segunda-feira, 16 de julho de 2012

De Rousseau a Gramsci: Ensaios de Teoria Política


Carlos Nelson Coutinho, Ed. Boitempo Editorial


O fio norteador de De Rousseau a Gramsci é a questão da democracia na teoria política. O livro, dividido em duas partes é composto de oito ensaios, publicados anteriormente em revistas acadêmicas e coletâneas, entre 1996 e 2011, que no conjunto delineiam o perfil intelectual de Carlos Nelson Coutinho. O primeiro ensaio discute a crítica da desigualdade em Rousseau, para quem a sociedade burguesa, baseada na distribuição desigual da propriedade, não cria as condições necessárias para a democracia, definida como expressão política da vontade geral. O segundo trata do conceito de vontade geral em Hegel, que lhe confere uma base objetiva, isto é, determinada por condições históricas e sociais. Hegel avança nesse sentido em relação a Rousseau, que considerava a vontade geral o resultado da evolução virtuosa das vontades dos indivíduos. O terceiro traz as contribuições de Marx e Engels, especialmente no Manifesto Comunista, para o conceito de vontade geral, analisado por eles segundo uma compreensão materialista da história. Para Marx e Engels, o capitalismo é especial entre as ordens econômicas, pois nele surge uma classe social, o proletariado, cujos interesses materiais se orientam para o igualitarismo democrático universal.
Os cinco últimos ensaios são sobre o pensamento político de Gramsci: a redação e as edições de sua obra principal, Cadernos do cárcere, incluindo a chegada de suas ideias ao Brasil; a crítica ontológica a que submete a ciência política; um léxico de seus principais conceitos; as contribuições de um dos principais comentadores da obra do marxista italiano, Valentino Gerratana; e uma comparação entre o pensamento materialista de Gramsci e Lukács. Nesses textos, ficam claras a evolução e a tensão do pensamento gramsciano, que, ao mesmo tempo, busca entender o mundo como ele é e como deveria ser. A análise de Coutinho sobre o pensamento gramsciano é tão conhecida que já se tornou ela mesma clássica, e De Rousseau a Gramsciconsolida ainda mais Coutinho como o principal intérprete da obra de Gramsci no Brasil.

João Alexandre Peschanski
Doutorando em Sociologia pela Universidade de Wisconsin-Madison e integrante do comitê de redação de Margem Esquerda: Ensaios Marxistas
Le Monde Diplomatique Brasil 

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