sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Paraíso

Livro: Paraíso
Autora: Toni Morrison
Lançamento: Companhia das Letras - 365 págs

Paraíso" discute 'pureza' da raça negra
MARILENE FELINTO
da Equipe de Articulistas
A escritora norte-americana Toni Morrison lançou no ano passado o romance "Paraíso", primeiro livro que ela publica depois de ter ganho o Prêmio Nobel de Literatura, em 1993.
A história se passa em 1976, em Ruby, pequena cidade exclusivamente negra do Estado de Oklahoma, fundada por ex-escravos que protegem a "pureza" da raça, os valores da família e da religião contra o mundo exterior, supostamente branco e feminino.
O mundo exterior se constitui principalmente de uma comunidade de mulheres que rejeitaram os homens e abandonaram os padrões da família tradicional. Elas vivem num convento e são tratadas como bruxas, ameaçadas pelos ataques de violência masculina.
O paraíso de Morrison fica em algum lugar entre a cidade só negra e o convento só de mulheres. Às vezes é um, às vezes outro, nesse romance que viaja pelo tempo até a época da escravidão nos EUA e confunde o leitor com seu emaranhado de personagens de construção superficial.
O principal tema em questão é (mais uma vez) a identidade negra, o conflito gerado pelos privilégios de cor da pele, o conflito entre patriarcado e matriarcado, entre o passado e o futuro e as questões de fundo religioso.
Os habitantes de Ruby se consideram uma comunidade negra "pura". Orgulham-se de que sua linhagem sanguínea nunca sofreu misturas e adotam a postura de rejeitar os outros como eles próprios foram historicamente rejeitados.
Fosse mais literário, menos dogmático, menos engajado ou moldado nos padrões da "reparação" da raça negra na sociedade racista americana, "Paraíso" seria um romance interessante.
A literatura de Morrison está atualmente em destaque nos Estados Unidos, por conta do lançamento do filme "Beloved", baseado em romance seu do mesmo título (prêmio Pulitzer de 1988, considerado seu melhor livro), e que tem como estrela a apresentadora de TV Oprah Winfrey.
Mas o filme é fracasso de bilheteria. E o romance "Paraíso" não parece ter destino diferente. O discurso de Toni Morrison sofre o desgaste natural reservado às literaturas do engajamento (negras, políticas, femininas etc.) e às literaturas do politicamente correto.
Folha de São Paulo

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