Quando ciência e fé dialogam
O tema é antigo, mas a abordagem surpreende. O teólogo Frei Betto e o astrofísico Marcelo Gleiser mais concordam do que discordam em novo livro que traz um diálogo sobre questões científicas e religiosas.
Gabriela Reznik
O tema é antigo, mas a abordagem surpreende. O teólogo Frei Betto e o astrofísico Marcelo Gleiser mais concordam do que discordam em novo livro que traz um diálogo sobre questões científicas e religiosas.
Gabriela Reznik
O teólogo Frei Betto (à esquerda) e o físico Marcelo Gleiser (à direita) têm visões muitas vezes complementares sobre questões científicas e religiosas no livro ‘Conversa sobre a fé e a ciência’. (fotos: Rose Brasil/ABr – CC BY 2.5; e Marcelo Gleiser)
Discussões sobre ciência e fé não costumam acabar bem. Muitas vezes a dicotomia esconde outra polaridade: o ateu versus o religioso. Mas esse não é o caso do diálogo travado entre o astrofísico Marcelo Gleiser e o teólogo Frei Betto, mediado por Waldemar Falcão no livro Conversa sobre a fé e a ciência.
Gleiser, físico brasileiro radicado nos Estados Unidos, se considera judeu agnóstico; Frei Betto, frade católico, escritor e jornalista nascido e residente no Brasil, vê Deus e espiritualidade como amor e doação. Ambos fazem da meditação uma prática diária. No livro, trazem reflexões consoantes acerca do lugar que esses temas ocupam na sociedade. Muitas vezes, não se sabe quem está em defesa de qual.
Capa do livro ‘Conversa sobre a fé e a ciência’.A narrativa começa com Gleiser e Frei Betto contando suas trajetórias de vida e como, por linhas tortas, receberam os rótulos de homem de ciência e homem de fé.
Gleiser relata que seu primeiro desejo era ser músico, mas, aos 14 e 15 anos, os livros do físico alemão Albert Einstein (1879-1955) o consumiram. O menino desejava experimentar, assim como o cientista, o mistério e o desconhecido. Enquanto Gleiser lia os físicos, Frei Betto, com a mesma idade, se engajava politicamente em encontros periódicos mediados por frades dominicanos e nos quais discutiam teologia, filosofia e temáticas sociais.
O livro, escrito na forma de diálogos, mantém uma linguagem leve e coloquial e nos aproxima dos interlocutores, como se estivéssemos com eles nos jardins do Hotel Santa Teresa, no Rio de Janeiro. A obra foi consumada lá, ao longo de quatro dias, e o fluxo de assuntos ocorre como na troca de ideias cotidiana.
Ao contrário do esperado, é difícil encontrar um ponto de discordância ao longo do diálogoA conversa se encaminha para as supostas divergências e as aproximações entre as ciências – com ênfase para a pluralidade, destacada pelos dois – e a fé. Ao contrário do esperado, é difícil encontrar um ponto de discordância ao longo do diálogo; os argumentos são em geral complementares.
Gleiser tenta desmistificar o estereótipo do cientista como ser mais racional que os demais e vê, em sua atividade, uma relação espiritual com a natureza. “Não existe uma incompatibilidade entre espiritualidade e ciência”, afirma. E explica: “Muito pelo contrário, o cientista é uma pessoa que dedica toda uma vida ao estudo da natureza, justamente porque é apaixonado por ela. Senão qual seria a graça?”
Relações de poder
Uma das abordagens interessantes do livro diz respeito a como a relação da ciência e da fé com o poder se transformou ao longo dos séculos na sociedade. Na Idade Média, a fé regia a vida e os valores. Exemplo disso é que a inquisição medieval impediu que inúmeros conhecimentos científicos viessem à tona, como foi o caso da observação de que a Terra girava ao redor do Sol, feita pelo cientista italiano Galileu Galilei (1564-1642), que foi condenado à prisão domiciliar e impedido de divulgar sua obra.
A valorização da fé durante a Idade Média foi responsável por impedir a divulgação de conhecimentos científicos para a sociedade, como a observação de que a Terra girava ao redor do Sol feita por Galileu Galilei (retratado na tela de Justus Sustermans, de 1636).Na modernidade, a racionalidade se sobrepôs à fé cristã e assumiu o topo de um pedestal. Foi nesse contexto que a ciência, como instituição, se constituiu. Ter conhecimento passou a ser sinônimo de ter poder, controle e potencial de transformação.
Hoje, um dos paradigmas que regem nosso modo de vida é o mercado. A ciência e a fé, como instituições, estariam sujeitas à mercantilização de seus serviços e diante de uma crise ética. Gleiser e Betto analisam longamente essa questão, ponderando entre os benefícios que a ciência traz para a vida cotidiana e as diretrizes que ela assume devido a interesses de mercado.
