por Raquel dos Santos Funari
Carla Bassanezi Pinsky, org. Novos temas nas aulas de História. São Paulo, Editora Contexto, 2009, 224 pp., ISBN 9788572444187.
Sobre a autora[1]
A Editora Contexto tem larga tradição na publicação de livros voltados para o ensino de História. Alguns clássicos, como Cem Textos de História Antiga, de Jaime Pinsky, são best-sellers que formaram gerações de professores de História. Nos últimos anos, diversos títulos trataram do estado da arte de diversos aspectos da temática, com obras sobre o cinema ou os quadrinhos no ensino de História, assim como um volume que, em pouco tempo, tornou-se referência, História na Sala de Aula, organizado por Leandro Karnal. O mais recente lançamento volta-se para os novos temas, com contribuições de estudiosos ligados a diversas instituições de renome, como Unicamp, USP, UFSC, Unesc, PUCCamp, Uniban, UFPE, UFRJ, UEMG, UFPR, PUCSP, entre outras. O resultado não poderia ser melhor.
Carla Pinsky começa por ressaltar que os autores destacam-se por usa preocupação com o ensino de História, algo nem tão comum nas universidades, mas muito necessário. Afinal, a grande maioria dos alunos dos cursos superiores de História torna-se professores e assume, por isso mesmo, uma tarefa das mais relevantes: a educação das crianças . Kalina Vanderlei Silva abre o volume, com a desmistificação do uso da biografia. O trabalho com biografias em sala de aula justifica-se pelo apelo do gênero biográfico e pelo papel que pode desenvolver como representação do contexto histórico. A organizadora do volume trata de um tema da mais alta relevância: as relações de gênero. Pinsky mostra como o termo gênero refere-se a uma construção cultural e histórica das percepções sexuais.
Marco Mondaini volta-se para os direitos humanos, tema tão relevante, quanto pouco explorado. Em minha prática como professora do ensino fundamental e médio, tenho atuado em discussões sobre as relações internacionais e as diferenças de relativas aos direitos humanos. O Programa das Nações Unidas para as escolas médias, conhecido no Brasil pela sigla MONU-EM (Modelo das Nações Unidas para o Ensino Médio) mostra a relevância da cidadania como temática. Marcos Napolitano, veterano estudioso do ensino de História e autor de diversos livros, trata da cultura. Lembra que a cultura traduz-se num complexo que envolve produção, circulação e apropriação de sentidos, significações e valores da vida social.
Fábio Pestana Ramos apresenta um objeto de reflexão pouco considerado, mas de imenso potencial: a alimentação. Nada mais cotidiano e familiar do que a comida e toda a sociabilidade associada. Em direção oposta, Pietra Diwan mostra a relevância de um aspecto que costuma passar despercebido: o corpo humano. Parece tão natural, que não percebemos, muitas vezes, o caráter histórico do corpo. O uso das mãos na alimentação, mostra Diwan, varia no decorrer da História e mesmo, em determinado momento histórico, de acordo com as classes sociais. O uso de talheres, introduzido pela Revolução Industrial, a partir do século XVIII, ligou-se à burguesia. Já a utilização das mãos nos restaurantes de comidas rápidas (fast food) resultou do avanço social das classes laboriosas. Tudo isso pode ser bem explorado na sala de aula.
Marcos Lobato Martins elabora os variados aspectos da História Regional, com ênfase nas formas de expressão como o artesanato, a música e a arte. Sílvia Figueirôa dedica-se a uma questão tanto mais relevante, quanto pouco explorada: a ciência e a tecnologia. Na minha experiência, posso imaginar o motivo disso. Os professores de História não estão acostumados a tais aspectos da vida humana e, por isso mesmo, a historicidade das técnicas sempre é um tanto delicada. Figueirôa mostra, contudo, como podemos inserir tais preocupações em temas como o Iluminismo em Portugal e no Brasil, ao tratar do patriarca da independência, José Bonifácio de Andrada e Silva.
Carlos Renato Carola consegue relacionar a nossa disciplina ao meio ambiente, questão crucial da época em que vivemos. A partir da idéia de crise ambiental, Carola volta até a Grécia Antiga e Platão, sem esquecer o cinema, para mostrar a relevância do tema. Por fim, Marcus Vinícius de Morais conclui o volume com questões identitárias. A História Integrada permite observar como a dicotomia entre História do Brasil e História Universal acaba por dissociar aspectos interligados. Pergunta Morais, onde termina a Europa e onde começa o Brasil? Não há como separar.
O livro apresenta uma organização uniforme e que facilita muito o seu uso pelo professor. Os capítulos apresentam boxes, no decorrer do capítulo, assim como indicações muito concretas de peças de teatro, ópera, romances, biografias, contos, filmes, além de sugestões bibliográficas comentadas. A estrutura da obra permite seu uso tanto diretamente pelos professores do ensino médio e fundamental, como nos cursos superiores de História. Obra de referência, já pode ser considerada leitura obrigatória para todos os interessados pelos rumos do ensino da disciplina.
[1]Licenciada em História, Mestre e Doutora em História pela Unicamp.
Publicação Historia e Historia - UNICAMP
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