terça-feira, 21 de junho de 2011

New trends and developments in african religions

CLARKE, Peter B. (Ed.). New trends and developments in african religions. Westport, Connecticut: Greenwood Press, 1998. 309 p.

Ari Pedro OroI; Luiz Carlos dos Anjos
Universidade Federal do Rio Grande do Sul – Brasil


Diferentemente de outros livros sobre religiões africanas ou derivadas, este não versa sobre um país, uma região ou um continente. Contrariamente às visões que concebem aquelas religiões como sendo essencialmente étnicas, este livro enfatiza a sua atual e cada vez mais crescente internacionalização e universalização. Assim sendo, uma das teses principais do livro consiste na ênfase ao importante dinamismo das religiões africanas ou derivadas e suas relações com outras tradições religiosas e culturais, seja na África, no Caribe, nas Américas ou em partes da Europa.

Esse particular dinamismo contínuo das religiões africanas ou derivadas com outras tradições religiosas tem sido freqüentemente rotulado de sincretismo e este tema abre e atravessa todo o livro. Neste sentido, Sidney Greenfield mostra como as análises desse fenômeno são influenciadas pelas agendas sociais e políticas dominantes nas respectivas conjunturas; Peter Clarke analisa as controvérsias sobre o sincretismo na relação entre o Candomblé e o Catolicismo no Brasil; Mundicarmo Ferretti analisa a natureza complexa do sincretismo das entidades espirituais ameríndias na religião afro-brasileira do Norte do Brasil; Ineke van Wetering estuda o sincretismo no Winti cult entre a população crioula, sobretudo de origem surinamesa, na Holanda. Também os capítulos escritos por Vittorio Lanternari e Victor Wan-Tatah versam, em grande medida, sobre o sincretismo, o primeiro ao analisar as relações entre catolicismo e religião tradicional africana no fenômeno Milingo, um culto de cura, desenvolvido em Roma desde 1983, e o segundo ao analisar o tema da conversão sobretudo na Nazarene Church of Isaiah Shembe no sul da África.

O texto de Peter Clarke, bem como o de Roberto Motta sobre a eclesificação do Candomblé no Brasil, e o de William Van De Berg sobre o processo de institucionalização do movimento Rastafari em North Carolina, mostram outro aspecto associado às tendências atuais das religiões africanas: o seu crescente processo de institucionalização. Neste aspecto Stephen Grazier afirma que nem tudo sobre essas religiões pode ser entendido em termos de seu passado africano e nem podem ser adequadamente interpretadas se concebidas apenas como religiões de protesto. A complexidade dos temas acima referidos pode ser percebido no estudo de Roland Littlewood sobre Earth People de Trinidad, um movimento milenarista altamente puritano, fundamentado na bíblia, que incorpora dimensões africanas e elementos indígenas.

O livro ainda contempla outros eixos de análise, tais como: comunidade e construção de identidade, que constitui um dos temas centrais do capítulo desenvolvido por Valerie De Marinis sobre a importância da comunidade para marginalizados na Macumba, em Salvador da Bahia, bem como no estudo de Gerrie Ter Haar sobre africanos imigrantes e descendentes em Amsterdam. O texto de Tina Gudrun Jensen sobre a Umbanda no Brasil também versa sobre o mesmo tema mas sua originalidade está em focalizar a categoria de membro flutuante por oposição ao núcleo dos membros iniciados, sobre os quais versam a maioria dos estudos. O tema do simbolismo religioso no contexto do ambiente cultural total, em lugar de apenas se concentrar no próprio movimento religioso, é objeto de estudo de Charles Gullick sobre os Shakers of St. Vincent, no Caribe. A temática de gênero entra na discussão a partir do estudo de Obiagele Lake sobre o movimento Rastafari. Na opinião da autora, este movimento tem o potencial para simbolizar melhor do que qualquer outro a luta das mulheres africanas para a igualdade com os homens.

O artigo de Mike Taylor sobre a Nação do Islã apresenta dois modos básicos de se perceber este movimento: como um culto que se insere nas aspirações da comunidade afro-americana provendo-as de uma poderosa, embora fantástica mitologia; ou como um movimento orgulhoso de identificação dos negros americanos. Ainda nos Estados Unidos, Brian McGuire e Duncan Scrymgeour avaliam a contribuição de casas de Santeria à formação de comunidades de Latinos sistematicamente marginalizados, comparando com o papel desempenhado pelo Pentecostalismo, também em Los Angeles, e em outros lugares, inclusive a América do Sul.

Assim, o livro vai se desenvolvendo entre temas correlacionados e espaços díspares e nos apresenta a configuração atual e as principais tendências de uma religiosidade dinâmica, moderna, em franco processo de diferenciação e institucionalização. Por tudo isto, e muito mais, "New Trends and Developments..." constitui, sem dúvida, um dos mais importantes livros aparecidos nos últimos anos sobre as religiões africanas e religiões espalhadas pelo mundo cuja cosmologia, ideologia, rituais e ethos derivam de religiões africanas.

Revista Horizontes Antropológicos

O mal que se adivinha: polícia e menoridade no Rio de Janeiro

Vianna, Adriana de Resende Barreto . O mal que se adivinha: polícia e menoridade no Rio de Janeiro, 1910-1920. Rio de Janeiro: arquivo nacional, 1999. 198 p.

