José Carlos Sebe Bom Meihy
Professor - Departamento de História/USP
TURNER, Frederick. O espírito ocidental contra a natureza: mitos, história e as terras selvagens. Rio de Janeiro, Editora Campus, 1990, 309 p. tradução.
Sob a solução ensaística, o autor apresenta uma recomposição do trajeto histórico da humanidade. Partindo da base ancestral do Oriente Médio, o texto é dividido em três partes, a saber: 1) Vultos na névoa; 2) Ritos de passagem e, 3) Assombrações. Um rico roteiro de sugestões bibliográficas arremata o livro. Durante toda a trajetória da narrativa, a indecisão entre a antropologia atropela os apelos históricos, sem que contudo escapem tangentes que tocam a Literatura, Tradição Oral, exegese bíblica.
O princípio condutor do texto é que a humanidade se constitui em uma só entidade. Portanto a base do texto se acenta na idéia da "continuidade". Perseguindo os aspectos evolutivos do passado comum humano, Turner reconstrói uma história epopéica, onde o grande personagem é a figura humana.
A construção de um conceito de história se estabelece em Turner apoiada basicamente nos pressupostos freudianos (p. 64) e é a partir daí que Turner institui uma "vida" para o passado humano. Textualmente, afirma o autor que "Encarada, a história é a crônica lentamente crescente de uma neurose de massa, talvez mesmo uma espécie de bilhete do suicida, de uma humanidade mergulhada numa tentativa sôfrega e inconsciente de terminar com tudo e finalmente descansar" (p.65). Sob esta perspectiva, o passado se assume como uma quintessência da história (p.52) e atravessa o tempo como uma corrente elétrica, consubstanciada pela revelação espiritual.
Religião e mito, se complementam e se contrapõem, ambos se instituindo com vida própria e querendo apressar a história dos homens. Teóricos como Campbell e Mumford servem de base para uma proposta da solidariedade montada em cima do pressuposto que o mito une (p. 111), mas não faltam espaços para que se garanta que ao lado da base mítica da humanidade - padrão comum de sobrevivência - "cada ambiente estimula uma mitologia especial" - (p.24) e esta é a condição do caminho dos homens.
No trajeto da história, Turner seleciona fragmentos "importantes" do passado comum da humanidade. Desde a retomada do mito do Éden até o impulso dado à descoberta da América, Turner contrói uma linha de tempo onde a contradição apenas existe para justificar a própria continuidade.
Mesmo propondo analisar a história do "ocidente contra a natureza" Turner se esquece de evidenciar outros povos que não sejam os que contribuem para que sua narrativa acabe nos Estados Unidos, de onde o autor escreveu.
Revista de História - USP
Professor - Departamento de História/USP
TURNER, Frederick. O espírito ocidental contra a natureza: mitos, história e as terras selvagens. Rio de Janeiro, Editora Campus, 1990, 309 p. tradução.
Sob a solução ensaística, o autor apresenta uma recomposição do trajeto histórico da humanidade. Partindo da base ancestral do Oriente Médio, o texto é dividido em três partes, a saber: 1) Vultos na névoa; 2) Ritos de passagem e, 3) Assombrações. Um rico roteiro de sugestões bibliográficas arremata o livro. Durante toda a trajetória da narrativa, a indecisão entre a antropologia atropela os apelos históricos, sem que contudo escapem tangentes que tocam a Literatura, Tradição Oral, exegese bíblica.
O princípio condutor do texto é que a humanidade se constitui em uma só entidade. Portanto a base do texto se acenta na idéia da "continuidade". Perseguindo os aspectos evolutivos do passado comum humano, Turner reconstrói uma história epopéica, onde o grande personagem é a figura humana.
A construção de um conceito de história se estabelece em Turner apoiada basicamente nos pressupostos freudianos (p. 64) e é a partir daí que Turner institui uma "vida" para o passado humano. Textualmente, afirma o autor que "Encarada, a história é a crônica lentamente crescente de uma neurose de massa, talvez mesmo uma espécie de bilhete do suicida, de uma humanidade mergulhada numa tentativa sôfrega e inconsciente de terminar com tudo e finalmente descansar" (p.65). Sob esta perspectiva, o passado se assume como uma quintessência da história (p.52) e atravessa o tempo como uma corrente elétrica, consubstanciada pela revelação espiritual.
Religião e mito, se complementam e se contrapõem, ambos se instituindo com vida própria e querendo apressar a história dos homens. Teóricos como Campbell e Mumford servem de base para uma proposta da solidariedade montada em cima do pressuposto que o mito une (p. 111), mas não faltam espaços para que se garanta que ao lado da base mítica da humanidade - padrão comum de sobrevivência - "cada ambiente estimula uma mitologia especial" - (p.24) e esta é a condição do caminho dos homens.
No trajeto da história, Turner seleciona fragmentos "importantes" do passado comum da humanidade. Desde a retomada do mito do Éden até o impulso dado à descoberta da América, Turner contrói uma linha de tempo onde a contradição apenas existe para justificar a própria continuidade.
Mesmo propondo analisar a história do "ocidente contra a natureza" Turner se esquece de evidenciar outros povos que não sejam os que contribuem para que sua narrativa acabe nos Estados Unidos, de onde o autor escreveu.
Revista de História - USP
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