quarta-feira, 23 de maio de 2012

Por Uma Geografia Nova


Ruy Moreira
Quando lança em 1978 Por Uma Geografia Nova (da crítica da geografia a uma geografia crítica), Milton Santos proclama a necessidade de uma teoria social na Geografia. Em 1996, oferece-nos essa teoria social em A Natureza do Espaço (técnica e tempo. razão e emoção). Nesses 18 anos, toda uma progressão em livros, coletâneas, ensaios que avançam esse intuito: Por uma Geografia Nova se
desdobra no Metamorfoses do Espaço Habitado (fundamentos teóricos e metodológicos da geografia), de 1988, já antes passando pelo Pensando o Espaço do Homem, de 1982, e Espaço & Método, de 1985,  e desemboca no Técnica, Espaço, Tempo (globalização e meio técnico-científico e informacional), de 1994, que antecipa A Natureza da Geografia.
Com risco de reduzi-la ao essencial, não erraria em dizer que a teoria do espaço de Milton Santos fundamentalmente é uma teoria do lugar.
Por Uma Geografia Nova contém os elementos do corpus que se oferece desenvolvido em A Natureza do Espaço. O espaço como histórico produzido, instância estrutural da totalidade, mediação determinada-determinante da história, são noções básicas do livro de 1978, que se robustecem e ganham o estatuto do edifício teórico no livro de 1996. A novidade corre por conta do papel crescente que a técnica, mas, sobretudo, o território, na sua relação ontológica com o espaço (o território é entendido como uma dimensão do espaço) e interativa com a técnica, vão adquirir na trajetória da teoria do espaço enquanto uma teoria social de Milton Santos.
Por outro lado, a teoria social exposta em A Natureza do Espaço é uma teoria da ação. O espaço é o resultado da ação e objeto articulados, potência e ato dialeticamente integrados num sistema (palavra perigosa). Não se trata de uma teoria da ação pura. A ação exprime-se e se realiza no objeto. O objeto tem autonomia de existência, mas não tem autonomia de significação. O que ele é, vem das diferentes
relações que mantém com o todo. A ação é quem lhe dá essa ligação e sentido, dado o seu caráter de intencionalidade, uma essencialidade portada pela técnica na forma da divisão do trabalho e que liga ação e objeto numa relação de sujeito-objeto.
Condição epistêmica, Milton Santos reolha por conseguinte a técnica, ao tempo que geograficamente a reinventa. Mais que artefato ou mediação na relação homem-meio, a técnica é em Milton Santos o processo constitutivo do território, técnica e território vivendo uma relação recíproca de constituição. Não há território sem ação técnica, e não há técnica fora de um território. Daí que a técnica só exista
como meio-técnico.
A inflexão dialética é o movimento de diversificação da natureza, processo mediante o qual a natureza se renova pela modificação dos seus aspectos, renovando sua identidade, e à qual o homem superpõe a divisão do trabalho (natureza natural e natureza socializada do livro de 1978, reinventadas no de 1996). A totalidade tão buscada pelo geógrafo é não mais então que uma dialética de diversidade-unidade, onde cada modo de diversificação sucede um outro modo de diversificação, a diversidade se resolvendo na unidade e a unidade se reabrindo na diversidade, numa dialética de trocas de posição constantes sobre a qual a ação humana intervém e cujo resultado é o lugar.
O lugar é, assim, o ponto do recorte territorial por cujo intermédio a pluralidade total dos elementos encontra sua síntese. E sobre cujo suporte a técnica determinase como território e o território determina-se como técnica, território e técnica integralizando-se num meio técnico (expressão que sugere um feliz resgate do gênero de vida de La Blache, numa ótica ao mesmo tempo clássica e nova da relação homem-meio).
Síntese onde o objeto ganha significação (deixa de ser coisa, dado da natureza, e vira objeto, dado da história humana), o lugar reúne-se aos outros lugares e vê no seu conteúdo e interior definir-se o processo da produção técnica do espaço.
Desse modo, a história do espaço coincide e se revela na história da técnica, e vice-versa, cada mudança na divisão do trabalho presenciando a recriação do espaço.
De início, a técnica exprime-se como meio técnico, estágio em que é um prolongamento do corpo e potencialidade da ação imediata dos homens. Mais adiante, já num estado da dimensão econômica ampliado sobretudo no plano da esfera da circulação, evolui para tornar-se um meio técnico-científico. Por fim, chega aos dias de hoje, o tempo do espaço construído como uma universalidade empírica, e tornase meio técnico-científico e informacional.
Cada etapa conhece um lugar. Assim, do lugar do meio técnico ao lugar do meio técnico-científico e informacional, a configuração geográfica evolui do espaço singular ao espaço recortado na fragmentação da horizontalidade e verticalidade do mundo global de hoje.
A teoria do espaço afirma-se então como uma teoria do lugar. Um discurso capaz de recuperar a dialética das interações, desaparecida na síntese das velhas teorias do espaço genérico ou ilhado da teoria regional; rejuvenescer o imenso repertório vocabular perdido na dissolução das identidades (espaço, escala, distâncias são verbetes que nem mais fazem parte dos dicionários de geografia, migrados para os dicionários de cartografia, onde tão somente aparecem); e retomar com sucesso o velho projeto de unir numa só idéia-força sociedade e natureza como discurso teórico da ação geográfica.
Fortemente influente nas pesquisas entre os geógrafos da chamada vertente humana, a teoria da ação de Milton atingirá cedo ou tarde aqueles que voltados para a chamada geografia física carecem da visão unitária dos próprios processos naturais, e ainda não descobriram-na na categoria totalizadora do lugar. Tal como Milton Santos a propõe e entende. Ao menos, oferece ao bom debate.
(Ruy Moreira)
http://www.uff.br/geographia