Eloísa Martín
Universidade Federal do Rio Grande do Sul – Brasil

Elaborado inicialmente en 1995, como disertación de Maestría en Antropología Social para el Programa de Posgrado del Museo Nacional/ UFRJ, el libro de Adriana de Resende Barreto Vianna recibió el primer lugar del Prêmio Arquivo Nacional de Pesquisa en 1997.La autora, graduada en Historia, propone a través de este trabajo, mostrar el proceso de construcción del menor, como personaje social, a través de las acción policial. Para ello, Vianna va a trabajar sobre registros policiales, informes burocráticos y publicaciones de agentes relacionados con la intervención policial sobre los menores, entendiéndo a estos documentos como perte de un campo de saber específico. El período de investigación, que comprende la década entre 1910 y 1920, obedece a una preocupación de la autora de recuperar la dimensión procesual de la representación de la categoría menor. Según Vianna, ese durante ese período que es posible observar un proceso de naturalización y cristalización de los significados del término menor.La autora propone entender al menor desde su positividad, no como una negación de una determinada representación social de la infancia, sino como un proceso de construcción, fruto de una interacción específica entre los individuos "potencialmente identificados como menores y el cuerpo policial (como agente clasificador)" (p. 35).Su interés está centrado, así, más sobre la relación de minoridad, que sobre el menor, en un intento de problematizar la propia construcción del menor en cuanto personaje, en su dimensión relacional -policía/ menor- y en una doble relación contrastiva -mayor/ menor, y menor "normal"/ menor "desviante". Más aún, Vianna propone que la relación entre policía y menores era de constitución mutua: al mismo tiempo que la policía producía menores, sus funciones y representaciones eran creadas o modificadas por esa acción.El libro está dividido en cinco capítulos, cuya trayectoria, según la autora, sigue una lógica de investigación "relativamente linear" (p. 37). El primero de ellos, que es, al mismo tiempo, una introducción general al libro, da cuenta de la construcción del menor en cuanto "personaje identificado" y "personaje clasificado" por el cuerpo policial, procurando reflexionar sobre la "minoridad como un criterio organizador de las relaciones sociales" (p. 34).El capítulo 2, "Menores como assunto de polícia", traza una caracterización de la organización policial durante el período investigado, otorgando una particular atención a las diferentes instituciones estatales adonde los menores eran enviados luego de su detención.A lo largo del tercer capítulo, "Classificações policiais e a criação do menor", la autora problematiza las clasificaciones policiales utilizadas para caracterizar a los menores detenidos, en relación a las diferentes instituciones adonde los estos podían ser enviados. En este sentido, Vianna subraya que su objetivo está lejos de reificar la existencia de "tipos" concretos de menores: su análisis responde, por el contrario, a las preguntas de cómo fue posible construir la representación del menor, y cómo se constituía cotidianamente la legitimidad de la intervención policial sobre dichos menores.En el capítulo 4, "Punir, conhecer e preservar", la autora propone un análisis de discursos producidos por agentes involucrados con la intervención práctica sobre los menores, privilegiando a los miembros directivos de las instituciones de internación de menores.En el último capítulo, "Tutela e menoridade", Vianna retoma las discusiones que había presentado en los capítulos previos, leyéndolas a través de su preocupación central: en qué términos la minoridad puede ser tomada como una forma de subordinación social. Es desde aquí que Vianna propone su análisis del Código de Menores promulgado en 1927.Este libro es interesante no sólo para aquellos que investigan o trabajan con menores, sino para todos aquellos involucrados con investigaciones relacionadas con infancia e instituciones totales. El propio recorte histórico realizado por la autora, durante la instauración de la Primera República en Brasil, es otro aspecto a tener en cuenta, no sólo como necesaria contextualización de la investigación, sino como una propuesta sugestiva para pensar la cuestión de la construcción del pueblo y del otro a inicios del siglo XX.Pero es, quizás, el propio hecho de la construcción de su objeto, a través de la utilización de documentos que dan cuenta de las rutinas administrativas cotidianas de la Policía de Rio de Janeiro, leídos a partir de una perspectiva antropológica, uno de los aspectos más interesantes de este volumen. Un capítulo dedicado a reflexionar sobre la metodología que combina la utilización de material documental histórico y una preocupación antropológica hubiese sido una contribución importantísima y abriría el libro a una discusión más amplia.
Revista Horizontes Antropológicos

Antropologia da viagem : escravos e libertos em Minas Gerais no século XIX

Flávio L. Abreu da Silveira
Universidade Federal do Rio Grande do Sul - Brasil


LEITE, Ilka Boaventura. Antropologia da viagem : escravos e libertos em Minas Gerais no século XIX. Belo Horizonte: Editora UFMG, 1996. 272 p.

Se o estrangeiro como coloca Simmel é um personagem positivo, se a sua experiência desencadeia um conjunto complexo de relações no local onde se insere enquanto uma figura que interage com o meio social, como alguém que penetra em um ambiente marcado pela diferença daquele de origem e busca desvendá-lo, então, considerar o seu olhar como uma fonte riquíssima de representações acerca do Outro é uma proposta instigante e reveladora de questões fundamentais. Essa parece ter sido a principal tarefa da antropóloga Ilka Boaventura Leite no livro Antropologia da Viagem - Escravos e Libertos em Minas Gerais no Século XIX.

A autora aborda a questão considerando os relatos de viagem como textos pré-etnográficos, ou seja, já estão ali, sob diferentes formas, os elementos que são os precursores da narrativa etnográfica: o estranhamento não tem um caráter metodológico e a imersão no universo cultural do Outro não apresenta uma nítida reflexão de si, enquanto uma experiência de abertura para o diálogo com o Outro, pelo contrário, no caso dos viajantes, o estranhamento e a reflexão são frutos da observação de diferenças que demarcam fronteiras que demonstram maneiras de perceber-se de acordo com padrões próprios da época, ou seja, como oriundos do continente europeu ou norte-americano, letrados, étnicamente diversos e, na maioria das vezes, interessados pelas riquezas minerais, faunísticas e florísticas do Novo Mundo.

A questão dessa forma, implica em considerar os relatos de viagem como a expressão de personagens cujo intuito variava de acordo com a sua formação e os critérios pelos quais suas experiências no solo brasileiro se pautavam. Sendo assim, cada viajante considerado pela autora tinha um interesse em particular: botânico, zoológico, mineralógico, religioso, político, econômico e de lazer.

No entanto, tais questões não impedem que esses personagens realizem um tipo de escrita que os coloca dentro de um gênero específico, de um tipo de narrativa que mescla literatura, diários científicos e de viagens, bem como, de relatos onde certas representações sociais aparecem como maneiras de narrar a experiência de relação com o Outro que é considerado mediante um olhar que o exoticiza e o vincula a um cenário de abundância natural.

O que fica claro é que, mediante a análise criteriosa dos seus relatos surge uma série de possibilidades interpretativas acerca do material que configura o corpo de informações que cada um deles abarca, pois permite compreender a forma como determinados processos sócio-históricos ocorreram numa dada região, no caso, Minas Gerais. Além disso, certamente, nos auxiliam a reconhecer e compreender através de seus relatos de viagem aqueles elementos formadores da cultura brasileira.

Portanto, uma antropologia da viagem pode revelar como o desprendimento, como o abandono do lugar de origem por parte desses personagens desencadeia um encontro com a diversidade, de maneira a permitir que a partir da relação entre proximidade e distância se construa um tipo muito específico de interação na qual as representações acerca do Outro sejam possíveis e apareçam como elementos importantes na construção das narrativas que constituem os seus relatos e diários de viagem, percebidos como resultado de um olhar que decifra uma realidade em dado contexto onde a interação ocorre. Assim, no livro em questão, os viajantes são considerados por uma perspectiva que os concebe como "reinventores de realidades".

O livro da antropóloga Ilka Boaventura Leite, portanto, é uma referência importante para pensarmos alguns aspectos que o colonialismo tomou no Brasil, dado o grande número de informações que a obra traz consigo, acerca dos discursos que forjaram uma imagem do negro no Novo Mundo e que podem ser interpretados como formas de dominação, pois o texto da autora é construído com uma riqueza de detalhes que demonstram a forma com que os diferentes viajantes que passaram pelo estado de Minas Gerais no século XIX manifestaram as suas impressões sobre as condições de trabalho, os costumes e práticas culturais dos negros que ali viviam naquele período. As análises realizadas pela autora dentro desse universo amplo de informações vem acompanhada de uma reflexão em torno da noção de raça e as implicações da mesma nas representações em relação aos negros no Brasil.

Mas, acima de tudo, os relatos de viagem se mostram como elementos fundamentais para compreendermos como um imaginário em torno do exotismo ligado aos grupos étnicos que viviam em meio a uma natureza exuberante, fez com que os povos de países do Hemisfério Norte se reconhecessem enquanto diversos e assim, construíssem e reforçassem uma idéia de si em oposição àqueles de além mar.
Revista Horizontes Antropológicos

Etnologia antropologia

Aline Winter Sudbrack
Faculdade Portoalegrense de Ciências e Letras - Brasil


TOLRA, Philippe Laburthe; WARNIER, Jean-Pierre. Etnologia antropologia. 2. ed. Trad. Anna Hertmann Cavalcanti. Petrópolis: Vozes, 1999. 469 p.

