Didú Russo, Ed. Naturebas
Os vinhos que se importam com a ecologia, sejam eles orgânicos, biodinâmicos ou naturais, fazem parte de um segmento em crescimento e até de modismo. Para entender o que são esses vinhos, precisamos retroceder um pouco na história.
A Primeira Guerra Mundial, que acaba de completar cem anos, era para ter durado mais, nas previsões de seus participantes. Sobrou muita munição.
A indústria então, com base nas descobertas dos químicos Justus von Liebig (que descobriu que plantas precisavam de nitrogênio e fósforo para crescer) e Sir John Lawes (descobridor do superfosfato), criou os fertilizantes químicos.
Fertilizante é basicamente sal. Sal estressa a planta, que luta pela água e assim se desenvolve mais. Numa época em que se pensava em quantidade muito mais que em qualidade, fertilizantes fizeram sucesso nas videiras.
Com o tempo, porém, percebeu-se que esses fertilizantes químicos queimavam a superfície da terra e matavam milhares de componentes naturais, vitais para o equilíbrio do ecossistema.
Um hectare de terra virgem tem cerca de 10 milhões de vidas – bactérias, fungos, cogumelos, insetos, ratos etc. – em perfeito equilíbrio ecológico. Ninguém está ali ao acaso, todos têm alguma função. Com a aplicação de químicos, uma enorme parte desses seres vivos morre e esse equilíbrio se desmonta. Surgem as anomalias.
A indústria respondeu às anomalias, criadas por ela mesma, com mais produtos: herbicidas, fungicidas, pesticidas... Hoje a agricultura é refém da indústria química, que produz cerca de 30 mil produtos para ela!
Os vinhos “naturebas” são os que não usam produtos químicos e não manipulam sua fermentação. Eles se dividem em orgânicos, biodinâmicos e naturais, e tratarei de cada um deles nas próximas colunas.
Por enquanto, vou lhe sugerir dois bons vinhos que não machucam o bolso e são extremos. Um absolutamente convencional e outro natureba.
O primeiro é o biodinâmico Le Loup dans la Bergerie 2013, do Languedoc, com as uvas 60% Merlot, 20% Grenache e 20% Syrah. Fresco e frutado, harmoniza superbem com terrine, carnes curadas, steak tartare, ratatouille. Você encontra na www.delacroixvinhos.com.br e custa R$ 49,00.
O segundo é o convencional Aparados Cabernet Sauvignon 2008, da Villa Francioni de Santa Catarina. Vinho bem-feito, com bom corpo que acompanha bem carnes assadas, churrasco e queijos tipo parmesão. Custa R$ 41,00 na www.ravin.com.br.
Perceba a diferença entre eles. O primeiro, se fosse uma mulher, seria uma moça sem maquiagem que saiu do banho, vestiu-se rapidamente, é natural, desinibida, tem sotaque, não se envergonha de sua cultura.
O segundo seria uma moça estudada, com a roupa da moda, politicamente correta e que não quer se comprometer, mas é agradável.
Espero na próxima edição te encontrar com uma taça na mão degustando a leitura do Diplô. Saúde!
Didú Russo
Ex-publicitário entediado com o setor, larguei tudo na década de 1990 para viver de vinho. Degustar, escrever e falar de vinhos virou minha maneira de viver do que antes era apenas um hobby. Ganha-se pouco, degusta-se muito, do bom e do ruim
Le Monde Diplomatique Brasil
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