João Carlos Nucci
Referência(s):
Paisagens francesas, terroirs, cidades e litorais
Andrea De Castro Panizza (Organizadora)
Editora da FECILCAM (Faculdade Estadual de Ciências e Letras de Campo Mourão, Paraná). O livro encontra-se disponível para download gratuito no site:
http://www.fecilcam.br/editora, no link Obras Digitais
O livro “Paisagens Francesas: terroirs, cidades e litorais”, organizado e traduzido pela geógrafa e doutora Andrea de Castro Panizza, é fruto de pesquisas elaboradas por geógrafos de diversas universidades e institutos de pesquisa da França, especialistas em estudos de paisagens. Os nove capítulos, textos inéditos relacionados às pesquisas desenvolvidas pelos autores, conduzem o leitor a uma viagem por algumas regiões da França, passando por cidades, vilarejos, jardins, vinhedos, baías e ilhas, comprovando a expressividade de sua diversidade paisagística.
No primeiro capítulo, o doutor Bernard Gauthiez, professor titular da Universidade de Lyon 3, escreve sobre a evolução da paisagem urbana do Centro de Lyon, originada há 2.000 anos às margens do rio Saône. Descreve as construções de habitações coletivas do século XVII, com 4 a 6 andares, onde coabitavam burgueses e operários, explicando que com a aplicação, no século XIX e no início do século XX, nos novos bairros dessa mesma regra construtiva, atualmente a distinção de um edifício construído em 1680 de outro edificado em 1840 torna-se difícil, resultando em uma grande homogeneidade do espaço urbano produzido até o final do século XIX. Gauthiez explica que entre 1810 e 1914 ocorreu um desenvolvimento urbano muito rápido e uma destruição de quase metade dos bairros centrais de Lyon em nome da solução dos problemas de insalubridade, que foi acompanhada de um crescimento horizontal, com a canalização de rios, que hoje em dia foram remodelados para o passeio, arborizados com fileiras de plátanos e ladeados por edifícios dos séculos XVIII-XIX. Essa expansão horizontal da mancha urbana ocorreu com maior intensidade após 1945, assim como por toda Europa, na forma de grandes conjuntos de habitação social coletiva, frequentemente situados a 5-10 quilômetros do centro, e na forma de loteamentos de casas individuais até 20-30 quilômetros do centro, perfurando os espaços rurais, às vezes de grande qualidade paisagística. O autor informa que nas últimas décadas o poder público tem dado atenção ao modo de ocupação do solo, impedindo a colonização dos pontos altos da cidade, o que conserva a vista magnífica e, em paralelo, o centro da cidade tem sido renovado, com adaptações das vias para automóveis e construção de estacionamentos subterrâneos, tentando reparar os erros do passado recente, e com ênfase na requalificação dos espaços públicos, para uso de pedestres, recreação e descanso. Porém, mais distante do centro a expansão de loteamentos continua a um ritmo acelerado. Chama-se a atenção para o termo “mitage” utilizado pelo autor para essa questão e que, segundo nota da tradução, significa a multiplicação, o espalhamento, de residências em um espaço rural próximo a uma aglomeração urbana; ainda conforme a tradução, a palavra mitage faz preferência a mite, a traça que corrói tecidos deixando após sua passagem furos aleatórios em um tecido inicialmente uniforme. Com esse crescimento, afirma o autor, Lyon poderá se fundir a cidades vizinhas, como Saint-Étienne a sudeste, cujo centro está a apenas 60 quilômetros, podendo alcançar os 4 milhões de habitantes, gangrenando os espaços rurais cuja qualidade paisagística está cada vez mais comprometida, e com regras de urbanismo banais que unificam a paisagem das cidades francesas, sendo o restante negligenciado. O autor conclui afirmando que a imagem de Lyon, hoje, se constrói principalmente ao redor de projetos pontuais de planejamento, de exibição decididamente contemporânea, mas pouco ancorados na história e no espírito do lugar.
