sexta-feira, 27 de julho de 2012

Bolívia: Democracia e revolução (A comuna de La Paz de 1971)


Everaldo de Oliveira Andrade, Ed. Alameda


A Comuna de La Paz, ou Assembleia Popular, movimento operário de cunho político ocorrido em 1971, na Bolívia, em pleno contexto das ditaduras militares na América do Sul, consistiu na organização de um conselho operário e popular que buscava atuação parlamentar. Tendo como base organizações sindicais e o movimento dos mineiros bolivianos, propunha o “aprofundamento e radicalização da democracia”. À medida que se constituía, a Assembleia incorporava setores do movimento camponês, militares de baixa patente, organizações de profissionais da classe média e universitários. Organizava-se de forma a garantir a representação de todas as instituições e movimentos envolvidos, tendo como pressuposto a democracia direta para tomadas de decisão. Articulava comissões e assembleias em vários departamentos bolivianos, buscando combinar a autonomia local e a unidade nacional.
As medidas propostas pela Assembleia Popular buscavam contemplar os interesses dos grupos envolvidos, passando pela redistribuição de terras, reforma universitária, democratização do acesso à arte e cultura, estatização do setor minerador, entre outras propostas de reformas e reestruturação política e social boliviana.
O livro de Everaldo de Oliveira Andrade é resultado de sua tese de douramento pela FFLCH-USP e traz, combinado ao rigor acadêmico, o compromisso com a narrativa dos fatos. A escrita, fluida e instigante, nos coloca diante do importante processo revolucionário de um dos países mais pobres e ao mesmo tempo de população com mais tradição combativa da América do Sul.
O trabalho do autor contribui ao entendimento da realidade boliviana e dos triunfos dos movimentos populares nesse país. Entender o processo que leva Evo Morales à Presidência do Estado Plurinacional da Bolívia passa por conhecer a Comuna de La Paz e seus desdobramentos. Estudar a história da Bolívia é estudar o continente latino-americano, além de processos que nos aproximam e nos envolvem numa história compartilhada de lutas e resistência.


Kena Azevedo Chaves
Geógrafa pela Universidade Estadual de Campinas e pós-graduanda em Gestão Pública e Sociedade pela UFT/Senaes/Gapi-Unicamp. Pesquisa políticas de geração de trabalho e renda na América do Sul.
Le Monde Diplomatique Brasil

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