segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Intrérpretes do Brasil: Clássicos, rebeldes e renegados



Intrérpretes do Brasil: Clássicos, rebeldes e renegados
Luiz Bernardo Pericás e Lincoln Secco (orgs.), Ed. Boitempo Editorial

Interpretar o Brasil é uma tarefa política. O livro nos convida a pensar o país em um tempo de questionamentos à sociedade em que nos transformamos. Os textos revisitam a vida e a obra de intérpretes consagrados, ao mesmo tempo que abrem as portas para autores que pouco frequentaram a academia.

Ao lado dos clássicos Gilberto Freyre, Caio Prado Jr., Sérgio Buarque de Holanda, Florestan Fernandes, Celso Furtado e Darcy Ribeiro, encontramos dezenove renegados e rebeldes. Octávio Brandão, Astrogildo Pereira, Leôncio Basbawm, Rui Facó e Jacob Gorender mostram a força do pensamento crítico nascido no seio da classe trabalhadora, formado no PCB e retirado do mapa intelectual brasileiro pelos dominantes. Everardo Dias, Nelson Werneck Sodré, Ignácio Rangel, Edgar Carone, Mauricio Tragtenberg e Ruy Mauro Marini representam os intérpretes que, marcados pelo marxismo, são largamente referenciados, mas pouco reconhecidos. Paulo Freire e Milton Santos, tantas vezes pasteurizados, recebem o tratamento revolucionário que merecem. Na fronteira entre a história e a literatura, Antonio Candido, Câmara Cascudo e Mario Pedrosa garantem o espaço da arte como interpretadora social para pensar a transformação. Os organizadores ainda incluíram Rômulo de Almeida, José Honório Rodrigues e Heitor Ferreira Lima, que, embora mais aceitos nos círculos políticos e intelectuais, tiveram suas intervenções nacional-desenvolvimentistas progressivamente desconhecidas.

O livro nos revela a missão intelectual de um intérprete do Brasil: colocar a formação da nação em perspectiva histórica, analisar a conjuntura e apresentar um programa político para o futuro. Esses traços analíticos, combinados com a história e a política que constroem o pano de fundo da formulação de cada autor, nos oferecem um trabalho de alta qualidade para voltar a apresentar aos brasileiros a reflexão sobre a formação e a transformação do país.

Maria Mello de Malta é Professora do Instituto de Economia da UFRJ e coordenadora do Laboratório de Estudos Marxistas (Lema).
Le Monde Diplomatique Brasil

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