domingo, 20 de maio de 2012

Os sete pontos-chave de quem se destaca sempre



João Paulo Meira Marinho (Geógrafo licenciado  pela Universidade Federal de Mato Grosso - UFMT) 
I - OBRA 
GARCIA, Luiz Fernando. Pessoas de Resultado: Os sete pontos-chave de quem se destaca sempre. São Paulo: Editora Gente, 2003. 
II - CREDENCIAIS DA AUTORIA 
Luiz Fernando Garcia é formado em Administração de  Empresas, com especialização em Mercadologia e psicólogo ainda em formação. No âmbito internacional, além de uma qualificação específica na área de relações humanas na Itália, é credenciado pela ONU (Organizações das Nações Unidas) para o desenvolvimento de educadores de empreendedores, donos de negócios e dirigentes de empresas no Brasil. foi desenvolvedor, em 1997 da 1ª matriz curricular do empreendedorismo no Brasil, registrada no MEC. Treinou e capacitou todos os agentes envolvidos no desenvolvimento da Metodologia EMPRETEC no Brasil e na América Latina, nos anos de 1999 a 2002. Além disso, é empresário do ramo de confecções e da área de treinamento, há doze anos com duas empresas. 
III - CONCLUSÕES DA AUTORIA 
O autor, produziu um livro, muito prático, embasado em experiências vividas e em estudos feitos principalmente a partir de entrevistas. Ele  primeiramente transmite ao leitor, uma rápida revisão de sua vida no pensamento, de forma clara e nítida. A partir desse flashback, o individuo passa a reconhecer o que passou a de maléfico e benéfico em sua vida. È a partir dessa revisão, que o leitor poderá traçar novos parâmetros para sua vida. Além disso, busca- se uma reflexão sobre o que faz uma pessoa dar errado (título do capítulo 2 de seu livro), onde ele aborda aspectos como a chamada arrogância da certeza, características adotada por pessoas de negócio, que nada mais são que a extensão de seus egos. Com base no que faz uma pessoa dar errado, e buscando características comuns as individuas de 
Sucesso; pessoas empreendedoras, o autor identifica sete pontos chaves que devem ser adotados e praticados; pelas pessoas que buscam resultados positivos em suas vidas, que buscam o sucesso. Esses pontos- chaves são: Visualização, que é o ato de ver aquilo que se deseja. Visualizar seu futuro, seu desejo, com todos os detalhes; com todas as medidas; numa escala de tempo mensurável. Além disso, o medo (de que algo dê errado) deve existir para forçar o indivíduo a buscar cada vez mais o objeto desejado.Desafio. Esse é parte inerente às operações mentais dos homens que se destacam em tudo. Os desafios devem ser vistos como estímulos à conquistas. È preciso aceitar os desafios para sair vitorioso. 
Manutenção do foco. Tão importante quanto os pontos anteriores, manter o foco, significa se manter no caminho, até chagar ao propósito desejado.Criação de Mapas de Percurso. 
Para se chagar ao propósito desejado, é necessário traçar objetivos a serem alcançados, formando uma espécie de mapa. E a arte de planejar o caminho. Expectância e Drive. Trata-se de alimentar a expectativa em torno do objetivo  ou situação desejada. Tolerância à ambigüidade e à incerteza. Significa não temer a incerteza e o ERRO. O medo de errar é o que pode levar a pessoa ao insucesso. Desta maneira não se deve ter medo do erro, mas encará-lo como aprendizado. Além de tudo isso, o último ponto -chave, exige que nos reforcemos sempre que conquistamos algo. È este reforço que garante a melhora na autoestima. No final de seu livro, o autor apresenta uma série  de exercícios que buscam alcançar os resultados desejados pelo leitor. 
O Livro é um excelente auxílio, aos que buscam a leitura de um material simples, sem o uso de termos técnicos complicados e que apresenta uma metodologia eficaz e bastante prática. 
Leitura recomendada.
(Diagramação: Thays B. Marinho)
http://www.visaogeografica.com

Pensamento e linguagem



01. O ATO DE PENSAR E A INFLUÊNCIA NA LINGUAGEM
POR: João Paulo Meira Marinho (Geógrafo licenciado  pela Universidade Federal de Mato Grosso - UFMT) 
I - OBRA 
VYGOTSKY, L. S. "Pensamento e linguagem". São Paulo: Martins Fontes, 1996 
II - CREDENCIAIS DA AUTORIA 
Nascido em novembro de 1896, em Orsha, próximo à Mensk - capital de Bierlarus, país da antiga União Soviética, Liev Semiónovitch Vigotsky viveu grande parte de sua vida com a família em Gomel. Era Judeu, segundo filho de oito irmãos. Desde muito cedo interessou-se por várias áreas, organizando grupos  de estudos aprendendo vários idiomas. Estudou direito na Universidade de Moscou  (1913), freqüentou cursos de História e Filosofia na Universidade Popular de Shanyavskii; estudou medicina (em Moscou e Kharkov) pois queria compreender o funcionamento psicológico do homem. 
Como professor e pesquisador, trabalhou em diversas áreas: psicologia, pedagogia, filosofia, literatura, deficiência física e mental. Morreu aos 38 anos, vítima de tuberculose. 
III - CONCLUSÕES DA AUTORIA 
O livro em destaque, condensa uma teoria original e bem fundamentada do desenvolvimento intelectual, sendo também uma teoria da educação. Estruturalmente, ele não é muito bem organizado (talvez por ter sido preparado às pressas) o que o torna um tanto difícil à compreensão imediata de sua unidade interna essencial. 
Algumas discussões são repetidas quase que palavra  por palavra em capítulos diferentes, sendo que às vezes isto ocorre no mesmo capítulo. O tema central de discussão do livro é um dos mais complexos problemas da psicologia: a inter-relação entre pensamento e linguagem. 
Dividido em sete capítulos, aborda primeiro: a questão do problema (objeto) e o método, onde Vygotsky afirma que existem dois métodos de análise: a primeira que analisa os todos psicológicos complexos em elementos componentes, ou seja, separando os componentes para estudá-los um a um. O segundo método (apontado pelo autor como o correto), analisa os todos psicológicos complexos, em unidades. 
Neste caso, os componentes conservam todas as características do todo, não podendo ser dividido. O segundo e terceiro capítulo são análises críticas de duas das mais importantes teorias sobre o desenvolvimento da linguagem e do pensamento: a de PIAGET e a de STERN. O quarto capítulo discute as raízes genéticas do pensamento e da linguagem. No quinto capítulo, é tratado a evolução geral do desenvolvimento dos significados das palavras na infância. O penúltimo  capítulo (número seis), apresenta um estudo comparativo do desenvolvimento dos conceitos "científicos" e do conceitos 
espontâneos da criança. Finalmente no último capítulo, cujo título é também o do livro (Pensamento e Linguagem) é apresentado os diferentes resultados das investigações e experimentos do autor, bem como o processo total do pensamento verbal. à seguir algumas conclusões do autor. 
Assim como no reino animal, para o ser humano, pensamento e linguagem têm origens diferentes. Inicialmente, o pensamento não  é verbal e a linguagem não é intelectual. Suas trajetórias de desenvolvimento, entretanto, não são paralelas. Elas cruzam-se em dado momento (cerca de 02 anos de idade). Neste período, as curvas de desenvolvimento do pensamento e da linguagem, encontram-se para a partir daí dar início à uma nova forma de comportamento. É a partir desse ponto que o 
pensamento começa a se tornar verbal e a linguagem passa a ser tornar-se racional. Inicialmente a criança aparenta usar a linguagem apenas para interação superficial em seu convívio, mas a partir de certo ponto, esta linguagem penetra o subconsciente para se constituir na estrutura de pensamento da criança. 
Além disso, a partir do momento que a criança descobre que tudo tem um nome, cada novo objeto que surge representa um problema que a  criança resolve atribuindo-lhe um nome. Quando lhe falta a palavra para nomear este novo objeto, a criança recorre ao adulto. Esses significados básicos de palavras assim adquiridos funcionarão como embriões para a formação de novos e mais complexos  conceitos. De acordo com Vygotsky, todas as atividades cognitivas básicas do indivíduo ocorrem de acordo com sua história social e acabam se constituindo no produto do desenvolvimento históricosocial de sua comunidade. Portanto, as habilidades  cognitivas e as formas de estruturar o pensamento do indivíduo não são determinadas por fatores congênitos. 
São, isto sim, resultados das atividades praticadas de acordo com os hábitos sociais da cultura em que o indivíduo se desenvolve; conseqüentemente, a história da sociedade na qual a criança se desenvolve e a história pessoal dessa criança são fatores cruciais que vão determinar sua forma de pensar. Nesse processo de desenvolvimento cognitivo, a linguagem tem papel crucial na determinação de como a criança vai aprender a pensar, uma vez que formas avançadas de pensamento são transmitidas à criança através de palavras. Para Vygotsky, um claro entendimento das relações entre pensamento e língua é necessário para que se entenda o processo de desenvolvimento intelectual. Linguagem não é apenas uma expressão do conhecimento adquirido pela criança. Existe uma inter-relação fundamental entre pensamento e linguagem: um proporcionando recursos ao outro. Desta forma a linguagem tem papel essencial na formação do pensamento e do caráter do indivíduo. 
Desta maneira, posso concluir que a obra analisada mostra-nos não um caminho único e imutável a ser seguido para melhor compreendermos a linguagem e o pensamento, mas sim uma proposta a mais para aprimorarmos e desvendarmos esses dois elos complexos da vida do homem. O autor apresenta-nos conceitos, a partir de estudos já abordados (como o de Piaget), de que a criança deve ser vista como ela própria e não como um adulto em miniatura e que por isso temos que observá-la, escutá-la e 
compreendê-la na fase real em que se encontra e não como um "clone minimizado" a caminho da extensão intelectiva adulta. Além disso, ele não se opõe de todo às psicologias existentes antes ou depois de suas análises; não descarta o todo, nem enfatiza especificamente um outro todo. Ao contrário, acresce-nos uma nova perspectiva que em nossos dias deve ser levada em consideração: pensamento e linguagem têm e precisa de uma significação própria. O que fica de muito importante, 
é o fato de que devemos buscar captar através da riqueza de ensinamentos, que o "mundo" infantil pode nos proporcionar um direcionamento e experimentos interrelacionais mais promissores, plausíveis, empreendedores e eficazes no dia-dia desse "mundo" adulto e inteligível em constante mutação. 
(Esta resenha foi apresentada à professora Ms. Antonia Ieda Delfine, ministrante da disciplina: Prática de Ensino II, no ano de 2003)

