terça-feira, 3 de julho de 2012

Geografia: Pequena Historia Critica




Universidade Federal do Acre
Centro de Filosofia e Ciências Humanas
Curso de Geografia Bacharelado
Resenha do Livro Geografia: Pequena Historia Critica
Rio Branco, Acre.
2010
MORAES, Ant. Carlos Robert. Geografia: Pequena Historia Critica. São Paulo: Hucitec, 1994.
Antonio Carlos Robert Moraes é um geógrafobrasileiro que publicou vários livros na área da geografia histórica e política. Moraes possui doutorado em Geografia Humana pela Universidade de São Paulo.Atualmente é professor titular daUniversidade de São Paulo. Bacharel em geografia (1977) e ciências sociais (1979) pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP), onde realizou mestrado (1983), doutorado (1991) e livre-docência (2000). É professor titular do Departamento de Geografia da USP, sendo coordenador do Laboratório de Geografia Política. Foi professor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas (1978-1982) e ministrou cursos em várias universidades do país e do exterior, entre elas a Universidade de Buenos Aires (Argentina), a Unam (México), Universidade Nacional (Colômbia), Universidade de Cadiz (Espanha). Estagiou no Centro Nacional de Investigação Científica de Portugal (1986) e participou de vários convênios bilaterais (o último com o Credal e o Iheal na França). Desde 1996 preside a banca de geografia do concurso de ingresso na carreira de diplomata do Instituto Rio Branco do Ministério das Relações Exteriores. Possui a Ordem do Rio Branco. Elaborou para o governo brasileiro a metodologia de vários programas de política ambiental e de ordenamento territorial, notadamente interessando as áreas costeiras (entre outros o Gerco, o Projeto Orla Marítima e a Agenda Ambiental Portuária). Foi consultor do Programa de Gestão da Zona Costeira de Moçambique. Participou da elaboração do Programa Global de Ação para o Controle de Poluição Marinha do CDS-ONU.
Em seu livro o autor faz uma retrospectiva geográfica. Desde suas origens, passando por sua sistematização, principais correntes do pensamento geográfico – cada uma com sua própria definição de objeto, método, princípios, os contextos históricos de formação do pensamento entre outros. De acordo com o autor este livro foi concebido com o intuito de tentar contribuir com esclarecimentos referentes à criação, historia e principais correntes dessa ciência. Ele divide a geografia em duas grandes variedades, vamos dizer assim. A Tradicional e a Moderna.
  1. O objeto da Geografia
Alguns autores definem a Geografia como o estudo da superfície terrestre. Esta concepção é a mais usual, e ao mesmo tempo a de maior vaguidade. Pois a superfície da Terra é a teatro privilegiado (por muito tempo o único) de toda reflexão científica, o que desautoriza a colocação de seu estudo como especificidade de uma só disciplina. Esta definição do objeto apóia-se no próprio significado etimológico do termo Geografia – descrição da Terra. Assim, caberia ao estudo geográfico descrever todos os fenômenos manifestados na superfície do planeta, sendo uma espécie de síntese de todas as ciências. Desta forma a tradição kantiana coloca a Geografia como uma ciência sintética (que trabalha com dados de todas as demais ciências), descritiva (que enumera os fenômenos abarcados) e que visa abranger uma visão de conjunto do planeta.
A definição da Geografia, como estudo da diferenciação de áreas, é uma outra proposta existente. Tal perspectiva traz uma visão comparativa para o universo da analise geográfica. Existem ainda autores que buscam definir a Geografia como estudo do espaço. Para estes, o espaço seria passível de uma abordagem especifica, a qual qualificaria a análise geográfica. Tal concepção, na verdade minoritária e pouco desenvolvida pelos geógrafos, é bastante vaga e encerra aspectos problemáticos. Nesta concepção, o espaço, além de ser destituído de sua existência empírica, seria um dado de toda forma de conhecimento, não podendo qualificar a especificidade da Geografia. Finalmente, alguns autores definem a Geografia como o estudo das relações entre o homem e o meio, ou, posto de outra forma, entre a sociedade e a natureza. Assim, a especificidade estaria no fato de buscar essa disciplina explicar o relacionamento entre os dois domínios da realidade. Seria, por excelência, uma disciplina de contato entre as ciências naturais e as humanas, ou sociais. Aparecem três visões distintas do objeto: alguns autores vão apreendê-lo como as influências da natureza sobre o desenvolvimento da humanidade. “Caberia à Geografia explicar as formas e os mecanismos pelos quais esta ação se manifesta. Desta forma, o homem é posto como um elemento passivo, cuja história é determinada pelas condições naturais, que o envolvem. O peso da explicação residiria totalmente no domínio da natureza. Os fenômenos humanos seriam sempre efeitos de causas naturais; isto seria uma imposição da própria definição do objeto, identificado com aquelas influências.
