quinta-feira, 9 de setembro de 2021

Geografia Humana: uma introdução às suas idéias


 

BARROS, N. C. C. ou Nilson Crocia. Geografia Humana: uma introdução às suas idéias. 1ª edição. Recife: Editora Universitária da Universidade Federal de Pernambuco, 1993. v. 01. 137p

Ítalo César de Moura SOEIRO1

Nilson Cortez Crocia de Barros é Livre Docente (FFLCH/DG, USP, 2004). Professor Titular na Universidade Federal de Pernambuco. Desenvolve, desde 1980, atividades de ensino, pesquisa, orientação de TCC e produção bibliográfica nas áreas de Dinâmica Regional, Geografia da População e História da Geografia. Publicou, além do livro que aqui será resenhado, outros três livros e dezenas de artigos em periódicos de grande valor para o pensamento geográfico.

O livro Geografia Humana: uma introdução às suas idéias se destinou a auxiliar os cursos de introdução à Geografia. Onde o autor expõe, de forma concisa, aspectos teóricos e metodológicos da disciplina. Com isso se tem um trabalho acessível que mostra a diversidade e as perspectivas do campo de conhecimento geográfico. Vale destacar a bibliografia que acompanha o texto, pois esta, assim como o texto em si, é de grande pertinência para a formação do pensamento geográfico.

Estruturado em dois momentos, o texto se divide em capítulo I, Metodologia e Geografia Humana: observações preliminares, onde se discute a pesquisa em Geografia e aspectos gerais da ciência; e capítulo II, Pensamento geográfico, momentos e alternativas de abordagem, onde se expõe diversas abordagens que caracterizam o corpo da Geografia Humana.

Metodologia e Geografia Humana: observações preliminares:

O autor reflete inicialmente neste capítulo sobre o pensamento conceitual, mostrando que o apreendido no âmbito do conceito, sobre o objeto, não é sua totalidade, mas características que configuram o objeto formal, assim carecendo da riqueza deste, não conseguindo alcançar a realidade de maneira total. Desta forma, o autor justifica a necessidade, ou mesmo tentação, da valorização da experimentação – campo – na

1Graduando em Geografia (Licenciatura), pela Universidade Federal de Pernambuco, bolsista do Programa de Educação Tutorial (PET-Geografia/MEC) e Membro do grupo de pesquisa Movimentos Sociais e Espaço Urbano (MSEU).

SOEIRO, I.C.M. Geografia Humana: uma introdução às suas idéias

Revista Movimentos Sociais e Dinâmicas Espaciais, Recife, V. 03, N. 02, 2014

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investigação e pesquisa geográfica, considerando que esta relação do teórico com o empírico, embora contraditória para algumas ciências, vem sendo bastante frutífera para a Geografia.

Etimologicamente, a Geografia significa descrição da terra. Segundo o autor, a constituição da disciplina como saber científico no século XIX, representou a superação da Geografia como esse saber descritivo. A então descrição foi julgada como insuficiente. Os frutos da observação se formaram, ordenando e produzindo sistemas lógicos, de natureza geral, mas não se limitando a isso atualmente. Assim, os procedimentos metodológicos em Geografia, ou se tornavam mais indutivos, ou mais dedutivos. Nisso, a descrição se apresentava, e se apresenta, como uma etapa preliminar fundamental para a investigação que permite a construção do entendimento sobre o fenômeno em foco. Por outro lado, a definição do que se observa baseia-se no interesse do pesquisador, nos seus objetivos e no lastro de teorias e conceitos pertinentes ao tema, sua maneira de olhar para o objeto. Pode-se dizer, segundo o autor, que o geógrafo trabalha com observações planejadas e sistemáticas, definindo o propósito previamente.

O estudante, alerta Nilson Barros, no ato de pesquisar, pode enfrentar um problema de base cultural bastante complexo, que exige uma autorreflexão. É o etnocentrismo, que reúne hábitos de pensamento, costumes, valores sociais e de grupos do território de origem do pesquisador, podendo ele tratar como normas para entender outros grupos e territórios. Essa autorreflexão não é tarefa fácil, mas é apontada no texto como de suma importância para que se tenha um resultado mais sólido, pois "uma ou algumas impressões observacionais, inconsistentemente estruturadas, e apoiadas em experiências de trabalho e exame bibliográfico restrito, temática e/ou territorialmente, não representam apoios suficientes para generalizações que aspirem arco amplo de validade", afirma o autor.