Geografia: Conceitos e Temas



João Paulo Meira Marinho (Geógrafo e professor licenciado pela Universidade Federal de Mato Grosso - UFMT)
I - OBRA
CORRÊA, Roberto Lobato. Et al. "Geografia: Conceitos e Temas". 2ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000 
- Pag. 15 a 29.
II - CREDENCIAIS DA AUTORIA
Roberto Lobato Corrêa é professor titular do Departamento de Geografia da Universidade Federal do rio de Janeiro. Trabalhou no IBGE e possui várias obras publicadas com base na organização do espaço.
III - CONCLUSÕES DA AUTORIA

O autor discute em seu texto os conceitos de espaço, considerando as diversas correntes do pensamento geográfico. Ele ressalta que a geografia como ciência social tem como objeto de estudo a sociedade, que para ser entendida utiliza-se de conceitos chave como paisagem, região, espaço, lugar e território. Todos esses conceitos, sempre consideram a ação do homem sobre a superfície terrestre. Desta forma, o "espaço" define-se nas diferentes escalas de tempo, sendo estes períodos separados em: a) ESPAÇO E GEOGRAFIA TRADICIONAL, que é um conjunto de idéias que se estende de 1870 à aproximadamente 1950. Neste período privilegia-se os conceitos de paisagem e região discutindo-se sobre o objeto da Geografia e sua identidade. Os debates incluíam conceitos de paisagem, paisagem-cultural, gênero de vida, diferenciação e áreas. Apesar do espaço não se constituir conceito  chave, ele aparece nas obras de Ratzel e Hartshorne, sendo visto como algo indispensável à vida do homem (Ratzel). Este defende ainda os concetos de território e espaço vital, afirmando que o espaço transforma-se em território, através da política. Para Hartshorne, o espaço é visto como "absoluto", sendo um conjunto de pontos que existem, sendo independentes de qualquer coisa. Segundo ele, é tarefa do geógrafo descrever e analisar as interações entre os objetos que compõe o espaço. b) ESPAÇO E GEOGRAFIA TEORÉTICO-QUANTITATIVA. Esta corrente se passa a partir de
1950, período de profundas transformações no pensamento geográfico. Esta passa a ser considerada como ciência social, e o período é marcado pela construção dos modelos, entre eles matemáticos para a comprovação do raciocínio hipotético-dedutivo. O espaço passa a ser conceito chave da disciplina, sendo considerado sob dois aspectos: 1º Planície Isotrópica: Construção teórica, admitindo-se uma planície uniforme, tanto quanto à geomorfologia, clima, cobertura vegetal e ação antrópica. Sob esta planície de lugares iguais, desenvolvem-se ações e mecanismos econômicos que levam à diferenciação do espaço. Nesta planície, a variável mais importante é a Distãncia. 2º Representação Matricial e Topológica: São meios operacionais que nos permitem extrair um conhecimento sobre localizações, fluxos e hierarquia, bem como especializações funcionais. São vários os modelos concebidos sobre a organização espacial e as transformações ocorridas nele. Tais modelos forneciam pistas e indicações relevantes para a compreensão crítica da sociedade nas escalas: temporal e espacial. c) ESPAÇO E GEOGRAFIA CRÍTICA. Ambientada na década de 70, a geografia crítica procura romper com as duas correntes antes menionadas. Neste período, o espaço reaparece como conceito chave. Em Marx, por  exemplo, discute-se se o espaço está presente ou ausente e ainda qual a natureza e o significado do espaço. Este período foi muito importante para o geógrafo moderno, pois faz com que o mesmo repense as noções de espaço. Segundo Henri Lefebvre, o espaço deve ser entendido como espaço social, não devendo ser visto como espaço absoluto. Não deve ser um instrumento político, campo de ações de produção. Com esta concepção este autor marca profundamente o espaço de discussão para os geógrafos. Outros geógrafos como o brasileiro Milton Santos se inspiraram neste autor para desenvolver seus conceitos. Milton Santos, define que o espaço deve ser analisado a partir de 04
categorias: 1) FORMA: é o espaço visível exterior de um objeto, isolado ou como um conjunto de objetos formando um padrão espacial (ex. uma casa, um bairro, etc). 2) PROCESSO: Refere-se à uma ação que se realiza de modo contínuo, visando um resultado qualquer implicando tempo e mudança. 3) FUNÇÃO: é definido como uma tarefa, atividade ou papel a ser desempenhado pelo objeto criado. Ex. habitar, trabalho, etc. 4) ESTRUTURA: diz respeito à natureza social e econômica de uma sociedade em um dado momento do tempo. É onde as formas e funções são criadas. Todas estas características devem ser analisadas de forma conjunta, pois uma está intimamente ligada à outra. d) ESPAÇO E GEOGRAFIA HUMANISTA E CULTURAL.
Esta é baseada nas filosofias do significado, especialmente a fenomenologia e o existencialismo. É uma crítica à Geografia lógico-positivista. Assenta-se na subjetividade, na instituição, nos sentimentos, na experiência, no simbolismo, privilegiando o singular e não o particular ou o universal. Revaloriza-se o conceito de paisagem.