Nathalie Carcaud, Doutora, professora titular do InstitutNational d'Horticulture e Paysage (INHP),Agrocampus-Ouest, Centro de Angers e Arnaud de Lajartre, Doutor, professor da Universidade de Angers apresentam, no segundo capítulo, quatro estilos de jardins: a horta familiar no meio rural, o jardim de recreação, o jardim comunitário e o jardim público. Afirmam que os jardins são fiéis espelhos da nossa sociedade e que as suas concepções cristalizam uma visão em miniatura da sociedade pelo seu criador, agrupando uma grande diversidade de realidades materiais e sociais por causa de sua dimensão, sua localização, suas funções, seus usos, sua história. Sobre o primeiro tipo, a horta, chamam a atenção para o fato de que antes de se ter a necessidade de se produzir alimentos, o mais importante seria o prazer em continuar a dominar o know-how agrícola, da semeadura à colheita. No jardim de recreação, apresentam uma foto de uma vista parcial de uma casa moderna com boa parte do terreno ao redor reservado ao verde e ao lazer e, salientam que esse seria um tipo de espaço que vai contra a uma tendência de adensamento populacional, exigido por lei em uma lógica de densificação do hábitat, onde o sonho da “casa com jardim” se torna cada vez mais impossível, entretanto, comentam os autores que, mesmo assim, certos municípios continuam a vender grandes lotes visando compradores afortunados atraídos pelo alto padrão residencial e paisagístico do território. Os autores explicam que o terceiro tipo, o jardim comunitário, aparece, principalmente, em locais que durante os anos 1950 e 1960 foram construídos edifícios coletivos para a massa operária, com milhões de metros cúbicos de concreto que deixavam pouco lugar aos metros quadrados de terra a ser trabalhada. Sem possibilidades de exercerem os prazeres físicos do manuseio da terra em seu jardim particular, e segundo uma lógica paternalista de alguns chefes de empresas, espaços cultiváveis foram propostos aos assalariados ao mesmo tempo em que as cidades operárias os acolhiam. Assim nasceram os famosos jardins operários, cultivando a relação entre a origem agrícola desta mão de obra e o seu estatuto de proletário industrial. Atualmente, muitas cidades ainda reservam espaços para os jardins comunitários que permitem recriar a relação social entre os habitantes dos bairros, um tanto desumanizados pela imposição do concreto, ou pelas fracassadas políticas urbanas, fábricas de gueto social. Valorizam ainda a possibilidade de um resgate parcial da condição rural, bem como a possibilidade de se conseguir algum tipo de alimento de qualidade reconhecida para a própria mesa. Os autores ainda chamam a atenção de que a melhor agricultura continua a ser, portanto, aquela de proximidade, sendo que o jardim comunitário bate todos os recordes de distância, e se inscreve em uma lógica que respeita a dimensão do terreno na qual os defensivos agrícolas químicos são pouco utilizados. No caso do jardim público os autores apresentam uma questão terminológica, também importante aqui no Brasil, ao se tratar de termos relacionados a espaços verdes. Trata-se do enigma, de difícil resolução, quando se tenta definir os termos “parques e jardins”. Para os autores, qualquer que seja a escala, a definição do jardim reforça o critério do cultivo de espécies vegetais frutíferas ou ornamentais em um terreno, frequentemente, fechado, e que no sentido oposto, os parques historicamente estabelecidos ao redor dos castelos são constituídos de terrenos naturais cercados de bosques ou de campos, nos quais foram traçadas alamedas e caminhos destinados à caça, ao passeio ou ao prazer. Assim, continuam os autores, além da dimensão (um parque pode conter jardins), a diferença entre parque e jardim expressa-se, sobretudo, pelo caráter pretensamente “natural” do primeiro e pela predominância do cultivo do segundo.
No terceiro capítulo, Raphaël Schirmer, Doutor, professor da Universidade de Bordeaux3, faz uma apresentação das paisagens dos vinhedos da França, com descrição dos estilos de adegas de acordo com a solução atribuída à conservação dos vinhos, do meio físico nos quais as vinhas crescem, considerando-se a variação zonal do clima, principalmente às necessidades de água de cada tipo de vinha, as condições do relevo e das rochas. O autor ainda comenta sobre a presença de comunidades humanas, sendo uma das características que mais marcam as paisagens de vinhedos, já que a cultura da vinha sempre necessitou de mão-de-obra numerosa e permitia a sobrevivência de agricultores em pequenas superfícies. Assim, muitos vinhedos apresentam uma coleção de burgos e vilarejos que se estendem a favor de um eixo de comunicação, acrescentando a eles atividades conexas tais como empresas que vendem máquinas, ferramentas, tanques, etc. Acrescenta que a variedade de paisagens não deixa de surpreender, porém, lamenta que a França, diferentemente de outros locais, esteja em um estado de apatia, quando se trata da valorização de tal patrimônio e explica esse imobilismo evocando vários males: as dificuldades econômicas, a atomização das empresas produtoras de vinho que obstrui realizações de grande envergadura, o peso das tradições, ou ainda certa falta de energia e coragem por parte de vereadores ou de atores econômicos. Acrescenta ser necessário considerar também as próprias paisagens, pois considera difícil inserir arquiteturas inovadoras em espaços marcados, geralmente, por uma longa história e com fortes tradições regionais. Também chama a atenção para os espaços urbanizados que, atualmente, estão avançando sobre os vinhedos, não se contando mais os vinhedos que são cortados, direta ou indiretamente, pela construção de estradas, pelo desenvolvimento de zonas industriais ou pelos loteamentos. Novamente aqui, aparece o termo mitage. Conclui, com pesar, que as paisagens vinícolas, devido a sua proximidade com as grandes aglomerações francesas são pouco protegidas e, particularmente, afetadas pelos dramáticos problemas da expansão urbana.
