O Brasil de Hitler
Livro resgata história de centenas de brasileiros que lutaram pela Alemanha na Segunda Guerra Ellen Nemitz
Atraídos pela promessa de uma vida melhor em outro país, muitos jovens deixam a família no Brasil para se aventurar no exterior. Muito comum nos tempos atuais, o fato ocorreu também durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), quando cidadãos brasileiros foram recrutados para lutar em solo alemão ao lado das nações do Eixo, formado principalmente pela Alemanha de Adolf Hitler, pela Itália de Benito Mussolini e pelo Japão.
Mesmo após tantos anos, a história desses brasileiros que lutaram contra a pátria continuava ignorada pela maioria das pessoas. Agora, porém, em pleno século 21, virou tema do livro Os soldados brasileiros de Hitler, de Dennison de Oliveira, do Departamento de História da Universidade Federal do Paraná.
Carteira de membro da Jungvolk, subdivisão da Juventude de Hitler, do combatente brasileiro identificado como Güingo (foto de Dennison de Oliveira, a partir de original cedido pelo entrevistado).
Livro resgata história de centenas de brasileiros que lutaram pela Alemanha na Segunda Guerra Ellen Nemitz
Atraídos pela promessa de uma vida melhor em outro país, muitos jovens deixam a família no Brasil para se aventurar no exterior. Muito comum nos tempos atuais, o fato ocorreu também durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), quando cidadãos brasileiros foram recrutados para lutar em solo alemão ao lado das nações do Eixo, formado principalmente pela Alemanha de Adolf Hitler, pela Itália de Benito Mussolini e pelo Japão.
Mesmo após tantos anos, a história desses brasileiros que lutaram contra a pátria continuava ignorada pela maioria das pessoas. Agora, porém, em pleno século 21, virou tema do livro Os soldados brasileiros de Hitler, de Dennison de Oliveira, do Departamento de História da Universidade Federal do Paraná.
Carteira de membro da Jungvolk, subdivisão da Juventude de Hitler, do combatente brasileiro identificado como Güingo (foto de Dennison de Oliveira, a partir de original cedido pelo entrevistado).
Durante sete anos, Oliveira viajou freqüentemente a São Paulo para entrevistar os veteranos de guerra. Os ex-combatentes do 3º Reich (regime governado por Hitler) exigiram que as conversas não fossem gravadas e que seus verdadeiros nomes fossem mantidos em sigilo. “Isso decorre das ameaças constantes que eles sofrem”, justifica o autor.
O medo que ainda hoje ronda a vida dos sobreviventes da guerra reside no preconceito pelo fato de terem lutado contra o Brasil. Oficialmente, o governo brasileiro entrou na guerra para apoiar os Aliados (França e Reino Unido, entre outras nações). “As pessoas acham que se trata de nazistas perigosos que precisam ser denunciados”, conta o historiador. O livro traz, além de longos depoimentos de cinco ex-combatentes, um panorama completo do mundo antes do conflito, das relações entre Brasil e Alemanha por volta de 1940 e as conseqüências do pós-guerra.
Ao avaliar os fatos históricos, Oliveira deixa algumas opiniões pessoais transparecerem. Em algumas passagens, o autor lança mão da primeira pessoa para contar como foram os primeiros contatos com os entrevistados e dá um tom de relato pessoal ao texto. Ainda assim, procura ser o mais fiel possível ao transcrever o que ouviu durante longas conversas.
O soldado apelidado Der Amerikaner (ao centro) e dois de seus colegas de escola, mortos em combate (foto: Dennison de Oliveira, a partir de original cedido pelo entrevistado).
“Fui muito criticado por não contextualizar os depoimentos”, revela Oliveira. “Mas essa foi a melhor maneira de manter a integridade dos fatos.” Os textos também foram revisados mais de uma vez por todos os depoentes. Nas pouco mais de 100 páginas do livro, algumas ilustrações em preto-e-branco aproximam o leitor do mundo que a obra pretende trazer à tona.
