Religião e política: Uma análise da atuação de parlamentares evangélicos sobre direitos das mulheres e LGBTs no Brasil
Christina Vital e Paulo Victor Leite Lopes , Ed. Fundação Heinrich Böll e Instituto de Estudos da Religião (Iser)
O crescimento político dos grupos evangélicos no espaço público brasileiro é um fenômeno que vem sendo percebido e enfrentado numa intensidade crescente nos últimos dez anos pelos movimentos sociais de direitos humanos, em especial os feministas e LGBT, cujas lutas históricas se tornaram alvos prioritários dos ataques conservadores nessa disputa.
Leitura fundamental para a compreensão e problematização desse cenário, o livro resulta de extensa pesquisa sobre a atuação da Frente Parlamentar Evangélica no Congresso Nacional. Com base no estudo dos casos do debate sobre o aborto na campanha presidencial de 2010 e do cancelamento do programa Escola Sem Homofobia, do Ministério da Educação (2011), a pesquisa nos dá a dimensão e a profundidade da relação cada vez mais forte, explícita e comprometedora entre alguns grupos religiosos e a política partidária no país.
O sentido em disputa da laicidade do Estado, a aproximação política entre católicos e evangélicos e as estratégias de fortalecimento e ocupação de espaços políticos que vêm sendo adotadas por esses grupos são debatidos e exemplificados no livro. Trata-se, segundo os autores, de táticas para a condução de um projeto político evangélico que se sustenta “na forma de relação estabelecida pelos atores religiosos com o Estado e com traços da nossa cultura” (p.169).
Histórico preciso e mapa consistente da atuação evangélica na política, o livro possibilita reflexões que merecem a atenção dos movimentos sociais: primeiro, a envergadura desse projeto político – seus significados e desdobramentos. Segundo, a ideia de uma “cosmologia cristã dominante” no Brasil, que criaria um terreno fértil para o fortalecimento desses grupos políticos junto à sociedade, em torno de alguns temas cuidadosamente selecionados (aborto e direitos da população LGBT, especificamente). São elementos inescapáveis para a avaliação do cenário político que se avizinha com as eleições presidenciais de 2014.
Nina Madsen
Integrante do colegiado de gestão do Centro Feminista de Estudos e Assessoria (Cfemea)
Le Monde Diplomatique Brasil
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