No mundo atual onde os problemas étnicos reaparecem e no qual a demanda pelo reconhecimento das diferenças, sejam elas políticas, sociais, culturais ou de gênero encontra-se na ordem do dia, a Antropologia Social tem dado contribuições importantes em seu esforço para um melhor entendimento das relações humanas. Este campo de saber com sua diversidade, riqueza e heterogeneidade, contribui com um novo olhar sobre a experiência humana no tempo e no espaço. Pois vivemos num mundo de fenômenos desprovidos de conteúdo social, que se originam das condições hostis que invadem a sociedade, dos perigos e incertezas que nos cercam, da ênfase colocada no indivíduo, onde o outro torna-se o nosso inimigo imediato. No individualismo moderno, a impessoalidade converteu-se em indiferença e pouco a pouco, desaprendemos a gostar de gente. Daí que, a Antropologia Social, nos ensina que este outro, muito antes de constituir-se numa ameaça, é alguém que devemos conhecer e respeitar como uma parte de nós mesmos, companheiro e cúmplice da fascinante jornada que empreendemos na universalidade da dimensão que nos "torna" humanos.

Neste sentido, o livro de Tolra e Warnier, "Etnologia Antropologia", contribui com a reflexão a partir da alteridade sócio cultural desta ciência, apresentando a pluralidade de tradições e estilos fundadores deste campo de saber. O livro é dividido em cinco partes: A Etnologia Antropologia; As Relações Sociais; A Função Simbólica; Riqueza e Sociedade; A Pesquisa que são expostas de uma forma didática, fornecendo um amplo roteiro das teorias fundadoras da disciplina e suas especificidades. Com isso, converte-se num guia de grande utilidade, não só para alunos de graduação em Ciências Sociais, mas também para os demais interessados de outras áreas, como as do Direito, Medicina, Psicologia e Comunicação Social. A linguagem clara e concisa dos autores permite até mesmo aos leitores leigos uma visão abrangente e atualizada dos principais temas tratados em Antropologia, sem recorrer a simplificações excessivas. Em geral, há uma carência de obras desta natureza, em especial para os professores que lecionam as disciplinas básicas e que necessitam de um roteiro sólido e acessível para introduzir os alunos na aventura antropológica. O livro traz ainda em cada um de seus capítulos uma seção com leituras suplementares tanto de textos clássicos, quanto de textos recém publicados, com um elenco de obras em lingua portuguesa.

Na última parte destinada à pesquisa, os autores salientam questões pontuais, quando afirmam que a peculiaridade da pesquisa em Antropologia, comparando-a com as demais Ciências Sociais é " sobretudo a prolongada familiaridade desde dentro, numa relação direta e de comunicação com um grupo, uma região, uma comunidade política, linguística ou residencial" p 423 Ou seja, enfatizam o essencial da pesquisa antropológica que são as sutilezas, as subjetividades que as demais áreas não conseguem captar e que a tornam, por isso mesmo única e exclusiva para aqueles que desenvolveram a sensibilidade do olhar antropológico.

Envolvendo amplos segmentos da sociedade, que, há muito, extrapolaram as fronteiras da comunidade acadêmica, a Antropologia Social apresenta-se como um campo de saber que, por sua diversidade, riqueza e heterogeneirade da experiência humana no tempo e no espaço. Pois nesta sociedade altamente competitiva, alguns a chamam pós-moderna com a ênfase colocada sobre o indivíduo, na qual as lutas coletivas foram trocadas pela idéia de superação pessoal.

Revista Horizontes Antropológicos

Children and the politics of culture


Claudia Fonseca

Universidade Federal do Rio Grande do Sul - Brasil

Stephens, Sharon. Children and the politics of culture.Princeton: Princeton University Press, 1995. 232 p.

Como qualquer obra clássica, Children and the politics of culture, organizado por Sharon Stephens, tece reflexões pertinentes a debates teóricos que vão bem além do tema central. Os colaboradores deste volume trazem uma contribuição importante não somente para a pesquisa de uma categoria emocionalmente carregada, "infância", mas também para todo trabalho voltado para o papel do Estado na mediação de diferenças culturais e desigualdades políticas e econômicas. Já na sua introdução, a organizadora avisa que os cientistas sociais escrevendo nesse livro têm ume preocupação comum : explicitar o conteúdo político de um assunto que é frequentemente sentimentalizado ou visto como "natural". Assim, levam a análise além da discussão ariesiana habitual para perguntar por que, em determinados contextos, privilegiam-se certas representações da infância e não outras.

Em certos artigos, a criança serve como ponto de partida para falar sobre formas de discriminação contra um determinado grupo étnico ou nacional. Assim, por exemplo, vemos a maneira particular como crianças e adolescentes deslancharam os eventos históricos de Soweto na Africa do Sul e como foram violentamente reprimidos. Também vemos como os filhos de imigrantes turcos na Alemanha sofrem a pior forma de exclusão por não gozarem plenamente dos direitos de cidadão em nenhum dos países entre os quais transitam. E, no artigo final do livro, a organizadora mostra, através da análise de desenhos e entrevistas com crianças, como o debacle nuclear a Chernobyl acabou influenciando não somente a vida material, mas a própria identidade étnica, das populações indígenas sami quando tiveram que eliminar de seu regime alimentício a carne contaminada das renas.

Em outros artigos, enfocam-se a infância como etapa específica de preparação para a vida, com analises centradas no sistema educacional. Por exemplo, o artigo por Norma Field descreve a tremenda pressão que as crianças japonesas sofrem para alcançarem êxito escolar. Desde a comercialização de berços para estimular a inteligência de recém-nascidos (berços trocados mensalmente para "acompanhar o desenvolvimento" do bebe) até a brutalidade física dos professores e as doenças "adultas" - consequênica de estresse - de alunos da escola primária, a autora nos apresenta com argumentos convincentes. Alega que, para assegurar o sucesso de seus filhos no sistema altamente competitivo do capitalismo avançado, os japoneses contemporâneos investiram-se numa criança trabalhadora e consumidora, produzindo uma variante particular da infância "moderna" - bem afastada das noções sentimentais hegemônicas. Os artigos sobre Korea e sobre a didática paternalista das escolas na Indonésia de Suharto trazem perspectivas comparativas sobre a maneira em que um sistema educacional direciona sua pedagogia para a formação de uma personalidade adequada à proposta política e econômica do país.

Um artigo sobre a "criança interior", noção usada na terapia de adultos norte-americanos, mostra outra maneira como determinadas representações de infância são alimentadas pelo contexto particular. A autora, Marilyn Ivy, analisa discursos mediaticos sobre crianças desaparecidas e abusadas, apontando para exageros, questionando deslizes analíticos e concluindo que a inflação retórica dessas noções pode produzir efeitos negativos. Por exemplo, a hipertrofia da noção de abuso (que inclui hoje uma pletora de danos emocionais e psicológiocs - verificáveis ou não) arrisca banalizar atos manifestamente violentos; a procura adulta pela "criança interior" pode resultar "numa tentativa desesperadamente narcissista" de subsumir pais e filhos dentro de um único sujeito, deixando em segundo plano a fragilidade de uma infância temporalmente limitada. Sugere, enfim, que boa parte da histeria que circunda o abuso infantil revela um deslocamento da angustia provocada por formas mais mundanas e corriqueiras de violência contra jovens americanos do capitalismo tardio onde uma em cada cinco crianças vive na pobreza.

