BOURDIEU, Pierre. 1997. Sobre a Televisão - Seguido de A Influência do Jornalismo e Os Jogos Olímpicos (tradução de Maria Lúcia Machado). Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor. 143 pp.
Silvia Nogueira
Mestre, PPGAS-MN-UFRJ
A leitura de Sobre a Televisão permite compreender os motivos que levaram o original a ocupar, simultaneamente, duas listas na França: uma, a dos best-sellers; outra, a dos livros mais polêmicos e comentados pela imprensa francesa em 1997. Unindo um estilo crítico agudo, em que questões são abordadas de uma forma direta e profunda, a um método claro de exposição dos argumentos, o autor faz uma análise dos diversos mecanismos de censura e constrangimentos próprios ao que ele denomina campo jornalístico.
Ao longo do livro, particularmente no texto que dá título à obra e em "A Influência do Jornalismo", Bourdieu aborda questões essenciais para aqueles que estudam a imprensa, os jornalistas ou o próprio campo profissional. Sua análise abandona a explicação corrente de que uma determinada ideologia dos dirigentes dos meios de comunicação é a principal responsável pelo que é produzido pela imprensa. Ao contrário, procura mostrar as diversas variáveis que influenciam o campo jornalístico e os elementos e regras próprios a esse meio profissional.
Para o autor, existem restrições externas (pressão econômica e obsessão pelos índices de audiência) e internas (necessidade de reconhecimento dos jornalistas por seus pares, submissão ao tempo de realização da tarefas e busca incessante pelo furo de reportagem) que fazem com que ocorra um esvaziamento político do que é veiculado, e a conseqüente despolitização dos consumidores de informações (telespectadores ou leitores).
Nessa edição brasileira, uma tradução da 6a edição francesa acrescida de mais dois textos, encontra-se "Sobre a Televisão" (uma transcrição revista e corrigida da gravação de dois programas realizados em março de 1996 durante alguns cursos do Collège de France e difundida pela televisão, em maio, na França) e "A Influência do Jornalismo" (publicado inicialmente em Actes de la Recherche en Sciences Sociales, 101-102, sobre jornalismo) - ambos presentes no original; além destes, foram anexados "Os Jogos Olímpicos" (uma forma resumida de uma comunicação apresentada em Berlim durante o encontro anual da Sociedade Filosófica para o Estudo do Esporte, em 1992) e um "Posfácio", intitulado "O Jornalismo e a Política". Neste, Bourdieu responde aos comentários gerados por seu livro na França, alimentando ainda mais o debate sobre jornalistas, o campo jornalístico e, de certa forma, a relação dos consumidores de informações mediatizadas com os próprios meios de comunicação.
A polêmica em torno do livro leva a pensar que a divulgação de seu conteúdo pelo autor é uma ação estratégica de provocação aos profissionais de imprensa e àqueles que produzem as informações, com o intuito mesmo de gerar discussão e provocar mudanças dentro do próprio campo jornalístico. Nesse sentido, o impacto causado por esse livro faz lembrar - e ele menciona isso - uma outra polêmica envolvendo uma obra sua: a do lançamento de La Misère du Monde (1993), organizado por ele e contendo artigos seus, dentre outros autores, que também se tornou um best-seller e foi amplamente criticado pela impresa francesa.
Ao falar sobre televisão na televisão, com um discurso político e em parte panfletário - apesar de o autor negar isso -, Bourdieu mostra que é possível para esse veículo de comunicação se tornar "um instrumento de democracia direta", em vez de converter-se em um "instrumento de opressão simbólica" (:13). A explicação para os jornalistas contribuírem para esse quadro foi bem explicitada em uma entrevista concedida por ele ao jornal O Globo (14/10/97), por ocasião do lançamento da edição brasileira: os jornalistas viveriam em um estado de "dupla consciência", compartilhando ao mesmo tempo uma visão prática (muitas vezes cínica), em que os profissionais tiram o máximo de proveito das possibilidades que a mídia oferece; e uma visão teórica, "moralizante e carregada de indulgência por eles mesmos".