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sábado, 19 de maio de 2012

O Africano


MEMÓRIAS DA ÁFRICA: A INFÂNCIA NA NIGÉRIA
                                                     Antonio Carlos Petean
1
                                                                                      
“O Africano”, de J. M. G. Le Clézio, é uma obra baseada nas memórias do autor. 
Memórias de sua infância na Nigéria, na região de Ogoja, sob  o  domínio do império colonial inglês. Império que começou a ser consolidado em 1660 com  a criação de entrepostos de captação de escravos para as colônias americanas. Mas foi somente no século XVIII (1787)  que a Inglaterra apossou-se de territórios entre o rio Gâmbia e a Nigéria, dando início ao projeto colonial britânico na África. O colonialismo britânico no continente africano teve fim em 18 de abril de 1980, quando a Inglaterra e a Organização das Nações Unidas (ONU) reconheceram oficialmente a independência do Zimbábue.
O livro, dividido em sete partes, é constituído das lembranças do escritor de quando foi viver com o pai na África, após a  Segunda  Guerra  Mundial. O seu  pai era médico-oficial do exército inglês e chegou à Nigéria em 1928. 
O autor, entretanto, chegou à África em 1948, com sua mãe e irmão. Unidos ao pai, foram viver  distante da administração colonial inglesa. “O trabalho que meu pai fazia, primeiro em Camarões, depois na Nigéria, criava uma situação excepcional. A maioria dos ingleses lotados na colônia exercia funções administrativas” (LE CLÉZIO, 2007, p. 16). 
Segundo Le Clézio, os militares, juízes e oficiais de distrito da administração colonial concentravam suas atividades próximo ao litoral, mas o seu pai estava baseado num antigo hospital religioso no norte da província de Cross River, na região de Ogoja. Portanto, segundo o escritor: “Nós, meu irmão e eu, éramos as únicas crianças brancas de toda aquela região. Não conhecemos nada do que foi capaz de forjar a identidade um pouco caricaturesca das crianças criadas nas colônias” (LE CLÉZIO, 2007, p. 17).
Ele descreve a humanidade com que conviveu nesse período. Uma humanidade constituída, unicamente, de iorubas e ibos. 
Suas memórias dão o tom dessa obra. No início, Le Clézio descreve as primeiras sensações que teve ao entrar em contato com a África. Sensações que o fizeram esquecer dos duros anos em que viveu em Nice, na França, escondido num apartamento durante a Segunda Guerra Mundial, cujas únicas recordações são o barulho das bombas caindo sobre a cidade, o tráfico, a falta de alimentos e medicamentos e as mentiras.
Na África, o autor relata que suas sensações se multiplicaram, sensações de liberdade. Essa multiplicação, nas suas palavras, seria motivada pela nova humanidade que estava diante dele e da qual fez parte. Uma humanidade visível nos corpos africanos à sua volta. Tudo muito estranho para um garoto europeu. “Na África, a falta de pudor dos corpos era magnífica. Dava profundidade, dava alcance, multiplicava as sensações, estendia a minha volta uma rede humana” (LE CLÉZIO, 2007, p. 9). 
Desse tempo, por assim dizer consecutivamente, data o aparecimento dos corpos. Meu corpo, o corpo de minha mãe, o corpo de meu irmão, o corpo dos garotos da vizinhança com os quais eu brincava, o corpo das mulheres africanas nos caminhos, ao redor da casa, ou então no mercado, perto do rio. Sua estatura, seus seios pesados, a pele luzente de suas costas. O sexo dos garotos, sua glande circuncisa. (LE CLÉZIO, 2007, p. 8). 


Os corpos, segundo os relatos, são a alteridade que lhe causa a primeira sensação de 
liberdade e estranhamento na infância em Ogoja.
No decorrer da obra, Le Clézio deixa transparecer que as sensações que sentia eram 
também confrontadas com as crenças africanas. Relata que uma de suas principais 
brincadeiras era destruir cupinzeiros, comparados pelo autor a torres de castelo. 
Devemos ter começado jogando pedras, para sondar, para escutar o 
barulho que elas faziam ao bater nos cupinzeiros. A pauladas, 
atacávamos depois as torres altas, para ver a terra esfarinhada ruir, para 
expor à luz as galerias e os bichos cegos que viviam lá dentro. (LE 
CLÉZIO, 2007, p. 25). 
Nas suas palavras, “pode ser que desse modo rejeitássemos a autoridade excessiva 
de nosso pai, revidando golpe com golpe através de nossas pauladas” (LE CLÉZIO, 2007, 
p. 26).
O escritor conta que os garotos africanos da aldeia nunca os acompanhavam nessa raiva demolidora, 
[...] já que o mundo no qual eles viviam os cupins eram algo que se impunha, tendo um papel a representar nas lendas. No começo do mundo, o deus-cupim tinha criado os rios, e era ele o guardião das águas para os habitantes da terra. Por que então destruir sua morada? (LE CLÉZIO, 2007, p. 26). 
Nessa passagem, evidencia o autor a relação entre as crenças africanas e a natureza, algo que lhe era estranho enquanto europeu. Transmitidas por meio da cultura oral, essas crenças deixam claro o caráter pedagógico da oralidade africana. O resultado, se é que se pode utilizar este termo, seria o respeito pela natureza por parte das crianças africanas.   
Mas o autor apresenta ao leitor a ação do imperialismo inglês em sua ânsia por matéria-prima ao recordar que, “no meio da savana, erguiam-se grandes árvores de tronco muito reto, as quais serviam, conforme vim saber mais tarde, para fornecer os assoalhos de mogno dos países industrializados” (LE CLÉZIO, 2007, p. 24).  
O memorialista demonstra, ainda, sua indignação para com a administração colonial inglesa. Por certo, uma indignação herdada das imagens que seu pai presenciou e lhe transmitiu na infância, pois ele declara que:
A África começou para meu pai quando ele tocou na costa do ouro, em Acra. Imagens características da colônia: viajantes europeus, vestidos de branco e com capacetes cawnpore na cabeça, são desembarcados num bote e transportados para a terra a bordo de uma piroga tripulada por 
negros. Não é essa a África que mais expatria: resume-se ela à estreita faixa que acompanha o litoral, desde a ponta do Senegal até o Golfo da Guiné, conhecida por todos que vêm das metrópoles para fazer negócios e enriquecer rapidamente. (LE CLÉZIO, 2007, p. 24).
Em menos de meio século, essa sociedade “se arquitetou em castas, lugares reservados, proibições, privilégios, abusos e lucros” (LE CLÉZIO, 2007, p. 62). Ainda a respeito desse mundo colonial,  o autor relata  que as esposas dos oficiais e dos administradores ingleses projetavam nos serviçais africanos todo o rancor que possuíam.
Le Clézio se recorda  de  que o território a cargo de seu pai era imenso: “Vai da fronteira com o protetorado francês de Camarões, ao sudeste, até os confins de Adamawa, ao norte e abrange a maior parte das chefias e dos pequenos reinos que escapam à autoridade direta da Inglaterra” (LE CLÉZIO, 2007, p. 75).  E acrescenta: “Não são, porém, regiões isoladas nem selvagens” (LE CLÉZIO, 2007, p.77). Lembra  ainda o autor que eram regiões prósperas, com grandes áreas cultivadas e de pecuária. “[...] não é a África de Tartaris de Tarascon, nem sequer a de John Huston. É, antes, a de Out of Africa, uma África real, de grande densidade humana” (LE CLÉZIO, 2007, p. 81).
Ele se recorda  de  que seu pai tomou consciência de sua profissão e papel ao perceber que o médico é um agente administrativo tal qual o policial ou o juiz e que:
A prática da medicina também é um poder sobre pessoas, sendo a vigilância médica, igualmente uma vigilância política. Bem o sabia o exército britânico, ele que, no começo do século, após anos de resistência encarniçada, pôde vencer pela força das armas e da técnica moderna a magia dos últimos guerreiros Ibos. (LE CLÉZIO, 2007, p. 97). 
Todas essas memórias são também as memórias de seu pai e suas angústias. Como o próprio Le Clézio admite: “Essa memória não é somente a minha. É também a memória do tempo anterior ao meu nascimento [...] A memória das esperanças e angústias de meu pai, de sua solidão, seu abatimento em Ogoja” (LE CLÉZIO, 2007, p. 122). Le Clézio observa em seu pai uma angústia  de quem vê a administração colonial inglesa como destrutiva e arrogante, como algo que caminha para uma catástrofe.
De volta à Europa, já nos anos 1960, o autor partilha das angústias de seu pai com as notícias que chegam da África, principalmente sobre a Guerra de Biafra, que opõe ibos e iorubas, e a Guerra da Argélia. Por fim, relata: “Vi imagens terríveis em todos os jornais e revistas. Pela primeira vez, o país onde eu havia passado a parte mais memorável de minha infância era mostrado ao resto do mundo, mas apenas por estar à morte” (LE CLÉZIO, 2007, p. 117). 
Essas são as memórias e impressões deixadas pelo autor durante alguns anos da infância passados na Nigéria.  
A contribuição dessa obra só poderá ser alcançada se percebermos a importância da História oral, da religiosidade africana e dos contos africanos para uma prática pedagógica que possa pensar a educação ambiental e o respeito à diversidade cultural.       
Referência                                                                    
LE CLÉZIO, Jean-Marie Gustave. O Africano. São Paulo: Cosac Naify, 2007. 
Cadernos da Pedagogia. São Carlos

