Tipos de pertubação
Lydia Davis, Ed. Companhia das Letras
O cotidiano esbarra com as coisas comuns. Uma escritora em desequilíbrio tácito com objetos, crianças e homens que sondam seu universo e lhe interrompem, vez ou outra. Nessa paragem é que se dá a ironia magistral de Lydia Davis. Como se o ato da escrita contasse com esses lapsos em que a norte-americana aplica seu olhar enviesado para criar e ferir. Em 2013, Lydia ganhou o Man Booker Prize International, prêmio que destaca escritores de ficção vivos.
Contabilizam-se em sua carreira Can’t and won’t(2014), Collected stories(2009), Varieties of disturbance(2007), Almost no memory(1997), o romance The end of the story(1995), Break it down(1986) – crônicas traduzidas pela editora portuguesa Ulisseia como Demolição–, Story and other stories(1983), The thirteenth woman(1976), entre outros livros.
Pouco a pouco, vê-se a dilaceração da estrutura cotidiana na vida de uma mulher. Se a promessa de relações difíceis na família transborda, apesar da tentativa de manutenção de fachadas, a escritora norte-americana transforma sua escrita em algo ainda sem nome.
No livro de contos Tipos de perturbação, Lydia expõe a influência de Franz Kafka em sua ficção ao mesmo tempo que cita Marcel Proust e Samuel Beckett em outros dois contos. Como tradutora e ficcionista, Lydia parece questionar sempre seu modo de contar histórias, num exercício de metalinguagem que transpassa todo o livro. O diálogo incessante com um possível método de escrita e suas influências literárias deixam, para o leitor, um mundo sem grandes certezas. E a ironia e o experimentalismo para transpor a linguagem.
Fernanda Fatureto é Jornalista e autora do livro de poemas Intimidade inconfessável(Editora Patuá, 2014).
Le Monde Diplomatique Brasil
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