Logo no início do livro, Bourdieu aponta a importância de se falar na televisão, desde que "sob certas condições". Em seu caso, condições "excepcionais" oferecidas pelo serviço de audiovisual do Collège de France: tempo ilimitado para dizer o que quiser; assunto e modo de abordagem livres. Em suas palavras: "domínio dos instrumentos de produção" (:16). O autor avisa a seus interlocutores que ao falar dessas condições excepcionais já diz algo sobre as próprias condições em que se fala na televisão. A partir daí, critica não somente aqueles que fazem a televisão, mas aqueles que aceitam participar dela, como cientistas, pesquisadores, escritores e os próprios jornalistas. Para ele, trata-se de "se fazer ver e ser visto" na televisão, "uma espécie de espelho de Narciso".
Ao abordar os constrangimentos inerentes ao campo jornalístico, impostos a jornalistas, convidados - e, pode-se pensar, aos espectadores ou leitores dos meios de comunicação -, Bourdieu na verdade discute "uma censura invisível" que permeia a atividade jornalística. Essa censura, do ponto de vista externo, é operada pela concorrência, pelas leis de mercado e pelos índices de audiência, enfim, constitui uma censura econômica, que é também política. Internamente, como uma autocensura, o efeito dessas pressões influencia o comportamento dos próprios jornalistas, que se lêem uns aos outros, têm origens sociais semelhantes, visões de mundo parecidas e buscam atender a expectativas de um (suposto) determinado público. O resultado disso é a produção de informações e abordagens homogêneas. O "espelho de Narciso" torna-se, assim, um instrumento "pouco autônomo", limitado pelas "relações sociais entre os jornalistas, relações de concorrência encarniçada [...], que são também relações de conivência, de cumplicidade objetiva" (:50-51).
A difusão de informações em grande escala pela televisão, Bourdieu atribui, de um lado, à abordagem de "assuntos-ônibus" - temas superficiais que tentam agradar a todos com o intuito de prender a atenção do espectador e aumentar os índices de audiência - e, de outro, ao acesso à "notoriedade pública", "um prêmio capital" para políticos e certos intelectuais. Bourdieu alerta para a tendência da televisão em dominar econômica e simbolicamente o campo jornalístico, fazendo com que os jornais impressos tenham de lutar por sua sobrevivência. Desse modo, fornece uma "agenda" para outros veículos de comunicação, uma vez que um assunto só se torna importante quando abordado pela televisão. Vê-se ocorrer, então, uma "circulação circular da informação" (:73).
Bourdieu discute também que, se de um ponto de vista, o campo jornalístico é um dos que mais sofre influência externa (pressão econômica e dos índices de audiência), de outro, exerce pressão sobre outros campos culturais. Como campo "dominado pela lógica comercial" (:81) impõe, cada vez mais, suas limitações para outras esferas. Como em um efeito cascata, "através da pressão do índice de audiência, o peso da economia se exerce sobre a televisão, e, através do peso da televisão sobre os outros jornais, [...] o jornalismo [...], os jornalistas, que pouco a pouco deixam que problemas de televisão se imponham a eles" (:81).
Para falar da possibilidade de resistência aos efeitos produzidos pelo campo jornalístico, Bourdieu evoca o que ele chama de lei de Jdanov. De acordo com ela, quanto mais restrito o produtor cultural a seus clientes, pelo autor entendido como seus concorrentes, mais autônomo e capaz de resistir à colaboração com os "poderes externos", i.e., "Estado, Igreja, partido e, hoje, jornalismo e televisão" (:90).
A influência do campo jornalístico em outros campos culturais é analisada mais detalhada e tecnicamente em "A Influência do Jornalismo". O autor define o campo jornalístico como o lugar de uma lógica específica, constituída por dois princípios de legitimação: o do reconhecimento dos jornalistas pelos pares (por intermédio do conhecimento dos princípios internos ao campo) e o da maioria (materializada no número de leitores, ouvintes ou espectadores, i.e., nas vendas e seus lucros).
Nesse texto, Bourdieu analisa os mecanismos próprios ao campo e o que chama de "efeitos da intrusão" (:109). Estes dizem respeito à influência em outros campos e o que ela gera: perda de autonomia, sendo que aqueles mais afetados pela lógica comercial - porque possuem menor "capital específico (científico, literário, etc.)" - são os mais influenciados pelo campo jornalístico. O produtor cultural seria, então, o principal responsável por tais interferências, uma vez que circula entre o campo jornalístico e outro campo específico.