O artigo de Mary John sobre "os direitos da criança numa cultura de mercado liberal" aprofunda a análise das políticas estaduais quanto ao bem-estar das crianças, mostrando como as reformas no sistema educacional ingles, sob a influência de Thatcher (e, indiretamente, Reagan) têm enfatizado noções de igualdade e individualismo auto-contido (self-contained individualismo) em detrimento a considerações quanto à desigualdade e coletividade (ensembled individualismo). Através da política social, perpassa a idéia da Nova Direita de que a "família" (na sua forma a-histórica) deve ser agente socializador principal dos jovens. A criança é construída como objeto de conhecimentos especializados (da psicologia, pedagogia, etc.), deixando em segundo plano o contexto político e econômico que subjaz sua condição na sociedade. O artigo sobre Singapore, por Vivienne Wee pinta em termos ainda mais alarmantes a intervenção do Estado em assuntos familiares Numa clara analise, mostrande conexões entre a política demográfica de um país com sua moralidade política e social, ela descreve três fases na historia da pequena nação multi-étnica. Do laissez-faire colonialista, passamos pela proposta de um controle geral da natalidade da fase pós -guerra (1949-1983), até a politica assumidamente eugenista da epoca mais recente em que o recado enviado pelo primeiro ministro era: que tenham filhos os que merecem ser reproduzidos. Assim mulheres com diploma superior (em geral, de origem chinesa, como o primeiro ministro) recebem vantagens especiais a partir do terceiro filho enquanto aquelas mulheres (em geral de origem malay) sem diploma secundario recebem ajuda financeiro do governo apenas se nao tiverem mais de dois filhos.

Muitos artigos do volume mostram como a categoria de infancia nao pode ser analisada sem levar em consideracao a complexa interacao de fatores ligados a classe e etnia. Manuela Carneiro da Cunha traz o arsenal teorico resultante de pesquisas entre grupos indigenas da Amazonia para lembrar o quanto a identidade etnica e construida em termos dinamicos, atraves de interacoes concretas. Como outros autores do volume, ela coloca perguntas quanto aos termos usados na Convencao dos Direitos da Crianca onde cada jovem e garantido o direito a uma identidade cultural. Cunha pergunta se o documento nao deveria falar, antes, da "preservacao da capacidade para a producao cultural." Kathleen Hall, na sua pesquisa sobre adolescentes sikh em Londres retoma questoes levantadas por Cunha, demonstrando a maneira criativa em que esses imigrantes de segunda geracao se deslocam entre diferentes zonas morais, jogando entre as herancas sikh e britanica. Critica modelos analiticos calcados no "biculturalismo" por privilegiarem oposicoes binarias - indu-ingles, tradicional-moderno, preto-branco - que existem somente ao nivel ideologico. Propoe deixar de lada essas dicotomias, formas objetivadas de cultura, para se concentrar nos processos mais fluidas, ambiguas e plurais da producao cultural que ocorre na vida cotidiana. Recorrendo a uma perspectiva inspirada em Bourdieu, a autora segue os jovens sikh enquanto circulam entre as esferas da escola, familia, relgiao, e namoro para investigar como produzem e experimentam sua identidade nas rotinas do dia-dia.

Em suma, trata-se de um livro que desconstroi o conceito univoco de infancia, dando pistas metodologicas e teoricas de como melhor explorar esse tema em casos concretos e contextos historicos precisos. Traz textos de facil leitura, accessiveis a um publico leigo, que no entanto nao abrem mao da profundidade e rigor da pesquisa antropologica.

Revista Horizontes Antropológicos

Indigenismo e territorialização: poderes, rotinas e saberes coloniais no Brasil contemporâneo

José Otávio Catafesto de Souza
Universidade Federal do Rio Grande do Sul - Brasil


OLIVEIRA FILHO, João Pacheco (Org.). Indigenismo e territorialização: poderes, rotinas e saberes coloniais no Brasil contemporâneo. Rio de Janeiro: Contra Capa, 1998. 310 p.

Em Indigenismo e Territorialização encontramos textos antropológicos que se distanciam das falsas expectativas e certezas que os "índios" despertam entre os brasileiros, erradamente representados como fiapos de humanidade prestes ao desaparecimento frente ao avanço inexorável da civilização. Há também uma postura crítica ante o indigenismo rondoniano e ante as práticas governamentais vigentes. Desde a apresentação do livro, João Pacheco contrapõe-se à idéia de aniquilamento populacional e cultural dos índios, argumentando que a feição recente apresentada pelas sociedades indígenas não resulta de algo que lhes seja intrínseco, mas é são sim "...o resultado da compulsão das elites coloniais em instituir a homogeneidade, tentando abolir com ferro e fogo as diferenças culturais, religiosas e políticas" (p. 8). Em se tratando da territorialidade indígena, impossível tratá-la fora dessa perspectiva processual, que as reconhece como fruto da constrição colonial e de sua sucessora, organizada em parâmetros agora nacionais.

A publicação é oriundado projeto PETI (Projeto Estudo sobre Terras Indígenas no Brasil: invasões, uso do solo e recursos naturais) coordenado por João Pacheco de Oliveira, desenvolvido no Museu Nacional (RJ) entre 1983 e 1994 e financiado pela Fundação Ford, que tem como um de seus importantes resultados a publicação da coletânea Indigenismo e Territorialização: poderes, rotinas e saberes coloniais no Brasil contemporâneo. A leitura dos textos contidos nesta obra ilumina amplamente o assunto. Para estudantes interessados na temática indígena, para profissionais que exercem a perícia antropológica e para teóricos da etnologia indígena a leitura destes textos mostra-se fundamental.

Em verdade, o trabalho desenvolvido pela equipe do PETI dá sua contribuição dentro de toda uma tradição de pesquisadores engajados no estudo, na visibilidade e no reconhecimento do direito à sobrevivência física e cultural das populações indígenas por eles estudadas. Passando por Curt Unkel Nimuendaju, Darcy Ribeiro, Roberto Cardoso de Oliveira e tantos outros, essa tradição concilia o estudo da etnografia e da etnologia indígenas com a aplicação das suas descobertas para influenciar as políticas sociais e a administração governamental dos direitos indígenas. É por isso que o PETI teve como proposta básica o monitoramento independente do processo de criação e reconhecimento oficial das terras indígenas no Brasil. O caso da regularização das terras indígenas é bastante ilustrativo da atualidade e da urgência da demanda, ainda mais porque, enquanto processo administrativo e judicial, é assunto que já deveria ter sido finalizado em 1993, segundo definido pela Constituição Federal de 1988.