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Jango: as múltiplas faces



Barbara Goulart
GOMES, Ângela de Castro; FERREIRA, Jorge. Jango: as múltiplas faces. Rio de Janeiro: Ed. FGV, 2007.
           O livro Jango e o Debate HistoriográficoDefinindo Novas Perspectivas de Ângelade Castro Gomes e Jorge Ferreira apresenta uma posição original em relação à figura de um dos presidentes menos estudados de nosso país, contribuindo então no processo derevisão de um dos paradoxos da historiografia brasileira: apesar de João Goulart ser opresidente em exercício durante um evento considerado dos mais marcantes da História doBrasil no século XX, poucos historiadores se dispuseram a analisar a sua figura. Quando éestudado, limitam-se a pensá-lo dentro da perspectiva da teoria do populismo, largamentedifundida por Francisco Weffort, em que seu governo é considerado o marco do processoque culminou no golpe de 1964. Recentemente, muitos historiadores vêm criticando essaanálise teleológica do governo de Jango.  
            Em 2007 o livro publicado pela Fundação Getúlio Vargas veio se juntar a estacurtaporém controversa bibliografia sobre o presidente João Goulart. O livro é resultado do projeto de pesquisa “Direitos e Cidadania”, do Programa de Apoio a Núcleos de Excelência (Pronex), apoiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e pela Fundação Carlos Chagas de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) durante os anos de 2004 a 2006. As 275 páginas da obra relatam a vida deJoão Belchior Marques Goulart, desde a adolescência até a sua morte (hoje muito discutida se teria sido consequência de um simples infarto ou de uma conspiração militar promovida pela Operação Condor).
            Na apresentação do livro os próprios autores afirmam que Jango é um presidenteesquecido ou lembrado em “chave muito crítica/negativa”. Eles afirmam, portanto, que tem como objetivo questionar essa idéia de “não-lugar” de Goulart, dando espaço para memórias subterrâneas sobre aquela figura, para que se possa melhor conhecê-lo. Assim sendo, os autores pretendem estudar as “múltiplas faces” do presidente, isto é, estudá-lo em sua pluralidade, tentando compreender as diversas perspectivas relacionadas aos estudos que contemplam a sua figura. Para que isso seja possível, o livro é recheado de entrevistas. Entre os entrevistados, podemos citar Hugo de Faria, chefe do gabinete civil daPresidência da República; Raul Ryff, secretário de imprensa do governo Goulart; Abelardo Jurema, Ministro da Justiça; Almino Afonso, Ministro do Trabalho; dentre outros. É possível perceber a presença de atores dos mais diversos espectros políticos e ideológicos, queparticiparam de uma forma ou de outra da vida de João Goulart, concordando ou discordando de suas posições. Parte das entrevistas usadas integra o acervo de HistóriaOral do CPDOC, e a outra parte diz respeito a um conjunto de novos depoimentos produzidos ao longo dos dois anos de pesquisa.

