sábado, 11 de agosto de 2012

E se Obama fosse africano

E se Obama fosse africano
Mia Couto, Ed. Companhia das Letras


O livro é uma reunião de ensaios que refletem sobre mazelas e potencialidades do continente africano e conferem continuidade ao papel de intervenção social que Mia Couto vem construindo com tamanha seriedade, numa boa dose de observação e de mágica nas palavras.
O autor moçambicano traça uma crítica clara à falta de investimento em educação e trabalho no país, sem o qual o continente não poderá extrapolar os status de ausência, de caso clínico ou de quintal do mundo e assumir protagonismo em sua história. Suas reflexões representam o grito por um pensamento produtivo, igualitário e ousado, que seja capaz de se opor às margens de um sistema que comprime as águas volumosas que banham o continente.
Com exceção daquele que empresta título à obra, os textos reunidos foram pensados para participações em encontros e colóquios dentro e fora de Moçambique. Desses, três foram realizados no Brasil.
No artigo “E se Obama fosse africano?”, o autor moçambicano especula sobre as dificuldades que o presidente encontraria para chegar ao poder nesse continente e continuar a exercê-lo de maneira democrática.
A corrupção, as doenças, as queimadas, a ciência, o hip-hopmoçambicano, a solidariedade entre iguais, as formas de violência... São diversos os temas tratados nessa coletânea, e, ao abordar peculiaridades do país de onde escreve, o autor fala de temas universais, por se referir sempre a humanidades: desejos, angústias, injustiças, descobertas, alegrias, efemeridades.
Logo no início do volume é narrada a história do velho guarda de uma estação hidrológica de Moçambique, que cumpria com dedicação a missão de preencher formulários para o controle fluvial, embora tal programa federal houvesse sido extinto com a guerra. Quando seus formulários acabaram e não havia a quem os solicitar, o velho guarda começou a fazer registros na parede da estação. Mia nos faz lembrar que em todas as partes do mundo há gente “inscrevendo na pedra os minúsculos sinais da esperança”.


Telma Hoyler
Pesquisadora do Centro de Estudos em Administração Pública e Governo da Ceapg-FGV e Instituto Pólis.
Le Monde Diplomatique Brasil 

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