Em um "Pequeno Post-Scriptum Normativo", Bourdieu justifica sua intenção com a publicação de "A Influência...": propor um "programa de ação" entre "artistas, escritores, cientistas e jornalistas", para os "detentores do (quase) monopólio dos instrumentos de difusão", a fim de que aumente a divulgação das "contribuições mais universais da pesquisa" e o acesso a esses dados (:117).
Chegando ao final de Sobre a Televisão, temos "Jogos Olímpicos" e "Posfácio". O primeiro, uma brevíssima análise dos Jogos Olímpicos enquanto um evento mundial, constituindo mais um roteiro preliminar com pistas para aquele que escolhe o tema como objeto. Sua inclusão no livro justifica-se devido à relação que o autor estabelece entre os Jogos Olímpicos e a imprensa mundial, que transforma um acontecimento esportivo em um espetáculo. Para o leitor, porém, fica a sensação de frustração, quando se faz uma comparação entre as outras partes do livro e esta superficial comunicação de 1992.
Já o "Pósfacio" funciona como uma resposta à crítica dos jornalistas ao livro original, onde aparentemente tenta esclarecer seus objetivos com a divulgação de sua análise. E exprimindo uma falsa surpresa, pergunta: "Como explicar a extrema violência das reações que a análise que se acaba de ler provocou nos jornalistas franceses mais destacados?" (:131). A esta indagação, Bourdieu responde que os jornalistas sofreram o "efeito da transcrição" - próprio a esses profissionais -, em que a escrita das palavras faz desaparecer artifícios usados para compreender e convencer (lembre-se que Sobre a Televisão fez parte de uma comunicação originalmente oral, filmada). Além disso, o autor destaca a tendência dos jornalistas a se interessarem mais pelas supostas "conclusões" do que pelo caminho a que se chega a elas.
O "Posfácio" traz ainda, e talvez por se esperar isso do autor, outras críticas. Dentre elas, a de que a imprensa, com sua lógica de valorizar o novo e o importante, em detrimento das pequenas mudanças cotidianas, contribuiria para construir uma "visão des-historicizada e des-historicizante" (:140) do mundo. O limite disso residiria no encontro entre o cinismo dos produtores de televisão e o dos espectadores.
Revista Mana
Silvia Nogueira
Mestre, PPGAS-MN-UFRJ
A leitura de Sobre a Televisão permite compreender os motivos que levaram o original a ocupar, simultaneamente, duas listas na França: uma, a dos best-sellers; outra, a dos livros mais polêmicos e comentados pela imprensa francesa em 1997. Unindo um estilo crítico agudo, em que questões são abordadas de uma forma direta e profunda, a um método claro de exposição dos argumentos, o autor faz uma análise dos diversos mecanismos de censura e constrangimentos próprios ao que ele denomina campo jornalístico.
Ao longo do livro, particularmente no texto que dá título à obra e em "A Influência do Jornalismo", Bourdieu aborda questões essenciais para aqueles que estudam a imprensa, os jornalistas ou o próprio campo profissional. Sua análise abandona a explicação corrente de que uma determinada ideologia dos dirigentes dos meios de comunicação é a principal responsável pelo que é produzido pela imprensa. Ao contrário, procura mostrar as diversas variáveis que influenciam o campo jornalístico e os elementos e regras próprios a esse meio profissional.
Para o autor, existem restrições externas (pressão econômica e obsessão pelos índices de audiência) e internas (necessidade de reconhecimento dos jornalistas por seus pares, submissão ao tempo de realização da tarefas e busca incessante pelo furo de reportagem) que fazem com que ocorra um esvaziamento político do que é veiculado, e a conseqüente despolitização dos consumidores de informações (telespectadores ou leitores).
Nessa edição brasileira, uma tradução da 6a edição francesa acrescida de mais dois textos, encontra-se "Sobre a Televisão" (uma transcrição revista e corrigida da gravação de dois programas realizados em março de 1996 durante alguns cursos do Collège de France e difundida pela televisão, em maio, na França) e "A Influência do Jornalismo" (publicado inicialmente em Actes de la Recherche en Sciences Sociales, 101-102, sobre jornalismo) - ambos presentes no original; além destes, foram anexados "Os Jogos Olímpicos" (uma forma resumida de uma comunicação apresentada em Berlim durante o encontro anual da Sociedade Filosófica para o Estudo do Esporte, em 1992) e um "Posfácio", intitulado "O Jornalismo e a Política". Neste, Bourdieu responde aos comentários gerados por seu livro na França, alimentando ainda mais o debate sobre jornalistas, o campo jornalístico e, de certa forma, a relação dos consumidores de informações mediatizadas com os próprios meios de comunicação.