Outros autores, mantendo a idéia da Geografia, como o estudo da relação entre o homem e a natureza, vão definir-lhe o objeto como a ação do homem na transformação deste meio. Assim caberia estudar como o homem se apropria dos recursos oferecidos pela natureza e os transforma, como resultado de sua ação.
Este breve painel das definições da geografia, que não pretendeu ser de modo nenhum exaustivo, já justifica a afirmação inicial, quanto às dificuldades contidas na proposta deste volume. Também se deve levar em conta que o painel abarcou somente as perspectivas da Geografia Tradicional.
Nesse primeiro passo vive-se na Geografia Tradicional, a geografia que tem seu objeto de estudo ainda indefinido, momento esse que a Geografia ainda não um grau de epistemologia seguro. Que só será alcançado na modernidade. Enquanto isso esta geografia se sustentar em conceitos naturais, e é uma ciência descritiva, de observação dos elementos naturais, calcada nos pressupostos de seus precursores Humboldt e Ritter.
Em outras palavras a Geografia nesse primeiro momento tinha o seu objeto definido em três visões distintas, e todas as indagações sobre estes objetos e sua explicação viria principalmente da abordagem do campo natural, o que dará precedente ao desenvolvimento metodológico seguinte, dessa forma de pensamento geográfico, mais conhecida como positivismo Geográfico. Que vai ser trabalhado dentro da perspectiva tradicional da Geografia.
  1. O Positivismo como fundamento da Geografia Tradicional
É nesta concepção filosófica e metodológica que os geógrafos vão buscar suas orientações gerais (as que não dizem respeito especificamente a Geografia). Os postulados do positivismo (aqui entendido como o conjunto das correntes não-dialeticas) vão ser o patamar sobre o qual se ergue o pensamento geográfico tradicional, dando-lhe unidade.
Outra manifestação da filiação positivista, também traduzida numa máxima geográfica, é a idéia da existência de um único método de interpretação comum a todas as ciências, isto é, a não-aceitaçao da diferença de qualidade entre o domínio das ciências humanas e o das ciências naturais. Tal método seria originário dos estudos da natureza, as ciências mais desenvolvidas, pelas quais outras se deveriam orientar. Esta concepção, que incide na mais grave naturalização dos fenômenos humanos, se expressa na onipresente afirmação: “A Geografia é uma ciência de contato entre o domínio da natureza e o da humanidade”. Postura esta que serviu para tentar encobrir o profundo naturalismo, que perpassa todo o pensamento geográfico tradicional. Na verdade, a Geografia sempre procurou ser uma ciência natural dos fenômenos humanos. Tal perspectiva naturalizante aparece com clareza no fato de buscar esta disciplina a compreensão do relacionamento entre o homem e a natureza, sem se preocupar com a relação entre os homens. Assim a unidade do pensamento geográfico tradicional adviria do fundamento comum tomado ao positivismo, manifesto numa postura geral, profundamente empirista e naturalista.
Esta perspectiva positivista talvez seja a mais influente do pensamento geográfico tradicional,essa perspectiva naturalização se mostra com nitidez no fato da Geografia buscar a compreensão da relação entre o homem e a natureza, sem se preocupar com as relações sociais. Desta maneira, a abordagem humana, representado nas relações sociais, fica fora do seu âmbito de estudos. Colocando o homem apenas como um elemento da paisagem.