No quarto capítulo, Morgan Rochet, Doutor do Instituto Sandar, Lyon, apresenta as paisagens rurais de Ródano-Alpes, que mesmo passando por uma urbanização dinâmica, com três principais aglomerações Lyon, Grenoble e Saint-Étienne, ainda apresenta uma riqueza de espaços rurais e naturais. Acrescenta que devido à diversidade de rochas, solos e climas a região apresenta-se com sistemas de produções agrícolas muito diferentes: arboricultura, viticultura, horticultura, cerealicultura, produção leiteira, avicultura, aquicultura, etc., ressaltando-se, ainda, as diversidades históricas e culturais para se compreender seu funcionamento e sua originalidade. Afirma que a diversidade das paisagens rurais nascida das agriculturas realizadas em Ródano-Alpes é, hoje, reconhecida e protegida com a ajuda de Unidades de Conservação da Natureza, mas também por meio da proteção dos próprios produtos agrícolas e agro alimentares pelo intermédio dos selos de qualidade. Explica que Ródano-Alpes conta atualmente com mais de uma cinquentena de Apelações de Origem Controlada (AOC), dos quais trinta e seis no domínio vitícola e uma trintena de produtos beneficiados por uma Etiqueta Vermelha, criada em 1960 e que atesta que o alimento possui um conjunto de características específicas, como condições de produção, aspecto gustativo, etc. que lhe confere uma qualidade superior aos seus equivalentes no mercado e que mais de mil e duzentas explorações visam a agricultura orgânica. De forma mais pontual, sobre Dombes, localizada a uns trinta quilômetros de Lyon, descreve a dinâmica de uma paisagem entremeada de lagoas que são utilizadas, de acordo com os anos, ora para o cultivo de cereais, ora para a aquicultura: são 1.100 lagoas que cobrem quase 12.000 hectares e produzem até 400 quilos de peixes por hectare e que, atualmente, integram o patrimônio paisagístico da região Ródano-Alpes. O autor informa que os profissionais do turismo, em estreita colaboração com os agricultores, artesãos e donos de restaurantes, instauraram circuitos de descoberta à destinação dos turistas, que seguirão a pé ou de bicicleta a “rota das lagoas”, animadas pelos únicos homens no mundo que pescam em seus campos. Quanto as paisagens vitícolas da região Ródano-Alpes, o autor ensina que a suas origens não se limitam à influência romana, mas explica-se também pelo período de Cristianização, quando primeiramente padres e bispos e, em seguida, as invasões bárbaras, preservaram e replantaram as vinhas nas portas de suas cidades. O autor também faz uma descrição relacionando os diferentes tipos de vinhateiros da região com as características do meio físico e dos métodos de produção. Nesse ponto, uma nota da tradução esclarece o significado do termo terroir, que derivado do latim territorium, designa o conjunto de aptidões agronômicas (solo, clima, declividade, insolação) de um determinado espaço e que, por extensão, atualmente, esse termo é aplicado na designação de produtos, sobretudo alimentares, com o objetivo de ressaltar as especificidades em relação ao meio local de produção e o know-how. Rochet conclui enfatizando o papel de Lyon, desde 1934, como capital gastronômica associada a menos de vinte minutos a ricas paisagens rurais, atualmente, mantidas por uma agricultura peri-urbana dinâmica e funcionando como apoio do desenvolvimento de um turismo verde e gastronômico.
