segunda-feira, 26 de outubro de 2009

A MULHER FOGE

A MULHER FOGE
David Grossman Companhia das Letras, 656 págs.
Sofrimento sem-fim
A guerra é um dos temas fundamentais da literatura do Ocidente. As narrativas homéricas e a Bíblia organizam-se, em grande parte, em torno deste fenômeno. Vitórias e derrotas são determinadas por vontades divinas, que conduzem a esse ou àquele resultado. A história judaica rompeu com essas noções desde que os judeus foram exilados de Jerusalém pelos exércitos de Tito, no ano 70 d.C. Desenvolveu-se, a partir daí, uma crença mística e messiânica segundo a qual o retorno a Jerusalém só poderia ocorrer por meio de uma intervenção divina.

A ideologia sionista surgiu na Europa, no século XIX, para romper com essa crença. Reintroduziu o povo judeu à história, à política – e à guerra. Theodor Herzl propunha o retorno dos judeus às terras dos ancestrais por meio de uma atuação humana, política e econômica. Seu projeto se consolidaria com a independência de Israel, em 1948. Mas, como se sabe, as coisas nunca se acalmaram realmente desde então.

É sobre o trauma da guerra que David Grossman escreve em A Mulher Foge, romance em flash-backs na idílica região da Galileia. Ele recria, em fragmentos, os reflexos destrutivos que a tensão militar constante provoca nos cidadãos. Um mundo dilacerado por sofrimentos é seu retrato pouco alentador do sonho sionista. Um detalhe trágico torna este livro ainda mais pungente. O autor começou a escrevê-lo enquanto o filho mais velho prestava o serviço militar e o mais novo, Uri, era morto em combate, na guerra do Líbano de 2006. “Eu tinha o desejo de que o livro o protegesse”, diz Grossman.

Carta Capital

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