O positivismo significava uma Geografia que deveria acumular conhecimentos empíricos e descritivos. Desta forma a Geografia passou a descrever lugares, fazendo levante de informações e a localizando fenômenos, descrevendo os traços naturais e sociais da superfície terrestre numa abordagem individualizadora dos lugares que pudesse instrumentalizar a expansão do capital monopolista do período
  1. Origens e pressupostos da Geografia
O rotulo Geografia é bastante antigo, sua origem remonta á antiguidade clássica, especificamente ao pensamento grego. Entretanto, o conteúdo referido era por demais variado. Ficando apenas ao nível do pensamento grego, ai já se delineiam algumas perspectivas distintas de Geografia: uma, com Tales e Anaximandro, privilegia a medição do espaço e a discussão da forma da Terra, englobando um conteúdo hoje definido como da Geodésia. Desta forma, pode-se dizer que o conhecimento geográfico se encontrava disperso. Assim, ate o final do século XVIII, não e possível falar de conhecimento geográfico, como algo padronizado, com um mínimo que seja de unidade temática, e de continuidade nas formulações. Designam-se como Geografia: relatos de viagem, escritos em tom literário; compêndios de curiosidades, sobre lugares exóticos; áridos relatórios estatísticos de órgãos de administração.
A sistematização do conhecimento geográfico so vai ocorrer no inicio do século XIX. E nem poderia ser outro modo, pois pensar a Geografia como um conhecimento autônomo, particular, demandava um certo número de condições históricas, que somente nesta época estarão suficientemente maturadas.
O primeiro destes pressupostos dizia respeito ao conhecimento efetivo da extensão real do planeta. Isto é, era necessário que a Terra toda fosse conhecida para que fosse pensado de forma unitária o seu estudo.
Outro pressuposto da sistematização da Geografia era a existência de um repositório de informações, sobre variados lugares da Terra. Isto é, que os dados referentes aos pontos mais diversificados da superfície já estivessem levantados (com uma margem de confiança razoável) e agrupados em alguns grandes arquivos. Tal condição incidia na formação de uma base empírica para a comparação em Geografia.
Outro pressuposto para o aparecimento de uma Geografia unitária residia no aprimoramento das técnicas cartográficas, o instrumento por excelência do geógrafo. Era necessário haver possibilidade de representação dos fenômenos observados, e da localização dos territórios.
Finalmente, o temário geográfico vai obter o pleno reconhecimento de sua autoridade, com o aparecimento das teorias do evolucionismo. Dada a difusão das teorias evolucionistas, no meio acadêmico da época, a Geografia nela teve uma base cientifica solida para suas indagações.
Como foi discutido pelo autor, vimos que o conhecimento geográfico é tão antigo quanto às demais ciências existente no mundo, é construído desde a Grécia antiga. A lembrarmos aqui de um grande pensador Aristóteles, que aparece em vários momentos na discussão de temas, hoje tidos como da Geografia, sem que houvesse a mínima conexão entre eles; caso, que discute a concepção de lugar, na sua Física, sem articulá-la com a discussão da relação homem- natureza.
A sistematização do conhecimento da Geografia, como uma ciência particular e autônoma, ocorreu, sobretudo nas transformações operadas na vida social, pela emergência do modo de produção capitalista, vai ocorrer na Alemanha em séculos posteriores, e se sustentara nas bases do evolucionismo para produção do conhecimento.
  1. A sistematização da Geografia de Humboldt e Ritter
A falta da constituição de um Estado nacional, a extrema diversidade entre os vários membros da confederação, a ausência de relações duráveis entre eles, a inexistência de um centro organizador do espaço, ou de um ponto de convergência das relações econômicas, - todos estes aspectos conferem a discussão geográfica uma relevância especial, para as classes dominantes da Alemanha, no inicio do século XIX. Temas como domínio e organização do espaço, apropriação do território, variação regional, entre outros, estarão na ordem do dia na pratica da sociedade alemã de então.
As primeiras colocações, no sentido de uma Geografia sistematizada, vão ser obra de dois autores prussianos ligados a aristocracia: Alexandre Von Humboldt, conselheiro do rei da Prússia, e Karl Ritter, tutor de uma família de banqueiros. Humboldt possuía uma formação de naturalista e realizou inúmeras viagens. Sua proposta de Geografia aparece na justificativa e explicitação de seus próprios procedimentos de analise. Humboldt entendia a Geografia como a parte terrestre da ciência do cosmos, isto é, como uma espécie de síntese de todos os conhecimentos relativos a terra. Em termos de método, Humboldt propõe o empirismo raciocinado, isto é, a intuição a partir da observação.
A obra de Ritter já e explicitamente metodológica. A formação de Ritter também e radicalmente distinta da de Humboldt, enquanto aquele era geólogo e botânico, este possui formação em Filosofia e Historia. Ritter define o conceito de “sistema natural”, isto é, uma área delimitada dotada de uma individualidade. A Geografia deveria estudar estes arranjos individuais, e compará-los. Assim, a Geografia de Ritter é, principalmente, um estudo dos lugares, uma busca da individualidade destes.
