Rafael Guimarães, Ayrton Centeno, Elmar Bones (orgs.), Ed. Libretos
Coojornal foi o nome de uma cooperativa de jornalistas de Porto Alegre, e também de um jornal que circulou nas bancas entre 1976 e 1982. A cooperativa, fundada em 1974, foi uma resposta dos jornalistas gaúchos às limitações e constrangimentos criados pela censura aos órgãos de imprensa. O veículo surgiu como uma publicação regional, mas logo passou a privilegiar temáticas nacionais e caracterizou-se por reportagens que historiavam o golpe militar de 64, seus atores políticos, suas memórias e, inclusive, a reação armada da oposição.
O livro foi organizado por jornalistas que integraram a cooperativa. Com uma introdução de dez páginas contando a história da cooperativa e do jornal, o restante da publicação é ocupado por 33 reportagens, “apresentadas da forma que foram publicadas originalmente e transcritas para a nova ortografia”. As capas das edições das matérias, fotos e charges são reproduzidas e o leitor tem uma espécie de grande reportagem, ágil, viva e contundente da história brasileira dos anos 1950 ao início dos anos 1980: a morte de Vargas, o exílio de Jango, as memórias de Brizola, os diários do general Mourão Filho, os retratos de Golbery, de dom Vicente Scherer, as provocações de Fernando Gabeira à esquerda tradicional. Assim como a matéria sobre o impacto que relatórios do Exército (em fevereiro de 1980, a respeito das operações no Vale do Ribeira e na Bahia para liquidar Carlos Lamarca) provocaram. Essa reportagem, por sinal, provavelmente provocou o fim do jornal e da cooperativa – devido às pressões do Exército sobre os anunciantes e à instauração de Inquérito Policial Militar.
Um livro de reportagens que reflete as inquietações daqueles tempos de regime militar. Inquietação sintetizada por Elis Regina, entrevistada em 1979: “Não tem alternativa, bicho. Não tem! Tem que conviver com o que está aí. Ou então fazer uma estação. É o caso de vocês: “tá” enchendo o saco trabalhar no jornal dos outros? Faz um jornal”. Um jornal de investigação memoralística, no caso – o que a grande imprensa não fazia por razões que a história do Coojornalexemplifica. Um jornal com reportagens que podem ser lidas até hoje.
Vitor Biasoli
Doutor em História pela USP e professor na UFSM.
Le Monde Diplomatique Brasil
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