O conjunto de textos tem em comum o fato de realizarem uma "...análise processual do poder, considerando-o como um conjunto de mecanismos, estratégias e compulsões que são realizados e intervêm sobre os indígenas e suas coletividades na definição dos seus direitos territoriais"(grifos do autor). O poder não é tratado como representação, mas como exercício de deslocamento e supressão de vontades dos sujeitos inseridos em uma situação colonial. Em cada um dos textos é realizada uma microanálise antropológica da tessitura das relações normativas quotidianas dos aparelhos de poder determinantes na dimensão fundiária e na constituição das Terras Indígenas. Assim, o indigenismo e a ação indigenistas são focalizados como forma de territorialização das populações indígenas.

Além da introdução, João Pacheco assina também quatro capítulos do livro. No primeiro ("Redimensionando a questão indígena no Brasil: uma etnografia das terras indígenas") ele expõe os parâmetros conceituais e metodológicos gerais norteadores dos trabalhos seguintes. Aponta mais ao entendimento dos processos sociais que homogeneizam os grupos indígenas dentro da sociedade nacional, e, menos para o interior específico de cada um deles. O texto assume uma posição totalizante e histórica, defendendo e realizando uma etnografia dos processos sociais envolvidos no estabelecimento das terras indígenas no Brasil, em sua manifestação enquanto "...processos jurídicos, administrativos e políticos pelos quais o Estado é levado a reconhecer determinados direitos dos índios à terra" (p. 17). O autor extrai os dados diretamente obtidos na leitura da documentação da Fundação Nacional do Índio (FUNAI) e do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), analisando-os qualitativa e quantitativamente a fim de entender a conceituação oficial de "terra indígena", detalhar os meandros dos processos administrativos de demarcação e um amplo diagnóstico dos estágios de tramitação do conjunto de terras indígenas em território nacional.

São apresentados quadros detalhados e percentuais comparativos em escala nacional, alguns com o propósito de demonstrar a variação histórica e regional do processo de demarcação antes e durante a existência da FUNAI. Ao final, conclui que é necessário redimensionar a questão indígena no Brasil, lamentando a pouca fundamentação sociológica que há para o debate sobre o assunto junto à burocracia. Por isso, o autor recoloca o assunto de um ponto de vista sociológico que não se reduz ao legal nem ao administrativo. Sua conclusão não poderia ser outra sobre a FUNAI: "Existem no entanto dentro do próprio órgão mecanismos internos de controle e contenção das demandas indígenas por terra e das identificações e propostas de áreas realizadas por seus funcionários" (p. 37). Finaliza por desdobrar o conceito de "funil fundiário" para entender a forma como se processa esse controle e contenção.

O segundo capítulo de João Pacheco ("Terras Indígenas, Economia de Mercado e Desenvolvimento Rural") tem por finalidade expor os resultados obtidos na análise da documentação oficial, a fim de responder a algumas questões fundamentais sobre as terras indígenas no Brasil. "Quantas são as terras reivindicadas e/ou controladas pelos grupos indígenas brasileiros? Quais são as outras destinações que recebem essas terras, em contradição com a sua utilização pretendida pelos próprios índios? Como se situam as terras indígenas quanto ao estoque total de terras do país e como podem obstaculizar programas de colonização e desenvolvimento agrário?" (p. 43). O texto é rico em dados sistematizados em gráficos percentuais, organizados em termos das fases do processo de demarcação (Não-Identificadas, Identificadas, Delimitadas, Homologadas e Regularizadas) e em cruzamento com outras variáveis. Os resultados dos quadros comparativos montados pelo autor permitem criticar cientificamente a política indigenista e sua base de cálculo fundada na relação ha/índio, que justifica considerarem os índios poucos para habitarem tantas terras e outras crenças vigentes no meio oficial.

O terceiro capítulo, escrito na co-autoria entre João Pacheco e Alfredo Wagner Berno de Almeida ("Demarcação e Reafirmação Étnica: um Ensaio sobre a FUNAI") está baseado numa etnografia realizada nos arquivos e no quotidiano da FUNAI e o texto possui uma diretiva ensaística, articulando observações, críticas e recomendações quanto aos procedimentos administrativos concernentes à criação das áreas indígenas. Seus autores objetivam produzir polêmica e estimular discussões, executando uma reflexão livre sobre alternativas possíveis a serem seguidas por esse órgão, criticando o caráter emergencial com que são tratadas todas as suas ações, a falta de uma programação estabelecida, o catastrofismo e o pragmatismo entendidos como marcas da instituição.

Os autores também analisam os limites administrativos do trabalho antropológico na regularização das terras indígenas, na constituição dos chamados "Grupos de Trabalho" (GT), em que a participação indígena é enfraquecida, onde servidores sem formação adequada são convertidos em técnicos de antropologia e não existe um sistema centralizado de documentação necessária à pesquisa, dentre outros problemas. Os dados apresentados permitem concluir que, no conflito entre colonos e índios dentro dos processos da FUNAI, ambos são atingidos por uma ação fundiária que opera com noções colonialistas. A parte final do capítulo propõe a necessidade de se incorporar uma orientação antropológica na intervenção sistemática da instituição, a fim de superar seus limites etnocêntricos, voltando a reconhecer o processo de demarcação como político não sujeito à lógica de exclusão.

O capítulo seguinte é de autoria de Lucy Paixão Linhares ("Ação Discriminatória: Terras Indígenas como Terras Públicas") e segue na compreensão dos mecanismos burocráticos envolvidos na regularização das terras indígenas, analisando diretamente as relações estabelecidas entre o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) e a FUNAI, na medida em que historicamente a legislação considera as terras indígenas como terras públicas no Brasil. Essa contradição de fundo está coadunada com um jogo de ineficiência e omissão mútua com relação à tramitação no reconhecimento dos direitos territoriais indígenas, quadro analisado pela autora do ponto de vista histórico e sociológico.

Ana Lúcia Lobato de Azevedo escreve o quinto capítulo ("A participação do Poder Judiciário na Definição da Terra Indígena") fazendo uma análise da categoria jurídica "terra indígena" a partir da atuação efetiva do Poder Judiciário, usando como material empírico uma série de ações propostas contra a FUNAI perante o Juízo de Direito de Rio Tinto, estando em causa as terras tradicionalmente ocupadas pelos Potiguara na costa da Paraíba. Assim, o Poder Judiciário é considerado como fazendo parte do campo político e não como uma esfera equânime e eqüidistante, nem como situado acima de todos os demais poderes e esferas de decisão social. Algumas idéias de F. Bailey, V. Turner e M. Foucault são retomadas, sendo o pleito em torno dos direitos territoriais indígenas considerados na "arena" administrativa e jurídica. Sua conclusão é contundente: "Na situação brasileira o Poder Judiciário se reveste de características que parecem antes de tudo se opor. De um lado, uma ideologia que acentua o conhecimento da verdade, o justo, equilibrado, racional...; de outro, um acintoso esquema de favorecimentos, corrupção, conchavos" (p. 168).

Antonio Carlos de Souza Lima é autor dos dois capítulos seguintes. No primeiro ("A `identificação' como categoria histórica"), aborda a historicidade da prática federal e republicana de identificação de terras indígenas, considerada como etapa preliminar dos processos administrativos dentro do órgão oficial indigenista. Usa como material empírico normas administrativas e o texto de leis. Souza Lima estuda a constituição histórica das práticas protecionistas do Estado brasileiro sobre os povos indígenas, buscando fazer uma "sociologia das identificações" e comparar a atuação fundiária da FUNAI com a ação indigenista anterior realizada pelo Serviço de Proteção aos Índios (SPI,1910-1967), reconhecendo projetos ideológicos diferenciais e diferentes valores norteadores das práticas administrativas; ainda que, de fundo, nunca se tenha posto em dúvida a crença sobre uma inexorável transformação dos índios em não-índios, sendo o reconhecimento territorial apenas uma forma da consciência culpada do branco tentando ressarcir os povos ameríndios dominados.