            O início da obra é mais descritivo, revelando apenas a grande capacidade empresarial de Jango em trabalhar no campo, comprando e vendendo terras, engordando bois e plantando arroz. A seguir é relatado o início da amizade entre Jango e Getúlio e como eles se aproximaram após o fim do Estado Novo e o seu retorno a sua fazenda em São Borja. Nesse capítulo podemos perceber que o relacionamento entre os dois era profundamente pessoal, antes mesmo de político, primeiro por causa das ligações entre as duas famílias e depois pelo profundo carinho e respeito que existia entre os dois gaúchos. O processo de socialização política de Jango não é tratado em detalhes; embora se saibaque as longas conversas entre ele e Vargas resultaram na sua filiação ao Partido Trabalhista Brasileiro, o PTB, pouco tempo depois.
Getúlio Vargas teria transformado Jango, um fazendeiro formado em Direito, inicialmente não muito interessado em política, em uma das figuras centrais de um dos maiores partidos do Brasil. Tornou-se presidente do partido e depois Ministro do Trabalho no segundo governo Vargas, cargo muito importante na época. O episódio do suicídio de Getúlio em 1954 é pouco tratado, sendo apenas comentado brevemente pelos autores. A carta testamento entregue por Vargas para Jango é mencionada por alguns entrevistados, mas os autores não se ocupam muito desse documento. A formação da imagem de Jango como herdeiro do legado de Vargas seria muito mais conseqüência de um longo processo de proximidade política, do que o resultado de uma única carta.
            A sombra de Getúlio permanece por trás de toda a obra, justificando a sua simpatia com as esquerdas e sua concordância com a necessidade de reformas fundamentais para o verdadeiro desenvolvimento do país. Durante toda a leitura é possível perceber a constante presença de duas forças influenciando Jango: os “políticos moderados” e a “esquerda radical”; termos utilizados pelos autores. Amigos de centro e centro-esquerda incentivavam Jango a promover as reformas, mas de forma lenta e gradual, obtendo apoio em setores mais conservadores como o PSD. Os grandes representantes dessa linha eram San Tiago Dantas e Tancredo Neves. A “esquerda radical” tinha como figura central o governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola,  fundador da FMP, Frente de Mobilização Popular, que reunia “comunistas de extrema esquerda”, revolucionários e muitos sindicalistas da CGT, a Central Geral dos Trabalhadores. Este grupo acreditava na implantação de reformas de maneira radical, “na marra”, mesmo que para isso fosse necessário o uso das armas.
            Durante muito tempo Jango logrou conciliar esses dois grupos, obtendo apoio em ambos os setores, apesar de freqüentes protestos. A grande dificuldade de Jango parece ter sido procurar realizar um governo baseado em conciliação e liberdade política, em um momento fadado à radicalização. Desde o governo Vargas, houve diversas possibilidades de golpe, uma delas teria inclusive provocado o suicídio de Vargas. Outras tentativas teriam ocorrido durante o governo de Juscelino Kubitschek e outra após a renúncia de Jânio Quadros.
            É interessante perceber também como o livro relata a participação de Jango nos bastidores dos momentos mais marcantes na história do país. Um de seus papéis muito esquecido em outras análises históricas foi sua atuação como vice-presidente da república. Vários entrevistados afirmam o papel fundamental exercido por Jango durante o governo de Juscelino, onde teria liderado negociações que ajudaram a diminuir o número de greves e rebeliões promovidas pelos trabalhadores e sindicalistas; o que seria possível em um governo de um presidente que, segundo os entrevistados, várias vezes preferia apoiar os industrialistas em vez do operariado. Na análise do governo de Jânio Quadros abre-se a possibilidade de que o presidente teria mandado o seu vice para a China propositadamente. Por ser a um lugar distante, a visita dificultaria sua volta após a renúncia de Quadros, já planejada com antecedência, e, por se tratar de um país comunista, colocaria a opinião pública conservadora contra Jango. Isso possibilitaria um golpe a favor de Jânio e contra Jango.
            Porém, o momento mais importante no livro é claramente aquele que analisa as causas do golpe de 1964. Nesse momento as entrevistas se tornam mais calorosas, revelando versões até então desconhecidas para os acontecimentos. Alguns entrevistados afirmam que o problema teria sido o radicalismo natural das políticas de Jango, outros afirmam que o radicalismo foi conseqüência da crescente influência de Brizola na vida de Jango, minando as possibilidades de conciliação com os setores mais conservadores. Outros ainda atribuem o golpe a falta de capacidade de liderança de Jango e sua fraqueza política.
            Uma das questões mais importantes levantadas foi a crescente falta de vontade de Jango governar. Por ter seus poderes restritos durante grande parte de seu governo, principalmente por causa da emenda parlamentarista, que aceitou a contragosto, ele sabia das dificuldades em implementar seus planos considerados grandiosos para a época, representados pelas Reformas de Base. Outro fator que contribuía para isso era que, apesar de muitos saberem da iminência de um golpe, poucos ou ninguém sabia das conseqüências duradouras do regime repressivo implantado em 1964. Assim, a maioria pensava que aconteceria a Jango o que aconteceu com Getúlio em 1945, quando este foi obrigado a permanecer em exílio político em São Borja por cinco anos antes de voltar à cena política com sua reeleição. Portanto, não era possível saber da importância daquele momento para a história do Brasil, nem como as menores ações resultariam no fim da democracia e na instauração do regime mais violento na história brasileira.
            É possível destacar vários momentos que teriam sido o ponto final para a solução democrática e a definitiva movimentação para um golpe de Estado. Um deles teria sido a revolta dos sargentos contra as autoridades militares, que não teria sido necessariamente apoiada por Goulart, mas definitivamente não foi criticada ou punida por ele. Isso teria iniciado a ira dos militares da alta patente. A seguir, Jango teria estado presente na solenidade de posse da nova diretoria dos sargentos, mostrando conivência com os revoltosos. Outro momento de inflexão foi o Comício da Central do Brasil, onde para alguns Jango teria radicalizado seu discurso, incentivando reformas imediatas, o que teria sido interpretado pelos militares como apoio a medidas violentas e autoritárias para implementar uma suposta República Sindicalista. Outros entrevistados rechaçam essa teoria de radicalismo de Jango, acreditando que ele era muito mais um homem de centro, que teria partido para a esquerda por influência dos sindicalistas e comunistas do CGT e pela grande influência de Brizola; e também pela falta de apoio às reformas de base dentro do PSD.
            O golpe é relatado como fato inevitável, consequência das crescentes perturbações durante o governo Goulart.  Poucas dessas perturbações poderiam ter sido evitadas por ele, pois outras muitas foram promovidas por atores diversos, como as “esquerdas radicais”, os “militares conspiradores”, os “civis conservadores”, etc. O fim de Jango em seus anos de exílio aponta o fim da obra, com Goulart afirmando sempre a sua vontade em voltar ao país e as articulações que tentou fazer para que isso fosse possível. A mais notória foi a Frente Ampla, que reunia um grupo ambíguo formado por Juscelino, Jango e Carlos Lacerda. Esse último, um udenista inveterado e grande inimigo de Jango, que havia apoiado a instauração da ditadura; mas que depois foi excluído por ela própria. A Frente não se consolidou, tendo sido definitivamente extinguida pela promulgação do famoso AI-5. Jango morreu no exílio e acabou voltando ao Brasil apenas dentro do caixão.
            Apesar de expor opiniões de diversos atores, contra e a favor de Jango, é possível perceber claramente nos autores certa simpatia pelo presidente deposto, mostrando-o como um homem que tinha uma proposta interessante para a nação, mas que teria sido engolido por um processo, rápido e sem volta, de inflexibilidade política e situações difíceis de se resolver por meios conciliatórios. É interessante pensar no momento de produção do livro. Em uma época de consolidação democrática, onde a própria esquerda tenta se mostrar mais moderada, a violência é condenada e atitudes conciliatórias são muito mais valorizadas do que seriam em obras escritas há algumas décadas atrás, onde as soluções vistas como mais viáveis eram quase sempre as mais radicais.  
            Sendo sempre criticado por ser conciliador demais, ou radical demais, aqui a capacidade de Jango de negociar é elogiada diversas vezes pelos entrevistados, pois teria evitado desgastes maiores e situações violentas. Apesar disso não ser dito explicitamente, é possível perceber no livro uma posição crítica em relação à atuação de Leonel Brizola, claramente próxima ao pensamento político atual, onde o radicalismo e a violência são condenados. Por incentivar a intolerância, Brizola teria prejudicado imensamente o governo de Jango. Ele teria inclusive estimulado o presidente a pegar em armas e lutar contra a sua deposição, mas Jango preferiu o não-derramamento de sangue, indo se refugiar em Montevidéu. Aliás, o livro também questiona a visão de covarde que muitos têm do presidente, pois na época era impossível prever que uma ditadura de mais de 20 anos se instalaria no país. As divergências entre Brizola e Goulart se tornam mais evidentes no exílio, período no qual ficaram doze anos sem se falar.
            O livro tem um caráter fortemente didático, sendo uma ótima pedida para quem pouco sabe sobre o período. Por ser organizado em ordem cronológica e ser escrito em linguagem coloquial, se torna fácil entender os fatos importantes na vida de João Goulart. Se é fácil entendê-los, é difícil explicá-los. Entretanto, se o livro não dá respostas, ele certamente preenche o leitor de perguntas. Como o livro se propõe a analisar Jango em sua pluralidade, diversas versões sobre ele são confrontadas; muitas são contraditórias, muitas concordam entre si e muitas se refutam. Porém, é um livro sintético, que não tem como proposta a discussão das políticas específicas do governo, como, por exemplo, o Plano Trienal e a Lei de Diretrizes e Bases de Educação. Portanto, muito ainda se pode fazer para compreender a figura de João Goulart.
CPDOC-FGV
Revista Mosaico