Jérôme Fournier, Doutor, pesquisador do Centre National de la Recherche Scientifique (CNRS) e Muséum National d'Histoire Naturelle (MNHN), apresenta, no quinto capítulo, Beaune, cidade que vive por e para o vinho,situada no coração da Côte d'Or, na Borgonha, região famosa no Mundo inteiro por seu vinhedo milenar. Segundo nota da tradução, o termo cote (traduzido por “costa”), apresenta denominação local e genérica do relevo de escarpas que delimita o planalto calcário borgonhês, não podendo ser considerado como sinônimo de litoral. O autor informa que foram os romanos que introduziram a vinha na região há cerca de 2.000 anos e que, atualmente, o vinhedo na Borgonha, se estende sobre uma estreita faixa de, aproximadamente 200 quilômetros de comprimento ocupando a Côte d'Or somente um quinto da totalidade. Explica que esta vasta região possui paisagens particularmente contrastadas que diferem tanto por sua geologia, quanto por sua vegetação e sua agricultura, mas também pela forma dos vilarejos e pela arquitetura das casas tradicionais (explorações agrícolas, sobretudo) que variam muito, conforme a sua função e os materiais utilizados. Fournier descreve as paisagens tradicionais da “Costa”, conforme a altitude, a inclinação e orientação das vertentes, o solo e o clima (topo e microclima), elementos fundamentais que explicam as diferenças de qualidade dos vinhos, além do tipo de videira e técnicas de fabricação. Explica que as habitações se agrupam ao redor das igrejas e de forma suficientemente próximas para não ocupar o espaço do precioso vinhedo, estando cada vilarejo totalmente cercado pelas vinhas. A título de exemplo, apresenta como uma das mais famosas vinhas e adegas da cidade de Beaune a de Patriarche, criada em 1780, com números vertiginosos: 3 milhões de garrafas nas adegas subterrâneas longas de 5 quilômetros e visitadas por quase 65.000 pessoas por ano.
Passando dos vinhedos ao litoral, o doutor Fernand Verger, professor titular emérito da École Normale Supérieur (ENS), Paris, apresenta, no sexto capítulo, os problemas da transformação das paisagens relacionadas ao Monte Saint-Michel, localizado em uma baía que apresenta um dos três recordes mundiais de amplitude de maré e que atualmente recebe mais de três milhões de visitantes por ano. Após apresentar uma breve descrição do ecossistema entre-marés, parte para a dinâmica de ocupação da área: uma briga entre conservacionistas e agricultores que cobiçam áreas que podem se tornar propícias ao desenvolvimento agrícola devido às alterações na dinâmica das marés. Informa também que o Monte Saint-Michel, pela vontade dos homens preocupados em ganhar novas terras agrícolas e de facilitar o seu acesso, foi reduzido ao estado de península por ocasião do estabelecimento, em 1879, do dique-estrada que une o Monte ao continente, construção que desde a sua inauguração vem causando indignação a certos grupos, que querem preservar a paisagem de qualquer mutilação, fazendo com que o Monte permaneça uma ilha, preservando a dupla obra da natureza e da arte. O autor informa que a esta posição, que considera tanto a natureza como o valor arquitetural e cultural do monumento prefigurou a inscrição do Monte, em outubro de 1979, pela UNESCO, na lista de patrimônio mundial, com o duplo título de patrimônio natural e de patrimônio cultural. Verger explica que o governo francês e as municipalidades locais decidiram, em 28 de março 1995, empreender trabalhos de grande envergadura a fim de manter o caráter marítimo do Monte Saint-Michel e que o mais novo projeto tem por objetivo restabelecer e manter um ambiente natural e movente de águas e de praias em um espaço suficiente ao redor do Monte, com a transposição para o continente dos parques de estacionamento e pela liberação das muralhas sobre as quais se apóia o atual dique-estrada. O autor afirma que o programa compreende uma operação demandada desde os anos 1880: a supressão parcial do dique-estrada de acesso ao Monte e a sua substituição em mais de 500 metros por uma ponte-passarela, cujos pilares oferecerão somente uma fraca resistência as correntes.