Entre as muitas histórias resgatadas por Oliveira, uma chama a atenção: a de um soldado apelidado Der Amerikaner (o americano) que simplesmente se recusou a defender as forças alemãs. Os motivos principais foram o temor de represálias, por ser considerado ‘traidor da pátria’, e o medo de matar algum amigo que estivesse lutando em favor dos Aliados.
Planos futuros
Durante as pesquisas que realizou para escrever Os soldados brasileiros de Hitler, o historiador da UFPR obteve uma informação preciosa: não só os brasileiros lutaram pela frente alemã, mas também o contrário. Muitos germânicos se alistaram como soldados da Força Expedicionária Brasileira, a FEB, geralmente com o intuito de provar um nacionalismo muitas vezes questionado.
A propósito, essas histórias são o mote do próximo livro de Oliveira, intitulado Os soldados alemães de Vargas. Entre os personagens da obra, estão Max Wolff – melhor combatente brasileiro, considerado herói de guerra – e Bruno Larsen, também protagonista de um fato único. Diante de uma intensa e fracassada campanha para que os combatentes se rendessem, somente Larsen abandonou as tropas brasileiras. O novo livro deve ser publicado ainda em 2008.
Os soldados brasileiros de Hitler
Dennison de Oliveira
Curitiba, 2008, Juruá Editora
116 páginas
Revista Ciência Hoje
O medo que ainda hoje ronda a vida dos sobreviventes da guerra reside no preconceito pelo fato de terem lutado contra o Brasil. Oficialmente, o governo brasileiro entrou na guerra para apoiar os Aliados (França e Reino Unido, entre outras nações). “As pessoas acham que se trata de nazistas perigosos que precisam ser denunciados”, conta o historiador. O livro traz, além de longos depoimentos de cinco ex-combatentes, um panorama completo do mundo antes do conflito, das relações entre Brasil e Alemanha por volta de 1940 e as conseqüências do pós-guerra.
Ao avaliar os fatos históricos, Oliveira deixa algumas opiniões pessoais transparecerem. Em algumas passagens, o autor lança mão da primeira pessoa para contar como foram os primeiros contatos com os entrevistados e dá um tom de relato pessoal ao texto. Ainda assim, procura ser o mais fiel possível ao transcrever o que ouviu durante longas conversas.
O soldado apelidado Der Amerikaner (ao centro) e dois de seus colegas de escola, mortos em combate (foto: Dennison de Oliveira, a partir de original cedido pelo entrevistado).
“Fui muito criticado por não contextualizar os depoimentos”, revela Oliveira. “Mas essa foi a melhor maneira de manter a integridade dos fatos.” Os textos também foram revisados mais de uma vez por todos os depoentes. Nas pouco mais de 100 páginas do livro, algumas ilustrações em preto-e-branco aproximam o leitor do mundo que a obra pretende trazer à tona.
Entre as muitas histórias resgatadas por Oliveira, uma chama a atenção: a de um soldado apelidado Der Amerikaner (o americano) que simplesmente se recusou a defender as forças alemãs. Os motivos principais foram o temor de represálias, por ser considerado ‘traidor da pátria’, e o medo de matar algum amigo que estivesse lutando em favor dos Aliados.
Planos futuros
Durante as pesquisas que realizou para escrever Os soldados brasileiros de Hitler, o historiador da UFPR obteve uma informação preciosa: não só os brasileiros lutaram pela frente alemã, mas também o contrário. Muitos germânicos se alistaram como soldados da Força Expedicionária Brasileira, a FEB, geralmente com o intuito de provar um nacionalismo muitas vezes questionado.
A propósito, essas histórias são o mote do próximo livro de Oliveira, intitulado Os soldados alemães de Vargas. Entre os personagens da obra, estão Max Wolff – melhor combatente brasileiro, considerado herói de guerra – e Bruno Larsen, também protagonista de um fato único. Diante de uma intensa e fracassada campanha para que os combatentes se rendessem, somente Larsen abandonou as tropas brasileiras. O novo livro deve ser publicado ainda em 2008.
Os soldados brasileiros de Hitler
Dennison de Oliveira
Curitiba, 2008, Juruá Editora
116 páginas
Revista Ciência Hoje
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