domingo, 13 de maio de 2012

Imagens do sagrado: entre Paris Match e O Cruzeiro



Noel dos Santos Carvalho - Unicamp
noelsantoscarvalho@yahoo.com.br

TACCA, Fernando Cury de. Imagens do sagrado: entre Paris Match e O Cruzeiro. Campinas: São Paulo, Editora da Unicamp, Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2009, 200 páginas.
Em 1942, Arthur Miller escreveu um instigante romance, Focus, em que o personagem principal inquire seu perseguidor racista: “Em outras palavras, quando você me olha não me vê. O que você vê?” (MILLER, 2002, p. 180). A pergunta explicita a dupla articulação que envolve a representação. Construímos o sentido de dentro do nosso lugar no mundo onde classe, etnia, nacionalidade, cultura, etc. contam sobremaneira. Entretanto, o objeto do nosso olhar também tem sua própria existência. Como na passagem acima, o resultado dessa relação muitas vezes é tenso.
Howard Becker formulou a questão em termos originais. Para ele, a representação se assemelha a um relato sobre o mundo social, cujo sentido insere-se num contexto organizacional, em que produtores especializados elaboram sistemas representacionais para usuários interessados. Mapas rodoviários, por exemplo, são representações pouco úteis para pedestres, assim como filmes documentários interessam a um público que têm suas atividades voltadas à prática documental ou temas correlatos. A representação, em suma, é produto da ação coletiva de atores sociais interessados na sua produção e recepção, ao contrário das análises formalistas radicais, que se bastam com a busca dos significados endógenos à obra isolada – como se houvesse uma essência artística transcendental. Aqui, para lembrar Baxandall, privilegiam-se os “fatores culturais” que agem sobre a percepção, produzindo as categorias adequadas e competências de fruição. A passagem abaixo ilustra a relação produção/recepção que presidia a realização de uma pintura na Renascença:
O observador deve utilizar na fruição de uma pintura as capacidades visuais de que dispõe, e dado que, dentre essas, pouquíssimas são normalmente específicas à pintura, ele é levado a usar as capacidades que sua sociedade mais valoriza. O pintor é sensível a tudo isso e deve se apoiar na capacidade visual de seu público. Quaisquer que sejam seus talentos profissionais de especialista, ele mesmo faz parte dessa sociedade para a qual trabalha, e compartilha sua experiência e hábitos visuais (BAXANDALL, 1991, p. 48).
As representações, portanto, decorrem da ação coletiva dos atores sociais. Estes possuem as disposições psicológicas para a sua produção e recepção. Nessa perspectiva, elas ganham plasticidade: são verdade e ficção, documentos e construções imaginativas. Uma foto documental, filme ou gravura podem ter significados diversos, dependendo dos usos e contextos em que estão inseridos – obras e usuários. Escreve Becker sobre as fotografias documentais:
Seu significado surge nas organizações em que são usadas, a partir da ação conjunta de todas as pessoas envolvidas nessas organizações, e, assim, varia de um momento e de um lugar para outro. Como as pinturas adquirem seu significado em um mundo de pintores, colecionadores, críticos e curadores, fotografias obtêm seu significado a partir do modo como as pessoas envolvidas com elas as compreendem, usam-nas e desse modo lhe atribuem significado.” (BECKER, 2009, p. 185).
É esta paisagem conceitual que articula o novo livro do fotógrafo e antropólogo Fernando de Tacca, Imagens do sagrado: entre Paris Match e O Cruzeiro. Através de rigorosa pesquisa e primorosa análise de fontes, Tacca deslinda um imbróglio ocorrido há quase sessenta anos, mais precisamente no inicio dos anos 1950, quando desembarcou por aqui o cineasta francês Henri-Georges Clouzot. Depois de tentativas malogradas de realizar dois filmes no Brasil, um dos quais integralmente interpretado por atores negros – o que, diga-se de passagem, o Cinema Novo só faria mais de dez anos depois –, Clouzot publica na França, em 1951, o livro Le chevau de dieux e a reportagem Les possédés de Bahia, na revista francesa Paris Match. Em tempos de nacionalismo à flor da pele, a recepção nativa leu como pode as fotos e a reportagem. A reação indignada foi imediata. A Federação de Culto Afro-brasileiro e intelectuais do porte de Edson Carneiro, Roger Bastide e Alberto Cavalcanti atacaram Clouzot, acusando-o de “colonialista” e “sensacionalista”.

Foto 1. Paris Match 12/05/1951

Foto 2. Paris Match 12/05/1951

Foto 3. Paris Match 12/05/1951
O troco na mesma moeda veio quando a revista de maior circulação nacional da época, O Cruzeiro, de propriedade do magnata Assis Chateaubriand, comprou a briga e produziu sua própria reportagem, As noivas dos deuses sanguinários. A carta do chefe de redação intimando o fotógrafo José Medeiros é um achado. Em tom ressentido e com a honra ferida conclama o fotógrafo a produzir as fotos da reportagem, “PARA LAVAR NOSSA CARA TÃO DURAMENTE ATINGIDA PELA REPORTAGEM DE CLOUZOT...” [sic] (TACCA, 2009, p. 124).
Ocorre que, ao contrário do vaticínio liberal, nem sempre o laissez faire, laissez aller, laissez passer nos meios de comunicação leva “naturalmente” ao caminho das tão esperadas diversidade e originalidade. Como assevera Bourdieu, a concorrência entre redações pela busca do “furo” produz um efeito de campo paradoxal que leva à uniformidade das matérias. Escreve o sociólogo:
... a concorrência incita a exercer uma vigilância permanente (que pode chegar à espionagem mútua) sobre as atividades concorrentes, a fim de tirar proveito dos seus fracassos, evitando seus erros, e de contrapor-se a seus sucessos, tentando tomar emprestados os supostos instrumentos de seus êxitos, temas de números especiais que jornalistas se sentem obrigados a retomar, livros resenhados por outros e dos quais ‘não se pode deixar de falar’, convidados que é preciso ter, assuntos que se devem ‘cobrir’ porque outros os descobriram e mesmo jornalistas que são disputados, tanto para impedir os concorrentes de tê-los quanto por desejo real de os possuir(BOURDIEU, 1997, p. 107-8).
Não foi outro o resultado da disputa entre a Paris Match e O Cruzeiro.Rigorosamente, não há grande diferença entre as fotos de Clouzot e Medeiros. Evidentemente, ao leitor cabe a própria conclusão, e nesse ponto ele é ajudado pelo livro ricamente documentado.
Foto 4. O Cruzeiro, 15/09/1951

