Resenha de “O Horizonte Regional do Brasil: Integração e Construção da América do Sul”, Leandro Freitas Couto, por Taís Sandrim Julião
21/09/2009
Pensar as relações internacionais do Brasil exige ao analista a consideração de elementos políticos, econômicos, sociais, culturais e geográficos que sejam capazes de situar um significado singular à experiência internacional do país. A combinação desses elementos e a análise dela decorrente representam, portanto, condição necessária para compreender de que maneira é formulado e articulado seu projeto de política externa, bem como suas variações ao longo do processo histórico.
Este foi o desafio enfrentado por Leandro Freitas Couto, mestre em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília e analista de planejamento e orçamento do Ministério do Planejamento. O livro, todavia, traz mais do que sua dissertação, apresentando resultados mais recentes da pesquisa que está em andamento no doutorado.
O livro está inserido em duas grandes linhas de debate sobre a atuação internacional do país. A primeira diz respeito à abordagem de longa duração, concernente a trajetória da política externa brasileira desde a independência. Nesta seara, o interesse recai sobre o espaço e o posicionamento do país frente a sua circunstância sul-americana.
O autor busca demonstrar que a dinâmica político-econômica do Brasil diante de sua realidade geográfica e, nesse sentido, também geopolítica, não apresenta a continuidade que comumente lhe é atribuída. Percebe-se que o país gradativamente foi se aproximando da América do Sul e, apenas recentemente, construindo as bases para que esta se tornasse o eixo principal de orientação da política externa. O Brasil já teria sido americano, latino-americano e, desde 1990, se tornado um país sul-americano.
É a partir deste diagnóstico que a segunda linha de debate pode ser identificada. Isso porque, ao definir-se pela América do Sul, o Brasil acabou por redimensionar o papel da integração regional no âmbito de sua agenda de inserção internacional. Para o autor, a partir do governo Cardoso coube ao país passar da retórica à atitude pragmática direcionada aos seus vizinhos. E, no governo Lula, esta tem permanecido como a diretriz central da atuação do país, não mais circunscrita apenas em termos de uma agenda regional, mas também de um posicionamento da América do Sul enquanto parte estrutural da plataforma global do Brasil e de sua identidade internacional.
Esta análise foi consubstanciada pelo estudo de oito momentos considerados pelo autor como relevantes na trajetória brasileira em direção à América do Sul: a Área de Livre-Comércio da América do Sul (ALCSA), as Reuniões de Presidentes da América do Sul, o nascimento da Comunidade Sul-Americana de Nações, a Declaração de Cochabamba e a União Sul-Americana de Nações (Unasul), a Iniciativa para a Integração da Infra-estrutura Regional Sul-Americana (IIRSA), o Programa de Substituição Competitiva de Importações (PSCI), o Programa Sul-Americano de Apoio às atividades de Cooperação e em Ciência e Tecnologia (Prosul) e, por fim, os reflexos na agenda de segurança e ainiciativa regional de defesa, o Conselho Sul-Americano de Defesa, concretizada no final de 2008.
Diante deste cenário, o autor destaca o potencial que a região teria de adquirir um perfil não somente econômico, mas também político, social e cultural, marcado pela densidade das relações que estariam induzidas pela contigüidade espacial e identidade geoespacial, capazes de fomentar verdadeiras redes de integração.
Foi realizado amplo levantamento de dados que não se restringem a aspectos econômicos, sendo destacados índices educacionais, de saúde e turismo. O quadro resultante demonstra, entre outros elementos, a heterogeneidade deste espaço geográfico, para o qual se configuram enormes desafios à integração. Para o autor, os dados sobre as interações e conexões entre os países indica um cenário de integração que caminha a passos lentos.
Em síntese, as conclusões do livro apontam para questionamentos diante dos quais o Brasil precisa se posicionar: se a América do Sul é sua circunstância, seria o país responsável por engendrar os instrumentos para que a integração se efetive? Se a América do Sul é seu horizonte regional, a construção desta identidade seria um projeto brasileiro? Pela complexidade das perguntas que o livro provoca, é possível vislumbrar sua qualidade e sua contribuição para a literatura de relações internacionais.
COUTO, Leandro Freitas. O Horizonte Regional do Brasil: Integração e Construção da América do Sul”. Curitiba: Juruá, 2009, 180p. ISBN 978-85-362-2548-7.
Taís Sandrim Julião é Mestranda em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília – UnB (taisjuliao@unb.br).
Meridiano 47
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