segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Vejo a terrra prometida

Vejo a terrra prometida
Artur Flowers, Manu Chitrakar e Guglielmo Rossi, Ed. Martins Fontes


O que acontece quando você junta um poeta norte-americano, um pintor de pergaminhos bengalês, um designer italiano e uma boa história? Pode ser algo como Vejo a terra prometida, livro que traz a incrível história de Martin Luther King e sua luta pela dessegregação dos negros na América do Norte.
Arthur Flowers, escritor, poeta e músico natural de Memphis, traz a história como em um rap. Frases e diálogos soltos ou em boxes que dão uma estrutura ágil e emocionada ao texto. Manu Chitrakar, cantor e pintor de pergaminhos da arte patua que vive no povoado de Naya, em Bengala, dá o clima estupefato e cheio de olhares que o medo e as indecisões da época exigem. Guglielmo Rossi, genovês radicado em Londres, amarra respeitosamente as duas pontas.
Emocionado e negro, Flowers escreve com paixão, deixando clara a importância de Luther King na luta pacífica pela emancipação dos negros e sendo cruel às vezes, como quando conta a queda de King pelas mulheres ou quando critica sua própria cor (“onde há dois negros, não há união”).
A ascensão e o brilho do líder não ficam ofuscados mesmo quando todos os momentos de derrota e indecisão são relatados. King era um mestre da estratégia e da paciência.
Chitrakar, com suas pinceladas naïfs, cria o clima trazendo personagens negros, indianos, brancos ou ku klux klaners com toda a sua indignação, revolta e violência.
Violência essa que encerra a história com a liderança de Malcolm X e seus Panteras Negras, que enterram de vez a possibilidade de uma transição pacífica sem mortos ou feridos como queria King. De pacificador a acusado de vendido, foi um pulo. Abatido, começa a duvidar que sua estratégia talvez tenha envelhecido e que o Black Power seja a solução.
Assim como Malcolm X, o Nobel da Paz Martin Luther King morre como herói de um tempo em que as pessoas não eram tratadas como iguais.
Hum... Taí uma coisa para pensar. Somos hoje todos iguais? Talvez a reflexão que esse livro e essa história nos trazem é a de que sempre haverá alguém que dá sua vida para lutar pelos direitos de todos. Pena que sempre são poucos.

Orlando Pedroso
Artista gráfico e ilustrador, colabora com os jornais Folha de São Paulo e Le Monde Diplomatique Brasil
Le Monde Diplomatique Brasil

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