A polêmica em torno do livro leva a pensar que a divulgação de seu conteúdo pelo autor é uma ação estratégica de provocação aos profissionais de imprensa e àqueles que produzem as informações, com o intuito mesmo de gerar discussão e provocar mudanças dentro do próprio campo jornalístico. Nesse sentido, o impacto causado por esse livro faz lembrar - e ele menciona isso - uma outra polêmica envolvendo uma obra sua: a do lançamento de La Misère du Monde (1993), organizado por ele e contendo artigos seus, dentre outros autores, que também se tornou um best-seller e foi amplamente criticado pela impresa francesa.
Ao falar sobre televisão na televisão, com um discurso político e em parte panfletário - apesar de o autor negar isso -, Bourdieu mostra que é possível para esse veículo de comunicação se tornar "um instrumento de democracia direta", em vez de converter-se em um "instrumento de opressão simbólica" (:13). A explicação para os jornalistas contribuírem para esse quadro foi bem explicitada em uma entrevista concedida por ele ao jornal O Globo (14/10/97), por ocasião do lançamento da edição brasileira: os jornalistas viveriam em um estado de "dupla consciência", compartilhando ao mesmo tempo uma visão prática (muitas vezes cínica), em que os profissionais tiram o máximo de proveito das possibilidades que a mídia oferece; e uma visão teórica, "moralizante e carregada de indulgência por eles mesmos".
Logo no início do livro, Bourdieu aponta a importância de se falar na televisão, desde que "sob certas condições". Em seu caso, condições "excepcionais" oferecidas pelo serviço de audiovisual do Collège de France: tempo ilimitado para dizer o que quiser; assunto e modo de abordagem livres. Em suas palavras: "domínio dos instrumentos de produção" (:16). O autor avisa a seus interlocutores que ao falar dessas condições excepcionais já diz algo sobre as próprias condições em que se fala na televisão. A partir daí, critica não somente aqueles que fazem a televisão, mas aqueles que aceitam participar dela, como cientistas, pesquisadores, escritores e os próprios jornalistas. Para ele, trata-se de "se fazer ver e ser visto" na televisão, "uma espécie de espelho de Narciso".
Ao abordar os constrangimentos inerentes ao campo jornalístico, impostos a jornalistas, convidados - e, pode-se pensar, aos espectadores ou leitores dos meios de comunicação -, Bourdieu na verdade discute "uma censura invisível" que permeia a atividade jornalística. Essa censura, do ponto de vista externo, é operada pela concorrência, pelas leis de mercado e pelos índices de audiência, enfim, constitui uma censura econômica, que é também política. Internamente, como uma autocensura, o efeito dessas pressões influencia o comportamento dos próprios jornalistas, que se lêem uns aos outros, têm origens sociais semelhantes, visões de mundo parecidas e buscam atender a expectativas de um (suposto) determinado público. O resultado disso é a produção de informações e abordagens homogêneas. O "espelho de Narciso" torna-se, assim, um instrumento "pouco autônomo", limitado pelas "relações sociais entre os jornalistas, relações de concorrência encarniçada [...], que são também relações de conivência, de cumplicidade objetiva" (:50-51).
A difusão de informações em grande escala pela televisão, Bourdieu atribui, de um lado, à abordagem de "assuntos-ônibus" - temas superficiais que tentam agradar a todos com o intuito de prender a atenção do espectador e aumentar os índices de audiência - e, de outro, ao acesso à "notoriedade pública", "um prêmio capital" para políticos e certos intelectuais. Bourdieu alerta para a tendência da televisão em dominar econômica e simbolicamente o campo jornalístico, fazendo com que os jornais impressos tenham de lutar por sua sobrevivência. Desse modo, fornece uma "agenda" para outros veículos de comunicação, uma vez que um assunto só se torna importante quando abordado pela televisão. Vê-se ocorrer, então, uma "circulação circular da informação" (:73).
