segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Capitalismo globalizado e recursos territoriais

Capitalismo globalizado e recursos territoriais: Fronteiras da acumulação do Brasil Contemporâneo
Alfredo Wagner Berno de Almeida e outros, Ed. Lamparina


Nascido da iniciativa de um conjunto de laboratórios acadêmicos dedicados à pesquisa social aplicada ao território, esse livro traz nova luz ao debate contemporâneo sobre as inflexões do capitalismo brasileiro nesta década do século XXI. As contribuições dos autores combinam análises macroeconômicas refinadas sobre as transformações recentes da economia mundial, brasileira e da América Latina com reflexões sobre seus efeitos nos territórios, isto é, numa escala, digamos, “real”, em que estão em jogo disputas em torno de recursos territoriais, naturais e sociais. Os artigos oferecem ao leitor análises de alta densidade sobre a face menos gloriosa da expansão das fronteiras do capitalismo brasileiro e suas implicações políticas, sociais e ambientais. Questionam-se, aqui, os rumos e sentidos do que se tem entendido por “desenvolvimento”, com base em estudos que evidenciam a associação indissolúvel entre o processo de acumulação do capitalismo brasileiro contemporâneo e os processos de expropriação territorial e desapossamento sociocultural sobre os quais estão erigidas suas bases. Em outras palavras: a tão celebrada acumulação intensiva do capitalismo brasileiro − setor industrial e de serviços de ponta, alto rendimento do capital e ganhos de produtividade – não é, segundo a perspectiva trazida por essa coletânea, desvinculável dos processos de acumulação extensiva via expansão das fronteiras pela expropriação de recursos comunais e expansionismo territorial predatório. Pela solidez das contribuições de seus autores e atualidade dos temas que aborda, é um livro obrigatório para estudiosos e demais interessados nas transformações do capitalismo brasileiro contemporâneo e, em particular, nas dinâmicas socioespaciais conflituosas nascidas da generalização do processo de acumulação por espoliação induzido pelas políticas de crescimento econômico adotadas pelo país na última década. Seus autores procuram assim encarnar uma postura intelectual que visa, nos termos de Edward Said, mudar o clima moral do debate sobre “desenvolvimento”.

Cecília Campello do A. Mello
Doutora em Antropologia e professora adjunta do IPPUR/UFRJ.
Le Monde Diplomatique Brasil

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