o tema proposto - cada qual com um grau de preocupação diferente - de uma maneira metodologicamente similar. Partem de estudos de casos historicamente concretos, e mesmo quando não é o propósito de seus autores a "questão nacional" (e quando o é, rejeitam definições a priori), oferecem caminhos seguros para quem se dispõe a discuti-la, como atesta a produção recente sobre o tema.

O terceiro segmento do Anuario apresenta "Problemas de historiografía", novamente com discussões teóricas e estudos de casos. O primeiro é assinado por Jacques Revel, "Micro-análisis y construcción de lo social" (publicado anteriormente nas línguas alemã e italiana, conforme esclarece o autor), onde discute-se a "micro-história" enquanto procedimento historiográfico relacionada com a "macro-história", apresentando um balanço teóricohistoriográfico bem como reflexões acerca das diferentes formas de escrita da História intentadas nas três últimas décadas. Também uma discussão teórica é o que propõe Arlette Farge em "Algunos instrumentos para reflexionar sobre la historia de la violencia", basicamente sobre a validade da obra de Foucault para a compreensão de mecanismos da "racionalidade que conduzem à violência", entendida esta (como o faz Foucault), enquanto instrumento de poder. Introduz pertinentes apontamentos sobre a possibilidade da "violência" enquanto categoria de análise teórica. O artigo seguinte é o de Fernando J. Devoto, "Itinerario de un problema: y la historiografía argentina (19291965)", onde o autor, através de pesquisas em arquivos pessoais e institucionais, traça um panorama da enunciada relação, centrado especialmente em figuras como Halperín-Donghi, José Luis Romero, Lucien Febvre, Fernand Braudel e Ruggiero Romano, tanto a nível intelectual como institucional. Assim, não apenas aponta para alguns caminhos seguidos pela historiografia argentina neste século como também nos oferece elementos para se pensar o papel desempenhado por Braudel e sua escola de pesquisadores tanto como produtora de uma magnífica obra historiográfica, quanto, simultaneamente, círculo de poder institucional fortíssimo que estendeu sua influência ao mundo todo, concentrando altos cargos universitários e de instituições de pesquisa, ditando normas e padrões de publicações historiográficas e - especialmente no caso de Braudel - formando equipes de pesquisadores por todo o mundo. Encerra a seção "La poética de Noticias del Imperio de Fernando del Piso: la Historia en la historia", de Aída Nadi Gambetta Chuck, uma interessante análise das fronteiras entre História (entendida enquanto narrativa) e literatura, tendo por estudo de caso a novela construída sobre elementos históricos.

Assim, têm-se aqui um panorama extremamente realista de para onde o estudo da história da historiografia parece caminhar com resultados mais positivos: aliando-se o trabalho com conceitos e categorias teóricas à análise da produção historiográfica propriamente dita. A perda de referências globais, a fragmentação do saber historiográfico e a má utilização da interdisciplinaridade, decorrentes de um complexo processo de construção e desconstrução de saberes históricos e de difusão destes entre diversas escolas historiográficas de todo mundo especialmente a partir do anos setenta, colocam como necessidade básica o trabalho conceitual, bem como a recorrência aos conteúdos de referência (indicações bibliográficas, datas de publicações, contextos de produção etc.). Mas é a confluência destes dois fatores que confere aos estudos de história da historiografia um caráter positivamente crítico. O artigo de Revel é neste sentido exemplar: na medida em que teoriza sobre o já produzido, avançando nos pontos em que considera a produção deficiente. Infelizmente, ao menos na produção brasileira sobre o tema, ainda escasseiam as análises nestes termos, limitando-se, em muitos casos, ou à simples referência (como é o caso das obras de José Honório Rodrigues), ou ao estudo específico de um autor (como demonstra o crescimento na produção de teses que intentam uma bibliografia deste ou daquele personagem), sem a discussão dos alicerces teóricos sobre os quais a obra deste construiu-se. Assim, muitas destas obras ignoram que estudar a historiografia em sua(s) teoria(s) é refletir sobre os fundamentos da produção do conhecimento histórico em si.

"Problemas de historia económica", quarto segmento, traz dois artigos que apresentam um bom manejo do instrumental de história econômica. O primeiro, "Moneda, impuestos e instituciones - la estabilización de la moneda corriente en el Estado de Buenos Aires durante las décadas de 1850 y 1860", de autoria de María Alejandra Irigoin, estuda a economia bonarense do período que vai da queda de Rosas até a incorporação definitiva de Buenos Aires na Confederação, enquanto o segundo, "El Banco Hipotecario de la Provincia de Buenos Aires y el estímulo a la producción rural, 1872-1890", de Marcela P. Ferrari, relaciona o mercado financeiro com o sistema produtivo da região do Pampa em um período de acentuada expansão da economia agrária, inserindo o papel do Estado através do Banco Hipotecario. Em ambos os trabalhos, chega-se a um panorama político, qual seja, o período pós-rosista, de organização do Estado nacional argentino, através do crescimento econômico, da organização de sistemas monetários, fiscais e políticos.