Bourdieu discute também que, se de um ponto de vista, o campo jornalístico é um dos que mais sofre influência externa (pressão econômica e dos índices de audiência), de outro, exerce pressão sobre outros campos culturais. Como campo "dominado pela lógica comercial" (:81) impõe, cada vez mais, suas limitações para outras esferas. Como em um efeito cascata, "através da pressão do índice de audiência, o peso da economia se exerce sobre a televisão, e, através do peso da televisão sobre os outros jornais, [...] o jornalismo [...], os jornalistas, que pouco a pouco deixam que problemas de televisão se imponham a eles" (:81).
Para falar da possibilidade de resistência aos efeitos produzidos pelo campo jornalístico, Bourdieu evoca o que ele chama de lei de Jdanov. De acordo com ela, quanto mais restrito o produtor cultural a seus clientes, pelo autor entendido como seus concorrentes, mais autônomo e capaz de resistir à colaboração com os "poderes externos", i.e., "Estado, Igreja, partido e, hoje, jornalismo e televisão" (:90).
A influência do campo jornalístico em outros campos culturais é analisada mais detalhada e tecnicamente em "A Influência do Jornalismo". O autor define o campo jornalístico como o lugar de uma lógica específica, constituída por dois princípios de legitimação: o do reconhecimento dos jornalistas pelos pares (por intermédio do conhecimento dos princípios internos ao campo) e o da maioria (materializada no número de leitores, ouvintes ou espectadores, i.e., nas vendas e seus lucros).
Nesse texto, Bourdieu analisa os mecanismos próprios ao campo e o que chama de "efeitos da intrusão" (:109). Estes dizem respeito à influência em outros campos e o que ela gera: perda de autonomia, sendo que aqueles mais afetados pela lógica comercial - porque possuem menor "capital específico (científico, literário, etc.)" - são os mais influenciados pelo campo jornalístico. O produtor cultural seria, então, o principal responsável por tais interferências, uma vez que circula entre o campo jornalístico e outro campo específico.
Em um "Pequeno Post-Scriptum Normativo", Bourdieu justifica sua intenção com a publicação de "A Influência...": propor um "programa de ação" entre "artistas, escritores, cientistas e jornalistas", para os "detentores do (quase) monopólio dos instrumentos de difusão", a fim de que aumente a divulgação das "contribuições mais universais da pesquisa" e o acesso a esses dados (:117).
Chegando ao final de Sobre a Televisão, temos "Jogos Olímpicos" e "Posfácio". O primeiro, uma brevíssima análise dos Jogos Olímpicos enquanto um evento mundial, constituindo mais um roteiro preliminar com pistas para aquele que escolhe o tema como objeto. Sua inclusão no livro justifica-se devido à relação que o autor estabelece entre os Jogos Olímpicos e a imprensa mundial, que transforma um acontecimento esportivo em um espetáculo. Para o leitor, porém, fica a sensação de frustração, quando se faz uma comparação entre as outras partes do livro e esta superficial comunicação de 1992.
Já o "Pósfacio" funciona como uma resposta à crítica dos jornalistas ao livro original, onde aparentemente tenta esclarecer seus objetivos com a divulgação de sua análise. E exprimindo uma falsa surpresa, pergunta: "Como explicar a extrema violência das reações que a análise que se acaba de ler provocou nos jornalistas franceses mais destacados?" (:131). A esta indagação, Bourdieu responde que os jornalistas sofreram o "efeito da transcrição" - próprio a esses profissionais -, em que a escrita das palavras faz desaparecer artifícios usados para compreender e convencer (lembre-se que Sobre a Televisão fez parte de uma comunicação originalmente oral, filmada). Além disso, o autor destaca a tendência dos jornalistas a se interessarem mais pelas supostas "conclusões" do que pelo caminho a que se chega a elas.
O "Posfácio" traz ainda, e talvez por se esperar isso do autor, outras críticas. Dentre elas, a de que a imprensa, com sua lógica de valorizar o novo e o importante, em detrimento das pequenas mudanças cotidianas, contribuiria para construir uma "visão des-historicizada e des-historicizante" (:140) do mundo. O limite disso residiria no encontro entre o cinismo dos produtores de televisão e o dos espectadores.
Revista Mana
Nenhum comentário:
Postar um comentário