segunda-feira, 19 de abril de 2010

A perda da razão social do trabalho: terceirização e precarização


Helena Hirata

DRUCK, Graça; FRANCO, Tânia (Org.). A perda da razão social do trabalho: terceirização e precarização. São Paulo: Boitempo, 2007, 240 pgs.

Três tipos de escritos são reunidos neste volume que resulta do paciente trabalho das pesquisadoras Graça Druck e Tânia Franco, que há mais de duas décadas se dedicam a estudar as múltiplas conexões entre saúde e trabalho, e a repercussão das políticas de flexibilização das empresas sobre a situação do emprego e a atividade dos trabalhadores. Em primeiro lugar, reflexões teóricas sobre as transformações do trabalho, sua nova "morfologia" e a "nova conformação da classe trabalhadora", segundo as expressões de Ricardo Antunes que abre o volume. Em segundo lugar, a apresentação de resultados de pesquisa de campo substantivos sobre uma região relativamente pouco estudada pelas ciências sociais do trabalho o Nordeste em particular a Região Metropolitana de Salvador. Os autores estudam a terceirização em empresas de ponta, com riscos industriais relevantes para a saúde e o meio ambiente. Eles apontam as principais mudanças e permanências, desde a década de 1990 aos dias atuais. Especialistas no tema, como Jacob Lima, analisam o papel atual das cooperativas no Brasil, e apontam as especificidades dessa forma de organização do trabalho na procura de objetivos similares de flexibilização produtiva. Em terceiro lugar, a consideração da dimensão subjetiva, a partir da expressão dos próprios atores sociais, principalmente dirigentes sindicais de diferentes setores, no Brasil e na França, sob a forma de depoimentos e entrevistas.

O livro reúne pesquisadores que se inscrevem no amplo debate iniciado no âmbito internacional nos anos noventa, a partir da contribuição de Robert Castel "Les métamorphoses de la question sociale", de 1995 (trad.bras.Vozes), sobre a conjuntura mundial de precarização social e de precarização do trabalho. Se os regimes de proteção social e de direitos do trabalho variam enormemente, sobretudo entre países capitalistas avançados e os países ditos em vias de desenvolvimento, o processo de "instabilização dos trabalhadores estáveis" e a vulnerabilidade dos estatutos de emprego atinge hoje trabalhadores de ambos os tipos de países. O livro presta particular atenção à questão da erosão dos direitos dos trabalhadores neste contexto.

Pela grande riqueza de suas contribuições e pelas inúmeras pistas de pesquisa que traz, trata-se de um livro precioso que deve ser lido e divulgado.

Helena Hirata. Diretora de pesquisa do Centre National de la Recherche Scientifique, França. Diretora do Laboratório Genre, Travail, Mobilités-CNRS- Université de Paris X Nanterre Université de Paris VIII Saint-Denis. Pesquisadora visitante da Universidade de São Paulo (FAPESP)

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