Souza Lima também assina o texto intitulado "Os Relatórios Antropológicos de Identificação de Terras Indígenas da Fundação Nacional do Índio. Notas Para o Estudo da Relação entre Antropologia e Indigenismo no Brasil, 1968-1985". Faz uma reflexão sobre a "impensada Antropologia aplicada brasileira"(p. 268), considerando a relação entre a antropologia e saberes administrativos do indigenismo, através da análise dos "relatórios antropológicos de identificação", um tipo específico de documento administrativo da FUNAI situado no início dos processos de regularização fundiária das terras dos índios. Reportando-se a R. Barthes, E. Bruner, M. de Certeau, M. Foucault, J. Jamin, G. Marcus e outros, analisa diversos aspectos que levam ao entendimento dos parâmetros de objetividade incorporados na narratividade dos relatórios antropológicos (o "realismo etnográfico", p. 228), que acabam forçando a dimensão étnica para seu enquadramento burocrático num status jurídico fixado em normas legais e administrativas.

Reconhece que a maior ou menor aceitação frente a tal status depende de critérios implícitos e representações vigentes subjetivamente entre os servidores responsáveis pelos trâmites dos processos, fazendo com que os cientistas sociais envolvidos "...sejam tragados pelas práticas quotidianas de aparelhos de gestão de populações e espaços juridicamente diferenciados, submetidos a controle administrativo estatizado de caráter permanente" (p. 264). As sociedades indígenas, objeto de estudo em tais relatórios, são consideradas de maneira funcional e suas áreas tratadas apenas do ponto de vista utilitário.

João Pacheco assina também o capítulo final intitulado "Os instrumentos de bordo: expectativas e possibilidade de trabalho do antropólogo em laudos periciais" (p. 269). Como o anterior, esse é um texto destinado a fornecer instrumentos analíticos adequados para antropólogos, advogados e juristas integrados no roldão de processos administrativos e judiciais em torno às demandas indígenas. O autor parte do alerta sobre o conjunto demasiadamente amplo de tarefas e expectativas depositadas no fazer de antropólogos em tais processos. Questiona-se sobre a validade da perícia antropológica, já que ela parte de interesses e questões outros que não os da ciência, podendo levar ao abandono do rigor conceitual e da vigilância metodológica próprios à disciplina científica. O exercício do texto "...é o de retomar, à luz das contribuições e dos impasses da moderna pesquisa antropológica, as perguntas dirigidas aos antropólogos no âmbito de laudos periciais" (p. 271).

Enfim, os textos da coletânea Indigenismo e Territorialização trazem subsídios teóricos e empíricos fundamentais para todo aquele que se iniciam no fazer ou já estão fazendo ciência social qualificada, sem receio da possível aplicação do conhecimento produzido na crítica e no ajustamento das políticas sociais concretas. A função social do conhecimento antropológico também está plenamente realizada nessa obra e espera-se que se torne referência obrigatória aos formuladores das políticas e aos servidores das agências indigenistas, dentro e fora do Estado brasileiro. O trabalho do PETI mostra-nos como é possível consolidar uma postura teórica sem abdicar da crítica aos mecanismos oficiais de tratamento da questão indígena, atualizando o fazer antropológico como "técnica" capaz de explicitar certos limites do fazer técnico adotado pela burocracia estatal. Manter-se sem crítica frente à permanência dos poderes coloniais, legitimados no seio da administração pública e reatualizados em meio a tanto liberalismo econômico, é tomar parte do senso comum etnocêntrico e etnocidário típico da história de atuação política das elites brasileiras, supondo ser isso a propalada neutralidade científica.

Revista Horizontes Antropológicos

Cenas do Brasil migrante

Francisco Pereira Neto
Universidade Federal do Rio Grande do Sul* - Brasil


REIS, Rossana Rocha; SALES, Teresa (Org.). Cenas do Brasil migrante. São Paulo: Boitempo, 1999. 311 p.

O livro organizado por Rossana Reis e Teresa Sales demonstra os bons frutos alcançados pelo interesse das pesquisadoras em ampliar o debate sobre o tema da migração. Cenas do Brasil Migrante traz uma variedade de enfoques sobre os problemas que envolvem os fluxos migratórios de brasileiros para outros países, especialmente para os países que usufruem de uma estrutura econômica privilegiada em relação ao Brasil. No caso específico desta obra, o interesse dos autores é estudar esse fenômeno migratório, de grande relevância estatística nos anos 80 e 90, tratando dos casos das migrações para os Estados Unidos e para o Japão.

O livro é o resultado da contribuição de diversos autores sobre um tema que têm correspondência direta com os efeitos do processo de globalização em sociedades periféricas como o Brasil. As dificuldades econômicas que esse processo trouxe para essas regiões, aliado a uma ampliação das possibilidades de contatos com o mundo desenvolvido através do aprimoramento tecnológico dos meios de comunicação e de transporte, sedimenta a possibilidade dos brasileiros de compartilhar dos benefícios de uma vida desfrutada em países do primeiro mundo. Em se tratando das migrações para os Estados Unidos, especialmente, mas também para o Japão, fica claro que trata-se de um deslocamento de mão-de-obra para ocupar postos desqualificados na estrutura produtiva dos países receptores. Essa condição do migrante brasileiro perpassa todos os textos, mas é diretamente tratada pelo texto de Valéria Scudeler ao analisar a situação dos migrantes valadarenses no mercado de trabalho dos EUA. Assim, o conjunto dos textos desautoriza um entusiasmo acentuado sobre as possibilidades que as populações das regiões periféricas do capitalismo estão tendo com o aumento da mobilidade populacional no mundo globalizado.

Essa conclusão não é a melhor contribuição que o livro, Cenas do Brasil Migrante, traz para os debates no campo das ciências sociais. Até porque parece estar ficando cada vez mais claro quem ganha e quem perde na atual estrutura econômica mundial. O quê a obra indica de mais interessante são as possibilidades que as novas condições de mobilidade populacional abrem para os estudos sobre identidade, uma vez que o estado de desterritorialização a que os migrantes estão submetidos coloca a necessidade de se pensar o fenômeno da identidade diante de novas condições, um contexto que Gustavo Lins Ribeiro define como o da cidadania transnacional. Portanto, é um cenário com ingredientes diferenciados em relação àquele que sustentou o importante fluxo migratório de estrangeiros para o Brasil no período compreendido entre o final do século XIX e meados do século XX, sem que se pense, por outro lado, que esses processos não estejam interrelacionados. O livro contém um conjunto de artigos que tratam do fluxo de um grande contingente populacional da cidade de Governador Valadares (MG) para os EUA, que se acentua no contexto dos anos 80 e 90, mas que se refere também a uma tradição migratória de seus habitantes para aquele país, construída em função importância que a presença de uma empresa americana de mineração teve para a região quando lá esteve presente, nos anos 40. Os artigos de Gláucia de O. Assis, Weber Soares e Valéria C. Scudeler indicam essa relação. Em relação ao caso japonês, é evidente que o atual fluxo migratório, incentivado pelo contexto atual, adquire seu formato específico e suas motivações especiais em função da história da migração japonesa para o Brasil, na primeira metade do século XX. As questões que envolvem o processo de construção identitária destes migrantes brasileiros, descendentes de japoneses e com forte sentimento de pertencimento a um Japão imaginado, vão dar o tom das análises sobre o fenômeno da migração para o Japão.