O que podemos ver nesse postulado é uma diferença bem clara de abordagens de pensamentos mesmo se tratando de autores clássicos do pensamento Geográfico Tradicional, Ritter produziu uma Geografia mais Regional e antropocêntrica, enquanto Humbold desenvolve o trabalho em busca de abarcar o Globo, sem privilegiar o homem, mesmo meio que sendo produções diferentes é esse conhecimento que vai formar uma base solida para uma Geografia Futura.
Fica bem claro que as maiores contribuições para a sistematização do pensamento geográfico saíram da Alemanha, isso não quer dizer não ter havido produção de conhecimentos em outros lugares, mas porque é justamente na antiga Prússia que vai haver o maior número de cientistas que abordaram essa linha de conhecimento, e ainda os precursores da Geografia Ritter e Humboldt.
  1. Ratzel e a Antropogeografia
Um revigoramento do processo de sistematização da Geografia vai ocorrer com as formulações de Friedrich Ratzel. A Geografia de Ratzel foi um instrumento poderoso de legitimação dos desígnios expansionistas do Estado alemão recém constituído. A unificação tardia da Alemanha, que não impediu um relativo desenvolvimento interno, deixou-a de fora da partilha dos territórios coloniais. Isto aumentaria com próprio desenvolvimento interno. Daí, o agressivo projeto imperial o propósito constante de anexar novos territórios. Assim, a Geografia de Ratzel expressa diretamente um elogio do imperialismo, como ao dizer, por exemplo: “Semelhante à luta pela vida, cuja finalidade básica é obter espaço, as lutas dos povos são quase sempre pelo mesmo objetivo.
O principal livro de Ratzel, publicado em 1882, denomina-se Antropogeografia – fundamentos da aplicação da Geografia à Historia. Nela , Ratzell definiu o objeto geográfico como o estudo da influencia que as condições naturais exercem sobre a humanidade. Estas influencias atuariam, primeiro na fisiologia e na psicologia dos indivíduos, e, através deste, na sociedade. Em segundo lugar, a natureza influenciaria a própria constituição social, pela riqueza que propicia, através dos recursos do meio em que esta localizada a sociedade. A natureza também atuaria na possibilidade de expansão de um povo, obstaculizando-a ou acelerando-a. Para ele a sociedade é um organismo que mantém relações duráveis com o solo, manifestas, por exemplo, nas necessidades de moradia e alimentação. O homem precisaria utilizar os recursos da natureza, para conquistar sua liberdade, que, em suas palavras “é um dom conquistado as duras penas”. Justificando essas colocações Ratzel elabora o conceito de “espaço vital”.
Vi aqui que a Geografia desenvolvida por Ratzel privilegiou o componente humano e abriu várias frentes de estudo, valorizou questões relacionadas à História e ao espaço, como: a formação dos territórios, a difusão dos homens no Globo (migrações, colonizações, etc.), a distribuição dos povos e das raças na superfície terrestre, o isolamento e suas conseqüências e etc. Objetivo central seria o estudo das influências, que as condições naturais exercem sobre a evolução das sociedades, o chamado determinismo geográfico, que ira ser criticado por Vidal de La Blache em um contexto de Estado Nacional diferente ao de Ratzel.
Ratzel manteve o caráter empírico da Geografia tradicional, e desenvolveu outra linha de pensamento a Geopolítica, esta como uma forma de calcificar a evolução do Estado Alemão. A partir da unificação do Estado Alemão criou a teoria do “espaço vital”, como forma de justificar a expansão do Estado Alemão.
  1. Vidal de La Blache e a Geografia Humana
Para compreender o processo de eclosão do pensamento geográfico na França, é necessário enfocar as feições gerais do desenvolvimento histórico Frances do século XIX. A França foi o pais que realizou, de forma mais pura, uma revolução burguesa. Ali os resquícios feudais foram totalmente varridos, a burguesia instalou seu governo, dando ao Estado a feição que mais atendia a seu interesses.