Frei Betto, que já foi assessor especial do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e coordenador do programa Fome Zero, reforça o viés político do diálogo, afirmando que, apesar dos avanços científicos e tecnológicos ocorridos desde o período medieval, a socialização dessas conquistas não ocorreu.
Gleiser e Frei Betto não se furtam de falar sobre o fundamentalismo, postura muitas vezes responsável por fazer o embate entre ciência e fé terminar em briga. “Nós precisamos baixar a bola, ter humildade; a falta de humildade leva ao fundamentalismo”, analisa Frei Betto.
Independentemente das convicções de cada um, Frei Betto e Marcelo Gleiser mostram, em Conversa sobre a fé e a ciência, que esses dois mundos podem, sim, dialogar. “Temos que desenvolver, por meio da ciência, a busca da verdade pelos caminhos da dúvida e a busca de Deus pelo caminho da tolerância”, pondera o frade.
No último capítulo do livro, Gleiser filosofa sobre a ligação intrínseca entre ciência e fé: “Aprendemos que somos feitos de poeira de estrelas, que estamos no cosmo e o universo está em nós. Para mim, essa união é profundamente espiritual e nos foi revelada pela ciência.”
Conversa sobre a fé e a ciência
Frei Betto, Marcelo Gleiser e Waldemar Falcão
Rio de Janeiro, 2011, Editora Agir
334 páginas
Revista Ciência Hoje
Um comentário:
Cientistas do mundo todo, agora reunidos em nome da Ciência e da Tecnologia, em seu estágio final, em que todas as descobertas possíveis e todo conhecimento humano, finalmente havia chegado ao máximo, nada mais tendo que ser descoberto, pois todos os problemas do homem já estavam plenamente resolvidos, a menos de uma pequena e insignificante e inquestionável questão, diante de tantas e evidentes provas:
DEUS EXISTE?
Segundo a História, o homem evoluiu na própria natureza que o circunda, manipulando a pedra, dominando o fogo e fundiu os metais.
Descobriu a roda e a mobilidade; os barcos e conquistou um novo mundo!
O avião, poderosa arma de guerra que, lançando bombas, impunha a destruição e o domínio, possibilitando assim a VITÓRIA e a “salvação” CONQUISTADA dos honrados (?) heróis.
Hiroshima e Nagazaki!
Que, reconstruídas, transformaram Detroit em cidade fantasma!
A força do trabalho, da pesquisa e determinação do povo!
Em dominar a Ciência e a Tecnologia para dominar o (falso) mundo dos negócios, das negociatas e da (guerra da) corrupção, bem mais eficaz que a destruição!
Enfim e felizmente, numa nova era, a Justiça em seu espaço, como a Moral e a Dignidade Humana, dando ao homem seu verdadeiro “status” e respeito que sempre mereceu e, o que é mais notável, tudo conquistado através do próprio trabalho e do próprio valor. A conquista do Paraíso! Do homem, pelo homem para o homem!
Lembrando que o conhecimento, derivado da antiga Filosofia, buscando a Verdade e a Sabedoria, foi dividido (didaticamente falando) e separado em ciências específicas, em nome da evolução e do crescimento.
Sem perder o vínculo original, destacaram-se as Humanas, a Medicina e a Engenharia, desmembrando-se também elas, mais e mais, na medida em que surgiam novas descobertas, ciências e surpreendentes tecnologias até que, a partir de um ponto máximo, comparado ao lançamento de uma pedra, inverte o sentido da trajetória e volta ao ponto de origem do seu movimento.
Falsa ideia de regressão do conhecimento, pois agora a Ciência, em oposto sentido, caminha para a reintegração, “fundindo” Engenharia com Medicina e Sociais com Tecnologia, todo o conhecimento em si mesmo.
Um retorno inegável, pois a separação inicial foi apenas didática, no ciclo de análise e síntese que uma hora termina!
Imperiosa, impulsiva e explosiva EVOLUÇÃO!
Diante dos intelectuais Cientistas a derradeira obra! Soma de todo o conhecimento humano!
A ciência de todas as ciências!
Um humanoide (quase humano), com cérebro e todos os órgãos feitos em laboratório, funcionando perfeitamente!
Neurônios feitos pelo homem, conferindo sentimentos e senso crítico consciente e subconsciente! Uma obra do estado da arte da Psiquiatria, com o estado da arte da Psicologia, com o estado da arte da Medicina e o estado da arte da Engenharia associada a todas as artes e tecnologias existentes (e inerentes).
Uma OBRA DE ARTE que só faltava FALAR!
PARLA!
Qual é “tuo” nome?
E a “máquina” falou:
ADÃO!
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