As novas condições em que ocorrem os fluxos migratórios na atualidade reforçam o consenso em torno da idéia de que as identidades são produzidas pelo contexto sócio-cultural em que estão inseridos os atores sociais, que a identidade não deve ser vista com algo substancializado e fixo, como demandavam as perspectivas culturalistas que percebiam a cultura como algo demasiadamente estanque. As contribuições de Lévi-Strauss, mas especialmente de Barth e Roberto Cardoso de Oliveira para os debates sobre a identidade estão sem dúvida reafirmadas nos artigos de Cenas do Brasil Migrante. Porém, o quê me parece mais interessante nos artigos que compõem o livro é a diversidade de ângulos pelos quais esse fenômeno da migração é tratado, fato que pode se explicado pela diversidade metodológica no tratamento da questão. É verdade que esta característica do livro se expressa com muito maior força nos estudos sobre a migração para os EUA, deixando transparecer a idéia que a presença dos artigos sobre a migração para o Japão é um contraponto para acrescentar ainda mais aos esforços de pesquisa sobre a realidade da migração para os EUA. Porém, este eventual desequilíbrio no tratamento dos temas não diminui a importância dos artigos sobre o Japão no corpo da obra, uma vez que eles conseguem servir como contraponto e mostrar que esses fluxos migratórios, basicamente de mão-de-obra, seguem percursos diferenciados e se estruturam sob estruturas de significado diferentes.

No caso da migração para o Japão, por exemplo, a ênfase na consangüinidade é central na produção das tensões que perpassam a ambigüidade identitária dos migrantes que experimentam a vida no Japão e no Brasil. No caso da migração dos brasileiros para o EUA temos o estranhamento cultural com a sociedade receptora, uma sociedade estruturada para receber seus estrangeiros através da inserção no modelo do multiculturalismo, onde a legitimidade da diversidade cultural como um tema político é constantemente articulada no cotidiano do migrantes em território americano. Teresa Sales analisa o processo de adaptação dos brasileiros mostrando as dificuldades impostas pelo dilema de quem veio com um projeto de permanecer por algum tempo no país estrangeiro, juntar alguns recursos materiais através de muito trabalho, para depois retornar ao Brasil; mas que, com as dificuldades para sobreviver no Brasil e com os ganhos da inserção nesse novo espaço, começam a repensar o projeto da volta. Esse dilema não é fácil de resolver, pois estão na balança uma vida muito mais rica em termos de sociabilidade no Brasil em contraste com as condições materiais superiores encontradas no novo país. O fato do nascimento de filhos em solo americano e a superação da condição de ilegalidade parece serem determinantes para a decisão de permanecer. Teresa Sales mostra a importância que os jornais produzidos para brasileiros nos EUA, normalmente de ênfase comunitária, já indicam uma inserção mais perene de brasileiros nos EUA. É interessante notar que essa "opinião pública" brasileira nos Estados Unidos, quando fala do Brasil (o que é freqüente) procura ressaltar as notícias que reforcem um quadro negativo da situação do país, facilitando a decisão daqueles que pretendem permanecer. Na mesma linha, o artigo de Lins Ribeiro procura mostrar os diferentes cenários onde os brasileiros vão conformando uma identidade própria, importante para relacionar-se no universo do multiculturalismo americano. São bares com comidas típicas e espaço para música brasileira, a participação em desfiles carnavalescos e campeonatos de futebol (é interessante perceber a importância da vitória da copa do mundo de 1994 para os brasileiros nos EUA), os espaços em que se ritualiza uma identidade brasileira em terras americanas. Como um bom ritual, ali estão colocados para os próprios brasileiros e para a sociedade circundante o quê caracteriza um brasileiro em espaço americano, onde brasileiro deixa de ser uma definição de nacionalidade para representar o pertencimento a um grupo étnico.

Já os artigos sobre a conexão EUA-Valadares mostram como os processos migratórios trazem transfomações importantes mesmo na sociedade de origem. Esse fato pode ser dimensionado no estudo de Weber Soares sobre as mudanças no mercado imobiliário de Valadares e de suas conseqüências sociais em função das remessas dos brasileiros que trabalham nos EUA. Numa outra perspectiva o texto de Gláucia de Oliveira Assis, utilizando de forma muito criativa da correspondência dos migrantes com suas famílias no Brasil, demonstra a importância da estrutura familiar no processo de migração, funcionando como um elemento de apoio tanto emocional como material para os que decidem levar adiante seus projetos. Aqui a família parece ser uma instituição central no processo, assim como as igrejas nos EUA acabam se tornando uma referência básica para os brasileiros que se aventuram numa terra estrangeira. Cristina B. Martes mostra como o imigrante se insere em redes de sociabilidade importantíssimas através da participação nas igrejas, o quê, além de conforto emocional, propicia o acesso ao trabalho através da ajuda dos outros praticantes. Como coloca a autora, a ação das igrejas acabam por legitimar a situação dos migrantes ilegais no contexto da sociedade americana.

Sem dúvida, o livro Cenas do Brasil Migrante resgata a complexidade dos processos migratórios da atualidade, deixando claro que as novas condições de interface entre os povos nos colocam em contextos de interação mais dinâmicos, onde os referenciais culturais não podem ser vistos como substâncias essencializadas. Por outro lado, essa complexidade nos alerta sobre o equívoco de centrar demasiadamente o reconhecimento da identidade contemporânea nas estratégias de um indivíduo autônomo, que experimenta um mundo culturalmente homogêneo, sem fronteiras. As fronteiras existem, só que muito mais acessíveis às constantes negociações de seus referenciais simbólicos.


* Doutorando em Antropologia Social.

Revista Horizontes Antropológicos

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Sociedade de consumo

Marluce Pereira da Silva
Universidade Federal do Rio Grande do Norte –Brasil


BARBOSA, Lívia. Sociedade de consumo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004. 68 p.

Lívia Barbosa, antropóloga, professora de antropologia da Universidade Federal Fluminense e consultora da Escola de Propaganda e Marketing do Rio de Janeiro, em seu livro Sociedade de Consumo, nos proporciona uma discussão concisa, porém com teor extremamente circunspeto acerca de duas categorias que, para ela, constituem o entendimento para a atividade de consumir: consumir, seja para fins de satisfação de necessidades "básicas" e ou "supérfluas" (p. 7). Tais categorias conduzem à questão imperativa: o que significa consumo numa sociedade caracterizada na contemporaneidade como, entre outros rótulos, sociedade de consumo? Recorrendo a diferentes abordagens que nortearam suas discussões, a professora se propõe a observar, do ponto de vista de alguns estudiosos, as origens históricas, e a caracterização sociológica, da sociedade de consumo e o consumo no Brasil.