Trata-se de dois bons exemplos de análises que utilizam métodos quantitativos mas que não se encerram neles. Aliás, a história econômica há muito tempo tem deixado de lado as análises meramente descritivas, para interpretar os dados de tal maneira que se chega inevitavelmente à outras esferas, sejam estas a política, a sociedade ou até mesmo a cultura, através do pensamento econômico. Hoje em dia cada vez mais os historiadores-economistas, bem como os economistas-historiadores, têm-se utilizado do material quantitativo de maneira crítica, criteriosa e - positivamente - interdisciplinar.

O último grupo de artigos intitula-se "Resistiendo la civilización o desdeñando el progreso (I)", como a própria numeração indica, com previsão de desdobramento no Anuario nº11. Com introdução por Miquel Izard e artigos de Javier Laviña ("Resistencias afroamericanas y otros cimarrones"), Angel G. Quintero Rivera ("Vuelta con mantilla, al primer piso") e Juan Maestre Alfonso ("Estructuras sociales, modelos sociopolíticos y tensiones étnicas en el siglo XIX brasileño"), pretende uma crítica à uma chamada "História oficial" e acadêmica, propondo a recuperação de Histórias dos "excluídos" e abordagens que foram desprezadas por instrumentos ideológicos de poder. O artigo de Laviña analisa a escravidão africana do ponto de vista da destruição da cultura da qual os escravos eram portadores, e da criação de formas de resistência e preservação desta. Ressente-se, sem dúvida, de um melhor enquadramento da escravidão enquanto sistema econômico, no qual a coerção exercia elemento fundamental para a sua preservação, tanto na América portuguesa quanto na espanhola. O de Rivera estuda a cultura de Porto Rico e suas raízes coloniais, buscando em tradições populares (como a música e a dança) elementos de "hispanidad". O último, de Alfonso, intenta uma análise da sociedade constituída no Brasil - "ejemplo de estructura social moderna, como también lo es de la arcaica o tradicional"(p.291, grifos do autor), desde o período colonial, atendo-se especialmente ao século XIX, onde, segundo o autor, originar-se-iam os elementos desta estrutura, especialmente através dos negros africanos e índios. Ao propor uma recuperação dos "excluídos", recai em explicações sociológicas e históricas que foram alvo de críticas substanciais já na década de cinqüenta deste século. Assim, adota a idéia de "democracia étnica", ciclos econômicos sucessivos (açúcar, ouro, café e borracha), entende os bandeirantes paulistas como os grandes responsáveis pela atual formação territorial do Brasil, dentre outras. O autor demonstra não apenas um desconhecimento da bibliografia mais atualizada sobre o Brasil como também certa imaturidade quanto à capacidade de problematizar sobre este complexo período que é o século XIX brasileiro.

Todos os artigos desta parte são demasiadamente genéricos, mas é este último artigo que melhor comprova a inversão do problema proposto na "Introdución": não são necessariamente os objetos, mas principalmente os procedimentos que levam a escrita da História avançar no sentido de tornar-se mais crítica, menos "oficial". Toda crítica à historiografia comprometida exclusivamente com determinados interesses de classe, e por isso necessariamente restrita, é e continuará sendo válida no sentido de chamar a atenção para outros objetos ou enfoques por ventura mais adequados à História enquanto conhecimento - ou seja, a produção de um saber crítico, analítico e libertador -, mas deve avançar em direção a alguma outra proposta. Finalmente, a associação entre "História oficial" e "História acadêmica" é indevida, já que, se houvesse uma conceituação clara destas categorias, certamente seriam coisas distintas. À primeira idéia remete-se à unilateralidade, restrição e instrumentalização do saber aos interesses de uma determinada classe, enquanto à segunda a preocupação com o rigor, organização e compreensibilidade do trabalho. Mesmo assim, uma história só pode ser chamada "oficial" se ela servir à uma determinada "oficialidade" historicamente definida. Daí a pobreza de análise de qualquer produção em termos bipolares (seja entre vencedores e vencidos, seja entre classes dominante e subalterna, seja por qualquer outra), o que simplifica um campo por demais complexo para caber em categorias tão pouco elaboradas. Da mesma forma que a produção historiográfica é, em maior ou menor termo, resposta a algum tipo de demanda de uma sociedade, também idéias de classe, ideologia, dominação, poder e sociedade o são. O rigor crítico no uso destas categorias consiste justamente em apreender sua historicidade, e saber trabalhar com ela, caso contrário o que se tem são realidades moldadas de acordo com idéias adotadas a priori, sem o necessário embate permanente entre a teoria e o real concreto.

Encerra o volume uma série de resenhas sobre obras diversas publicadas a partir de 1994 referentes à história da América.

Assim, além da qualidade de conteúdo deste volume nº10, a seqüência de publicação do Anuario traz uma efetiva contribuição para o enriquecimento dos estudos históricos não somente em sua vertente latino-americana, como também mundial. Ao abrigar artigos sobre diferentes temas, contendo enfoques e posições teórico-metodológicas diversas e ilustrando algumas posições marcantes na produção do saber historiográfico atual, avança no sentido de propor historiografias mais abrangentes e dinâmicas, chamando a atenção para trabalhos afins - daí a divisão dos artigos em grupos temáticos - e dando mostra do alto grau de maturidade que muitas instituições universitárias e de pesquisa latino-americanas - apesar da generalizada carência de recursos e incentivos econômicos e políticos, como é notadamente o caso argentino - atingiram nas últimas décadas.

Revista de História - USP

Nenhum comentário: