terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Why Feminism? Gender, psychology, politics*


Why Feminism? Gender, psychology, politics*
Elisabeth Bortolaia

Open University, Inglaterra

Este livro de Lynne Segal é uma busca, dentro de feminismo e dentro de psicologia, para compreender a importância de gênero, sexualidade e política na vida cotidiana e nas metodologias do conhecimento. Why Feminism? Porque é preciso sustentar o projeto de fazer o mundo um lugar melhor não apenas para algumas mulheres, mas para todas as mulheres (e para homens também). Segal deseja convencer as leitoras de que feminismo é tão necessário hoje em dia, como sempre o foi. Esta leitora não necessita ser convencida disto e talvez não seja a melhor pessoa para avaliar o livro em relação a este aspecto. Todavia, o livro é, sem dúvida, atraente para aquelas que querem repensar a trajetória do feminismo desde os anos 70, ou para qualquer outro/a leitor/a interessado/a (por razões positivas, ou até por posições contrárias) nos debates atuais sobre gênero em vários níveis: global, nacional, local, interpessoal ou intrapessoal.

Why Feminism? contém 7 capítulos, e pode ser agrupado em dois conjuntos de leituras. Os capítulos 1, 2 e 7 endereçam assuntos de discussão geral dentro de várias disciplinas que lidam com feminismo. Os capítulos 3, 4, 5 e 6 desenvolvem argumentos mais especificamente ligados à psicologia e psicanálise e, em certa medida, também endereça questões debatidas correntemente em certas áreas de biologia.

No primeiro capítulo a indagação é sobre as diferenças entre o feminismo dos anos 90 e dos anos 70. Obviamente, sendo australiana radicada na Inglaterra desde o início da década de 70, Lynne Segal endereça o feminismo do mundo desenvolvido, particularmente dos Estados Unidos, Reino Unido e França. Ela reconhece o impacto que a crítica feminista do terceiro mundo, e dos grupos menos privilegiados de mulheres negras nos países desenvolvidos, tiveram sobre as visões feministas originais. Para ela, grande parte da teoria feminista da década de 90 não reconhece a localização material das idéias em termos de tempo e lugar, perdendo-se em abstrações.

O capítulo 2 é um dos melhores no livro, desenvolvendo a discussão do pensamento feminista sobre gênero e sexualidade desde os anos 70, passando pelo poststructuralismo e queer theory. O capítulo 3 trata dos debates sobre sociobiologia que recentemente aparecem reciclados como psicologia evolucionária. O capítulo 4 discute o lugar da memória na construção de narrativas do self, particularmente com relação à memória de abuso sexual. Dentre os capítulos que tratam diretamente de psicologia, o 5 me pareceu o mais atraente. Segal mostra como as fronteiras entre psicologia social e certas áreas de sociologia não fazem sentido. No capítulo 6 a autora discute Freud, Lacan e a teoria de relações de objetos. Ela argumenta que as nossas identidades são formadas na sombra das construções heterossexuais (fálicas), e pode ainda demorar muito para liberar mulheres e homens da ambivalência, confusão e dor de viver os efeitos dos mitos culturais que geram antagonismo entre os sexos. O último capítulo abre a discussão sobre o feminismo no novo milênio: as mulheres têm hoje maior independência econômica que erodem os privilégios que os homens tomavam como de direito, tanto em casa como no trabalho; as mulheres têm maiores expectativas, também, porque novas escolhas práticas lhes são abertas. Novas estratégias são necessárias com urgência para lidar com as transições culturais nas práticas de gênero . Por toda parte as relações de gênero permanecem essenciais.

Why Feminism? oferece uma importante contribuição sobre a trajetória histórica do feminismo, incluindo as preocupações com a opressão material e os aspectos da subjetividade e identidade. Todavia, em termos de política feminista e do feminismo acadêmico, o livro não oferece novas visões e, de certa forma, decepciona.

Por que feminismo? É crucial a lembrança da idéia de Simone de Beauvoir de que não se nasce mulher mas se torna mulher. Nesse processo, está o desenvolvimento da noção de gênero acompanhando a identificação histórica de certos atributos de ser mulher. Por que eu sou mulher? O que quer dizer ser mulher? Segal recupera uma noção importantíssima desenvolvida por Bob Connell1, de que os nossos corpos não são apenas objetos do nosso desejo (individual ou social), mas são também nossos destinos. Gênero aparece, então, não simplesmente como uma construção social ou cultural, mas como uma fatalidade da qual não é possível se desligar. Todavia, o entendimento do construtivismo social necessita açambarcar as sutilezas das interações sociais nas quais ele está enraizado, ao invés de simplesmente se opor ao essencialismo ou materialismo. É assim que várias militantes e intelectuais, e várias dentre nós que querem continuar a ser ambos, estamos trabalhando e pensando para além da rigidez da divisão entre cultura e matéria. Esta posição é concretamente mais otimista do que aquela de Lynne Segal neste livro.

* SEGAL, Lynne. Why Feminism? Gender, Psychology, Politics. Cambridge, Polity Press, 1999, 286p. ISBN 0-7456-2347-6 (pbk) 14.99 libras esterlinas. Recebida para publicação em agosto de 2001.
1 CONNELL, R. W. Bodies, Intellectuals and World Society. Exposição Plenária para a British Sociologial Association Annual Conference Making Sense of the Body: Theory, Research and Practice. Edinburgh, abril de 1998 (no prelo).


Cadernos Pagú - UNICAMP

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