A antropóloga decompõe em cinco seções o conteúdo de suas investigações que aparecem fortemente vinculadas. As denominações das seções aparecem na seguinte seqüência: Sociedade, cultura e consumo; Origens históricas da sociedade de consumo; As mudanças históricas; Sociedade de consumo: características sociológicas, Estudos de consumo no Brasil.

Para a autora, os debates que permeavam as origens da história do consumo se pautavam em dois eixos: um voltado para o quando e o outro para o que mudou. Havia sinais de mudanças na cultura material da Europa que apontavam para investigações acerca do que seriam esses novos artefatos da cultura material e como eles estavam sendo difundidos na sociedade. Em relação ao quando, polêmica ainda não bem resolvida entre os estudiosos, o período varia entre o século XVI até o XVIII, todavia, quanto às mudanças ocorridas, registra-se pacificamente que algumas atingiram a cultura material dessa época.

Na década de 1980, a partir do interesse de historiadores que propunham revisão acerca do destaque que foi dado à Revolução Industrial, novos acontecimentos concernentes ao consumo passaram a ser vislumbrados. A releitura proposta por esses estudiosos evidenciava, segundo Lívia Barbosa, que a Revolução do Consumo e Comercial antecedeu a Revolução Industrial, e aquela constitui um forte elemento na modernização ocidental. A atribuição dada às novas tecnologias engastadas à Revolução Industrial, como responsáveis pela expansão do consumo, não é ratificada tendo em vista que a emergência das invenções tecnológicas incidiu-se numa época um tanto distante da exacerbação do consumo.

No âmbito das mudanças históricas, a autora assinala que, no século xvi, ocorreu o surgimento de novos produtos oferecidos a todos os segmentos sociais. Dentre as transformações que afetaram a extensão cultural e as novas formas de consumo, a antropóloga se prende apenas a duas: "a passagem do consumo familiar para o consumo individual e a transformação do consumo de pátina para ao consumo da moda" (p. 19).

A primeira era constituída por grupo com estilos de vida definidos e visíveis pelas suas roupas, padrões alimentares, atividades de lazer, de modo que as opções individuais estavam atreladas às leis "suntuárias" que definiam o que era permitido, ou não, a determinados grupos sociais. Contudo a dependência entre posição social e estilo sucumbe, e, na sociedade contemporânea, o que passa a reinar é o critério da individualidade na escolha dos bens a consumir.

A fluidez e efemeridade das identidades, geradas pela essa nova forma de consumo, não são referendadas por autores como Campbell, Alan Ward e Daniel Miller. A segunda mudança diz respeito à passagem da cultura da tradição, representada pela pátina, para a moda, caracterizada pela efemeridade e individualidade. Lívia Barbosa acrescenta que Zygmunt Bauman reconhece a transitoriedade de algumas práticas de consumo. Para ele, os consumidores estão sempre ávidos de novas atrações e logo enfastiados com as atrações já obtidas (Bauman, 1999, p. 92).

A autora ressalta a necessidade de se tornar clara a distinção entre teorias sobre a sociedade e a cultura de consumo, pois a teoria da sociedade pode definir e analisar o porquê do consumo se tornar tão importante na sociedade. Enquanto as teorias sobre o consumo poderiam responder a inquirições acerca dos processos subjetivos que conduzem a determinadas práticas de consumo, e quais os desejos e mediações que o ato de consumir representa na vida dos indivíduos.

Ao trazer alguns estudiosos que sistematizam sociologicamente a sociedade de consumo, entre outros Fine e Lepold, que selecionam sete temas, considerados, por eles, relevantes no tocante ao que seja sociedade de consumo, Lívia Barbosa reconhece a fragilidade da sistematização desses estudiosos, pois, segundo a antropóloga, esses autores negligenciam aspectos relevantes, entre outros, a não alusão a referências bibliográficas de vertentes antropológicas emblemáticas.

À análise do trabalho de Don Slater, a antropóloga apresenta os indicadores sociológicos que este utiliza na sua definição do que seja cultura do consumidor, evidenciando o teor conclusivo do autor, para quem as teorias da cultura do consumidor não podem ser transformadas em questão de opção por parte deste. Mike Featherstone aparece na seqüência de autores cujas teorias serão analisadas por Lívia Barbosa. Para ela, as discussões de Featherstone seguem direções diferentes dos autores já citados, pois, ao contrário de Slater, ele, ao agrupar em três as teorias sobre a cultura do consumidor, as vincula ao pós-modernismo, vinculação também adotada por outros autores, centrando suas atenções nas teorias neomarxistas, sobretudo nas decorrentes da Escola de Frankfurt para a cultura do consumo.

Jean Baudrillard aparece como autor mais representativo de teorias sobre a produção do consumo. Entre os autores cujas teorias se voltam para os modos de consumo estão Mary Douglas e Baron Isherwood e Pierre Bourdieu. Os primeiros dedicaram as discussões do seu livro o Mundo dos Bens aos economistas e não aos antropólogos e sociólogos. No caso de Bourdieu, o consumo não consistia foco de suas análises; voltado às relações sociais, o estudioso problematiza as práticas de consumo como responsáveis pela criação e manutenção de relações sociais de dominação e sujeição.

A autora menciona Bauman e Campbell, considerando a importância do primeiro pelos trabalhos amplamente difundidos no Brasil. Contudo, tece críticas às suas teses, por considerar que estas atribuem ao consumismo um caráter negativo, responsável pela desagregação social. Campbell reconhece que a insaciabilidade caracterizadora do consumo moderno decorre de alterações ocorridas em torno do século XVII, quando se deu a passagem do hedonismo tradicional para o moderno. A autora considera que Campbell consegue dar uma melhor direção em comparação a outras teorias sobre a sociedade e cultura de consumo.

Ao final de suas análises, a autora oferece um rápido panorama dos estudos sobre o consumo no Brasil. Para ela, a literatura acerca do assunto, difundida no Brasil, não contempla questões filosóficas. Os autores perfilham, via de regra, as orientações de Adorno e Horkheimer, da Escola de Frankfurt, e as idéias de Baudrillard e Marcuse. Na academia, se propagam quatro versões distintas sobre sociedade de consumo e o significado de consumo, em que "duas delas preceituam que a sociedade de consumo é mais hedonista de que outras formas de sociedade" (p. 60). A produção acadêmica é escassa e, até mesmo em grandes centros de pós-graduação, se registra a inexistência de pesquisas voltadas para grupos sociais específicos.

Recomendamos a leitura do livro Sociedade de Consumo, por reconhecermos que a forma como a autora introduz o tema nos instiga a examinar e aprofundar as discussões apresentadas pelos teóricos citados ao final do livro. O fato de a autora apresentar um panorama bem atual – o estado da arte dos rumos das pesquisas sobre o consumo na academia – também nos incita para o encaminhamento de pesquisas em torno de uma questão que, tão fortemente, demarca as três modalidades de existência na contemporaneidade: diferentes, desiguais, e desconectados (García Canclini, 2005, p. 99).

Referências

BAUMAN, Zygmunt. Globalização: as conseqüências humanas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1999.

GARCÍA CANCLINI, Néstor. Diferentes, desiguais e desconectados. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2005.

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