Ainda sobre as paisagens litorâneas, no sétimo capítulo, Laurent Godet e Jérôme Fournier, doutores e pesquisadores do Centre National de La Recherche Scientifique (CNRS) e Muséum National d'Histoire Naturelle (MNHN), apresentam o arquipélago de Chausey no Golfo Normando-Bretão, o mais vasto arquipélago da costa da França. Explicam que o arquipélago, constituído por granito, foi explorado durante vários séculos para a construção do Monte Saint-Michel na Idade Média, do cais de Londres, das calçadas de Paris, até da reconstrução da cidade Saint-Malo após a Segunda Guerra Mundial; assim, o arquipélago constitui uma das mais vastas pedreiras marinhas da França. Os autores fazem uma descrição das diferentes paisagens que se formam devido ao constante trabalho das marés sobre as areias. Acrescentam que recentemente, as culturas de mariscos em estacas de madeira – os bouchots, de ostras e de mexilhão de Manila se desenvolveram amplamente, associadas a uma intensa atividade de pesca a pé que se pratica, essencialmente, por ocasião das grandes marés de sizígia, com milhares de turistas, vindos do continente, para pescar os moluscos presentes nos sedimentos arenosos do arquipélago. Esclarecem sobre a importância do arquipélago como um hot-spot da biodiversidade marinha, descrevendo as várias espécies e como sua distribuição está correlacionada com as marés, o que acaba fornecendo uma diversidade única de paisagens.
No oitavo capítulo, Samuel Étienne, Doutor, professor da Universidade da Polinésia Francesa, Taiti, apresenta o quadro geográfico da Polinésia Francesa, um território ultramar situado no meio do oceano Pacífico, sendo Taiti a principal terra de um conjunto de 118 ilhas. O texto não fica apenas em clichês de cartões postais, na descrição das paisagens do paraíso, mas se preocupa em apresentar a grande diversidade de paisagens na interface terra-mar que enunciam os cinco arquipélagos que constituem a Polinésia Francesa. Étienne ensina como se deu a formação dos arquipélagos, descrevendo as atividades de vulcanismos e o surgimento dos diferentes tipos de ecossistemas de corais. Apresenta as paisagens naturais do litoral, classificando-as em ilhas altas com margem coralínea (Taiti, arquipélago da Sociedade), ilhas altas sem margem coralínea (arquipélago das Marquesas) e ilhas baixas: atol de Tikehau (arquipélago de Tuamotu). O autor apresenta também como ocorreu a evolução dessas paisagens ao longo do holoceno, principalmente quanto a oscilação do nível marinho, o afluxo de águas das geleiras e a modificação no ecossistema coralíneo, como consequência das condições de temperatura e conclui traçando um prognóstico a médio prazo, sobre a possibilidade de uma mudança climática global ocasionar impacto sobres os recifes coralinos polinésios, devido a acidificação do oceano Pacífico ocasionada pelo aumento do gás carbônico atmosférico, o que fragilizaria os organismos de esqueletos calcários e todo o ecossistema associado, além do estresse térmico que poderia aumentar a mortalidade e, a curto prazo, chama a atenção para os tsunamis mas, principalmente, para os ciclones que prometem grandes perturbações das paisagens litorâneas, principalmente as das ilhas baixas.
Por fim, no nono capítulo, Denis Mercier, Doutor, professor da Universidade de Nantes, apresenta as paisagens da França nos Polos, que apresentam uma beleza natural fascinante e também dão suporte para a elaboração de inúmeras pesquisas científicas na França. O autor apresenta as características das paisagens e das bases científicas permanentes francesas no Ártico e na Antártida. Conclui que as paisagens da França nos polos são espetaculares, principalmente, pela presença das geleiras e que essas paisagens estão se tornando o “centro” de todas as atenções no âmbito da compreensão dos efeitos do aquecimento climático.
Como explica Andrea de Castro Panizza, o livro não teve a pretensão de esgotar todas as possibilidades e de percorrer a totalidade dos territórios franceses. Mesmo assim, pôde-se constatar que a amostra é muito rica, mesmo em um livro leve e de fácil leitura, o que comprova a capacidade de síntese dos autores e a habilidade da tradução e de organização, salientando-se, ainda, que cada capítulo passou por uma revisão técnica da tradução, que contou com nove professores doutores de várias instituições de renome, além de contar com mapas, figuras e fotografias de expressiva qualidade.
Por fim, não seria possível terminar sem valorizar o fato de o livro ter sido publicado em formato digital (e-book) e de estar disponível para download gratuito graças a Editora da FECILCAM (Faculdade Estadual de Ciências e Letras de Campo Mourão).