Uma viagem de milhares de anos
Livro conta expedição do brasileiro que refez trajetória do homem pré-histórico da África até o Brasil
Mariana Benjamin
Seguir as pistas da evolução humana e refazer o caminho do homo sapiens ao se espalhar pelo planeta, partindo da África até chegar ao Brasil. Essa foi a mais recente aventura encarada pelo jornalista Airton Ortiz, que utilizou apenas transportes públicos para fazer essa viagem inédita. As descobertas e os episódios vividos por ele lhe renderam o livro Na trilha da humanidade , que faz parte, junto com outras expedições do escritor, da coleção Viagens Radicais. Durante três meses, o autor cruzou fronteiras perigosas e conheceu novas culturas, ao mesmo tempo em que visitou os sítios paleontológicos onde foram encontrados os principais fósseis que contam a história de 7 milhões de anos da humanidade.
As páginas do livro se revezam entre informações sobre a evolução humana, como as descobertas das diferentes espécies até o homem moderno, e histórias da expedição. Para refazer o caminho do homo sapiens , o jornalista partiu do Quênia, no leste da África, desceu para o sul do continente, depois seguiu para o norte, dobrando à direita no vale do Nilo, até chegar à Ásia. Em seguida, voou para o Alasca, caminho que há milhares de anos era possível fazer por terra, onde hoje fica o estreito de Bering. Por fim, o autor cruzou as Américas até chegar ao Brasil.
Em todo o livro, Ortiz se preocupa em manter uma linguagem clara e simples, sem muitos termos científicos, de modo a permitir o entendimento do leitor comum sobre o assunto. O escritor também se atém à descrição da cultura e dos hábitos dos lugares que visitou. Ele aproveita para ressaltar algumas questões que dominam os debates no mundo atual, como a mutilação genital de mulheres, os altos índices do vírus HIV na África e a miséria em que vive a maioria da população mundial.
Por concentrar temas polêmicos, a parte africana de sua trajetória é uma das que mais prendem a atenção do leitor. Ortiz retrata a extrema pobreza da região e suas conseqüências na vida das pessoas: corrupção, assalto, violência, fome etc. O que pensar, por exemplo, de um jovem que estava triste porque trocou duas de suas vacas por uma moça que, segundo ele, não correspondia ao valor dos animais? Ou como reagir diante de uma senhora com quatro filhos que viu pela primeira vez o seu rosto ao olhar uma fotografia tirada na máquina digital de Ortiz? São histórias como essas que fazem de Na trilha da humanidade mais do que um mero livro sobre a evolução humana para leigos, mas também uma publicação que estimula a reflexão crítica em seus leitores.
O texto é repleto de humor, o que faz com que a leitura se torne agradável, apesar do tema complicado e da necessidade de detalhes científicos, como o tamanho do crânio dos fósseis e as características diferenciadoras de cada espécie humana. Mas o autor às vezes exagera um pouco na tentativa de fazer piadas em seu texto. Escrever que, se um homo sapiens de cerca de cem mil anos estivesse “vestido à moda rastafári, poderia tranquilamente assistir a um jogo de futebol no Maracanã sem chamar a atenção dos demais torcedores” é um pouco demais.
No mais, o livro é uma boa opção para aqueles que desejam ter acesso a informações detalhadas sobre a história da evolução da humanidade em uma linguagem coloquial, ao mesmo tempo em que aprendem – e muitas vezes se chocam com – um pouco da cultura de diferentes lugares do mundo.
Na trilha da humanidade
Airton Ortiz
Coleção Viagens Radicais
Rio de Janeiro, 2006, Record
277 páginas
Revista Ciência Hoje
Livro conta expedição do brasileiro que refez trajetória do homem pré-histórico da África até o Brasil
Mariana Benjamin
Seguir as pistas da evolução humana e refazer o caminho do homo sapiens ao se espalhar pelo planeta, partindo da África até chegar ao Brasil. Essa foi a mais recente aventura encarada pelo jornalista Airton Ortiz, que utilizou apenas transportes públicos para fazer essa viagem inédita. As descobertas e os episódios vividos por ele lhe renderam o livro Na trilha da humanidade , que faz parte, junto com outras expedições do escritor, da coleção Viagens Radicais. Durante três meses, o autor cruzou fronteiras perigosas e conheceu novas culturas, ao mesmo tempo em que visitou os sítios paleontológicos onde foram encontrados os principais fósseis que contam a história de 7 milhões de anos da humanidade.
As páginas do livro se revezam entre informações sobre a evolução humana, como as descobertas das diferentes espécies até o homem moderno, e histórias da expedição. Para refazer o caminho do homo sapiens , o jornalista partiu do Quênia, no leste da África, desceu para o sul do continente, depois seguiu para o norte, dobrando à direita no vale do Nilo, até chegar à Ásia. Em seguida, voou para o Alasca, caminho que há milhares de anos era possível fazer por terra, onde hoje fica o estreito de Bering. Por fim, o autor cruzou as Américas até chegar ao Brasil.
Em todo o livro, Ortiz se preocupa em manter uma linguagem clara e simples, sem muitos termos científicos, de modo a permitir o entendimento do leitor comum sobre o assunto. O escritor também se atém à descrição da cultura e dos hábitos dos lugares que visitou. Ele aproveita para ressaltar algumas questões que dominam os debates no mundo atual, como a mutilação genital de mulheres, os altos índices do vírus HIV na África e a miséria em que vive a maioria da população mundial.
Por concentrar temas polêmicos, a parte africana de sua trajetória é uma das que mais prendem a atenção do leitor. Ortiz retrata a extrema pobreza da região e suas conseqüências na vida das pessoas: corrupção, assalto, violência, fome etc. O que pensar, por exemplo, de um jovem que estava triste porque trocou duas de suas vacas por uma moça que, segundo ele, não correspondia ao valor dos animais? Ou como reagir diante de uma senhora com quatro filhos que viu pela primeira vez o seu rosto ao olhar uma fotografia tirada na máquina digital de Ortiz? São histórias como essas que fazem de Na trilha da humanidade mais do que um mero livro sobre a evolução humana para leigos, mas também uma publicação que estimula a reflexão crítica em seus leitores.
O texto é repleto de humor, o que faz com que a leitura se torne agradável, apesar do tema complicado e da necessidade de detalhes científicos, como o tamanho do crânio dos fósseis e as características diferenciadoras de cada espécie humana. Mas o autor às vezes exagera um pouco na tentativa de fazer piadas em seu texto. Escrever que, se um homo sapiens de cerca de cem mil anos estivesse “vestido à moda rastafári, poderia tranquilamente assistir a um jogo de futebol no Maracanã sem chamar a atenção dos demais torcedores” é um pouco demais.
No mais, o livro é uma boa opção para aqueles que desejam ter acesso a informações detalhadas sobre a história da evolução da humanidade em uma linguagem coloquial, ao mesmo tempo em que aprendem – e muitas vezes se chocam com – um pouco da cultura de diferentes lugares do mundo.
Na trilha da humanidade
Airton Ortiz
Coleção Viagens Radicais
Rio de Janeiro, 2006, Record
277 páginas
Revista Ciência Hoje
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