A revolução francesa foi um movimento popular, comandado pela burguesia, dirigido pelos ideólogos dessa classe. Nesse processo, o pensamento burguês gerou propostas progressistas, instituindo uma tradição liberal no país. Na segunda metade do século XIX, a França e a Alemanha, no caso ainda a Prússia, disputam a hegemonia, no controle continental da Europa. Havia entre estes dois países, um choque de interesses nacionais, uma disputa entre imperialismos. Tal situação culminou na guerra franco-prussiana. A guerra havia colocado, para classe dominante francesa, a necessidade de pensar o espaço, de fazer uma Geografia que deslegitimasse a reflexão geográfica alemã e, ao mesmo tempo, fornecesse fundamentos para o expansionismo Frances.
Uma primeira critica de principio, efetuada por Vidal as formulações de Ratzel, dizia respeito à politização explicita do discurso deste. Isto é, incidia no fato de as teses ratzelianas tratarem abertamente de questões políticas. Vidal condenou a vinculação entre pensamento geográfico e a defesa de interesses políticos imediatos, brandindo o clássico argumento liberal de “necessária neutralidade do discurso cientifico”. Na verdade, Vidal imprimiu, no pensamento geográfico, o mito da ciência asséptica, propondo uma despolitização aparente do temário dessa disciplina. Este posicionamento de acobertar o conteúdo político da ciência, originou-se do recuo do pensamento burguês (após a sedimentação dessa classe no poder) temerosa do potencial revolucionário do avanço das ciências do homem.
Outra critica de principio as formulações de Ratzel incidiu no seu caráter naturalista. Isto é, Vidal criticou a minimização do elemento humano, que aparecia como passivo nas teorias de Ratzel. Uma terceira critica de Vidal a Antropogeografia, derivada da anterior, atacou a concepção fatalista e mecanicista da relação entre os homens e a natureza. Assim atingiu diretamente a idéia de determinação da Historia pelas condições naturais. Vidal vai propor uma postura relativista, no trato dessa questão, dizendo que tudo o que se refere ao homem “é mediado pela contingência”.
Vidal de La Blache definiu o objeto da Geografia como a relação homem-natureza, na perspectiva da paisagem. Colocou o homem como um ser ativo, que sofre influencia do meio, porém que atua sobre este, transformando-o. Observou que as necessidades humanas são condicionadas pela natureza, e que o homem busca as soluções para satisfazê-las nos materiais e nas condições oferecidas pelo meio.
E bem claro aqui que ate o momento em que é declarada a guerra entre França e Prússia, a Geografia Francesa tinha limites e não era o centro das discussões geográficas da época, e por fim não tinha conhecimento que pudesse legitimar a expansão francesa, como havia feito Ratzel na Alemanha. O pensamento geográfico Frances nasceu com a tarefa de combate a Geografia de Ratzel.
E, sobretudo como forma de justificação da burguesia francesa, Vidal e Ratzel justificariam a evolução e expansão de seus países com visões semelhantes, mas porem um tentando encobrir o outro, ou seja, criaram linhas de pensamento que marcam a produção conhecimento geográfico tradicional Ratzel o Determinismo, Vidal de La Blache o Possibilismo. Vidal produz uma Geografia humana com o Possibilismo, onde a natureza existe, mas não determina, apenas dá possibilidades ao homem, ela existe serve, possibilita e sofre a ação do homem.
  1. Os desdobramentos da proposta lablachiana
La Blache criou uma doutrina, o Possibilismo, e fundou a escola francesa de Geografia. E, mais trouxe para a França o eixo da discussão geográfica, situação que se manteve durante todo o primeiro quartel do século atual (XX). Com Vidal, e de forma progressiva a partir dele, o conceito de região foi humanizado; cada vez mais, buscava-se sua individualidade nos dados humanos, logo, na historia.
A idéia de região propiciou o que viria a ser a majoritária e mais usual perspectiva de analise do pensamento geográfico: a Geografia Regional. Esta perspectiva se difundiu bastante, enfocando regiões de todos os quadrantes da Terra. Ate hoje, estes estudos são regularmente realizados. Por isso, pode-se dizer que a Geografia Regional foi o principal desdobramento da proposta vidalina.
O acumulo de estudos regionais propiciou o aparecimento de especializações, que tentaram fazer a síntese de certos elementos por eles levantados. Assim, o levantamento de regiões predominantemente agrárias ensejou o desenvolvimento de uma Geografia Agrária, tentando sintetizar as informações e as características sobre a estrutura fundiária, as técnicas de cultivo, as relações de trabalho etc. O estudo das redes de cidade, das hierarquias e das funções citadinas, levou a constituição de uma Geografia Urbana. E assim por diante, com uma Geografia das Indústrias, da População, ou do Comercio. Desta forma, as sínteses empreendidas por comparação das regiões foram especializadas. Vê-se que os desdobramentos da proposta vidalina foram múltiplos. Porém, ao nível da Geografia Francesa, o autor que realmente avançou suas formulações, gerando uma proposta mais elaborada foi Max Sorre.