Foto 5. O Cruzeiro, 15/09/1951

Foto 6. O Cruzeiro, 15/09/1951
Quem entendeu imediatamente que as reportagens eram semelhantes quanto à representação sensacionalista foi o antropólogo Roger Bastide que “coloca a reportagem de O Cruzeiro como um ‘crime’ da mesma ordem da Paris Match” (TACCA, 2009, p. 154). O meio intelectual calou-se diante da reportagem de O Cruzeiro, sugere Tacca: seja porque Medeiros era conhecido e respeitado por vários dos intelectuais que poderiam se opor à reportagem, seja porque a revista era de propriedade do manda-chuva das comunicações da época, Assis Chateaubriand. Escreve:
Não encontramos nenhuma manifestação, contra ou a favor, sobre a reportagem ‘As noivas dos deuses sanguinários’. Um silêncio sepulcral abateu-se nos jornais e revistas. Esperávamos, depois de uma fúria incontida contra o estrangeiro usurpado de nossa cultura, que ao menos os mesmos jornalistas e intelectuais se manifestassem como fizeram com Clouzot. Alguns caminhos podem ser explicativos. Medeiros era amigo de todos eles, companheiro de trabalho de vários jornalistas, e uma pessoa muito amável, como todos assim se referiam a ele. Já tinha na época uma admiração profissional de seus próprios pares. Junte-se a este aspecto afetivo, a difícil resolução, a questão de colocar-se em oposição a um semanário nacional da importância de O Cruzeiro, com a força devastadora de seu dono, Assis Chateaubriand, e da rede de Diários Associados. Todos silenciaram, menos um, que não era brasileiro e pôde ter uma neutralidade em relação aos fatos (TACCA, 2009, p 154).
O conhecido modus operandi da intelectualidade brasuca deixaria a corda roer para o lado mais fraco: Mãe Riso da Plataforma, a mãe-de-santo que autorizou a reportagem. Esta atraiu a ira da comunidade religiosa, da Federação Baiana dos Cultos Afro-Brasileiros e foi acusada de ter se beneficiado economicamente das fotografias.
No entanto, devemos entender o silêncio dos intelectuais de uma perspectiva mais ampla. É sabido o quanto a construção de um campo intelectual autônomo entre nós deu-se a duras penas. A liberdade de opinião decorre da posição independente que o francês Bastide ocupava naquele momento. Era professor da cadeira de sociologia na Universidade de São Paulo, instituição que lhe assegurava certa independência intectual. Diferente era a condição precária da maioria dos intelectuais nativos que se desdobravam em trabalhos no funcionalismo público, editoras, imprensa, cinema etc. Portanto, mais vulneráveis às pressões políticas e econômicas (MICELI, 2001).
O autor faz ainda um minucioso levantamento para chegar aos fatos ocorridos após a publicação das fotos. Movimentando-se por meio de informantes através da rede de sociabilidade do candomblé, entrevista pessoas chaves para interpretar a trajetória da mãe-de-santo. Neste percurso remonta a história das fotografias e o modo como elas foram recebidas pelos atores sociais nativos do camdomblé. Se, como vimos acima, asociedade é um campo de batalhas de representações (CLARK, 2004, p. 39), Tacca deixa claro para o leitor atento que os limites e coerências das representações são contestados e rompidos constantemente. Um fato ocorrido durante a pesquisa ilustra o modo como as imagens são apropriadas e ressignificadas pelos atores sociais.
... Jane trouxe-nos um álbum familiar. Uma sobrinha de Perrucha recortara todas as imagens de uma revista O Cruzeiro em que aparecia a tia e fez uma espécie de álbum de recordações, com o título ´Lembrança de minha Epilação, editada da Revista O Cruzeiro, de setembro de 1951`, descontextualizando dessa forma a reportagem e ressignificando as imagens no âmbito familiar. Surpreendentemente aparece no final do álbum seu reconhecimento religioso pela Federação Bahiana de Cultos Afro-Brasileiros, com sua ficha de inscrição e sua carteirinha de associada. A migração das imagens publicadas, recortadas e deslocadas para o âmbito familiar, introduzia uma aproximação memorialista com o evento religioso em si, como o próprio título do álbum sugeria, e sem colocá-lo à parte do contexto midiático, pois as imagens mantinham o padrão gráfico de uma publicação e o título fazia referência à revista. Portanto, nesse momento, a epilação de Perrucha aparecia como uma recordação familiar de um evento midiático, mas sem as referências sensacionalistas do título da reportagem (TACCA, 2009, p. 35-38).
A pesquisa desmistifica ainda o que se dizia a respeito da Mãe Riso: que teria recebido um castigo sobrenatural por permitir as fotos, que o seu terreiro havia sido “quebrado” e que fugira para o Rio de Janeiro onde teria sido assassinada, etc. Ao contrário, a trajetória de Mãe Riso foi das mais prolíficas no candomblé. Mudou-se para Nilópolis onde abriu um terreiro, auxiliou a abertura de outro em São Paulo e “... manteve laços fortes com o candomblé de sua origem e de seu território na área da Plataforma” (TACCA, 2009, p. 64). Teve mais de cem filhos-de-santo só no Rio e quando morreu, em 1° de janeiro de 1993, aos 73 anos, cerca de 600 pessoas, todas vestidas de branco, acompanharam o seu enterro.
O texto, escrito em primeira pessoa, tende a criar uma identidade entre o narrador e o leitor. Este descobre os acontecimentos que marcaram o embate midiático sobre a representação do candomblé, guiado por um narrador que não se furta em manifestar suas emoções ante as descobertas da pesquisa. A produção do saber não está apartada da afetividade, como qualquer pedagogo sabe. A busca por mãe Riso da Plataforma em Nilópolis é exemplar:
Chegando ao número de que dispunha, logo o identifiquei como sendo o terreiro de Riso: um lindo São Jorge em azulejo reinava icrustado na frente e no alto da casa. Neste momento senti uma grande emoção de estar ali defronte do terreiro de Riso, e ao mesmo tempo uma vontade muito grande de tê-la conhecido. De alguma forma, senti sua presença pela primeira vez, uma boa sensação (TACCA, 2009, p. 67).
Ao término do livro fica a sensação do percurso feito, dos nós reatados e do mistério solucionado. As lutas em torno da revelação dos segredos do candomblé sugerem o modo como uma parcela da população lida com as religiões que escapam ao controle social. Como na formulação de Arthur Miller, a bricolagem da sobrinha de Perrucha com as fotos da revista O Cruzeiro materializa uma singela e eficaz resposta política.
Neste sentido, vale acrescentar sua importância para o debate sobre a representação do negro. Nos últimos anos artistas, pesquisadores e ativistas têm levantado questões sobre o ônus representacional dos grupos excluídos, atentos às imagens produzidas pelos meios de comunicação de massa como revistas, cinema e televisão. O livro contribui ao chamar atenção para as ambigüidades em torno da representação e dos seus possíveis usos.
Referências bibliográficas
BAXANDALL, Michael. O olhar renascente – pintura e experiência social na Itália da renascença, Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1991.
BECKER, Howard. Falando da sociedade – ensaios sobre as diferentes maneiras de representar o social. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2009.
BOURDIEU, Pierre. Sobre a televisão. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1997.
CLARK, T.J. A pintura da vida moderna. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.
MICELI, Sérgio. Intelectuais à brasileira. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.
MILLER, Arthur. Focus. Rio de Janeiro: Ediouro, 2002.
TACCA, Fernando Cury de. Imagens do sagrado: entre Paris Match e O Cruzeiro. Campinas, São Paulo: Editora da UNICAMP, Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2009.

Revista PROA