O conceito central desenvolvido por Sorre foi o de habitat, uma porção do planeta vivenciada por uma comunidade que a organiza. O habitat é assim uma construção humana, uma humanização do meio, que expressa às múltiplas relações entre o homem e o ambiente que o envolve.
A Geografia de Sorre poder ser entendida como um estudo da Ecologia do homem. Isto é, da relação dos agrupamentos com o meio em que estão inseridos, processo no qual o homem transforma este meio.
Os desdobramentos da geografia vidalina, que importou o conceito de região de Gallois que o já havia trazido da Geologia se expandiram por vários elementos de estudos, com abordagem desse novo conceito, Vidal humaniza a região, e que dessa forma de analise regional, muitos conhecimentos desenvolvidos. Foi a partir dele que se desenvolveu a Geografia Regional, precipuamente a analise regional é o mais usual na Geografia.
Muitas especializações foram criadas a partir da abordagem regional, dentre ela a Geografia Urbana, Industrial, Comercio etc. As proposições de La Blache chegaram ate os historiadores, Lucien Febvre e outros.
  1. Alem do Determinismo e do Possibilismo: a proposta de Hartshorne
Outra corrente do pensamento geográfico, que se poderia denominar com certa impropriedade Geografia Racionalista, vinculou-se ao nome de A. Hettner e R. Hartshorne. O fato de se denominar racionalista esta corrente advém de sua menor carga empirista, em relação às anteriores. Esta perspectiva, a terceira grande orientação dentro da Geografia Tradicional, privilegiou um pouco mais o raciocínio dedutivo, antecipando um dos moveis da renovação geográfica nos anos sessenta.
Hettner vai propor a Geografia como ciência que estuda “a diferenciação de áreas”, isto é, a que visa explicar “por quê” e “em que” diferem as porções da superfície terrestre; diferença esta que, para ele, é apreendida ao nível do próprio senso comum. De todo modo as teses hettenerianas foram pouco divulgadas. Somente através de Hartshorne, um renomado geógrafo americano, que a proposta de Hettner passou a ser amplamente discutida.
Em termos de uma Geografia Geral, os americanos acompanhavam o pensamento europeu: E. Semple havia introduzido as teses de Ratzel e do Determinismo; I. Brown, as de Brunhes e, com elas, o Possibilismo. Hartshorne introduzira o pensamento de Hettner, porém, ao contrario dos anteriores, desenvolvendo-o e aprimorando-o.
Foi somente a partir dos anos trinta que a Geografia americana se desenvolveu, desenvolveram-se duas escolas de Geografia. Uma, na Califórnia, aproximando-se da Antropologia, seu mais destacado formulado foi Carl Sauer. A outra escola, batizada de Meio-Oeste, propondo estudos como o da organização interna das cidades. Sem duvida a produção de Hartshorne que encontrou maior repercussão, dado o seu caráter amplo (em busca de uma Geografia Geral) e explicitamente metodológico.
A primeira diferença da proposta de Hartshorne residiu em este defender a idéia de que as ciências se definiram por métodos próprios, não por objetos singulares. Para Hartshorne, o estudo geográfico não isolaria os elementos, ao contrario trabalharia com suas inter-relações. A forma anti-sistemática seria mesmo com a singularidade da analise geográfica. Desta forma, Hartshorne deixou de procurar um objeto da Geografia, entendendo-a como um “ponto de vista”. Seria um estudo das inter-relações entre fenômenos heterogêneos, apresentando-as numa visão sintética. Os conceitos básicos, formulados por Hartshorne, foram os de “área” e de “integração”, ambos referidos ao método.
Entendo que se trata de obra de cuidadoso rigor metodológico, que explora e conclui sobre o pensamento geográfico, sem desvios ou distorções. É uma obra original e valiosa porque aborda a origem do pensamento geográfico tradicional: Humboldt, Ritter, Ratzel, La Blache e etc.
Esta obra apresenta especial interesse para estudantes e pesquisadores de Geografia. Pode ser utilizada tanto para alunos de graduação, pois apresenta linguagem simples, sendo também útil como modelo, do ponto de vista metodológico.

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