Outro aspecto interessante alertado pelo autor é o da tradição interdisciplinar da Geografia, característica esta que se materializa nos currículos universitários e evita de larga maneira a extrema especialização frequente em outras ciências. Por outro lado, os geógrafos são tentados por um enciclopedismo. O autor aponta para estas características com o intuito de alertar os novos estudantes da ciência a essas prováveis barreiras que possam surgir no decorrer da vida acadêmica.

O autor mostra, que para a nossa disciplina, o que em cartografia é nomeado de posição, é apenas uma referência básica e um instrumental de grande funcionalidade

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para o entendimento de situações de distribuição de um fenômeno, com respeito a outras distribuições e suas interações espaciais. "Quando um geógrafo está descrevendo os padrões e as interações entre os elementos funcionais de um polígono [limites de uma cidade, de um país, etc.], no sentido de ter uma imagem de conjunto do território, em formulação conceitual, está na realidade construindo uma representação estrutural ou sistemática, sobre o espaço que procurou entender". (Barros, 1993, p.23)

Pensamento geográfico, momentos e alternativas de abordagem:

A Geografia Clássica – momento da disciplina quando se funda o espírito e o método geográfico, fins do século XIX à primeira metade do século XX – cultivou certos conceitos que se transmitiram sob o nome de princípios geográficos. Eram conceitos abstratos com os quais se permitia uma operacionalização como instrumento metodológico, afirma Barros.

O positivismo, por sua vez, teve oportunidade de se expressar na Geografia inclusive através do determinismo físico. As leis e as conceituações se inspiraram na busca do estabelecimento de verdades irrecorríveis, afirma o autor. Acreditava-se também nas leis sociais, que descobertas possibilitariam a transformação social, a evolução, aproximando-se das ideias de Darwin, assegura Barros. A visão enciclopédica se realizava então através do estudo totalizante de uma determinada parte da superfície terrestre, assumindo a forma da monografia regional, ou síntese regional, de natureza mais detalhada que um saber enciclopédico extenso, pois se restringia ao estudo de áreas limitadas.

Segundo Barros, posteriormente, diversas obras manifestaram que a disciplina deveria estar atenta para dedicar-se prioritariamente aos estudos regionais. Dentre as manifestações de tal ideia, cita o trabalho do geógrafo americano Richard Hartshorne, que por entender que os procedimentos empíricos e descritivos não eram satisfatórios, procurou desenvolver sistematizações da Geografia, como uma ciência da diferenciação de áreas.

O autor questiona-se sobre o que tinha acontecido nas décadas de 1940 e 1950, sobretudo, para acontecer uma mudança de ótica em certos geógrafos, a ponto de se considerar que só haveria mesmo um quadro regional, quando há um centro urbano em torno do qual se organiza a vida de uma área? Responde, refletindo sobre a crise de

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1929, mostrando que esta desarticulou áreas produtoras, rurais e urbanas. Entender acontecimentos desta natureza passou a compor o interesse da disciplina, daí o quadro usual da disciplina, naturalista, passou a correr em direção à economia e sociologia.

A Geografia econômica e social proposta por Pierre George baseou-se no método histórico-social do marxismo, sistematicamente aplicado aos estudos espaciais, assegura o autor. Nesta Geografia aparece o desejo de se analisar o presente e tentar melhorá-lo, assim se forjando como um momento bastante crítico.

Posteriormente, o texto reflete sobre a importância da Geografia Teorética, no que se refere ao entendimento das formas espaciais, destacando as contribuições de Christäller, Lösch, Thünen e outros. Isso, mostrando que estes modelos, via de regra, foram elaborados a partir de situações espaciais de países de economia avançada, não diminuindo o valor das suas contribuições. Essa Geografia deixa, assim, uma mudança qualitativa, não somente pela superação de procedimentos descritivos, mas também pelos implementos de novas tecnologias e métodos de pesquisa, alerta o autor.

No último momento do livro são expostas pelo autor algumas abordagens da Geografia, dentre as quais a chamada radical, que é o termo utilizado no texto para designar o conjunto de procedimentos metodológicos, de temas e de atitudes que começou a se difundir a partir do final da década de 1960. Uma das características marcantes desta corrente traduziu-se no combate à geografia desenvolvida até então, julgando-a irrelevante para explicar e mudar o quadro problemático da sociedade. Outra abordagem apresentada pelo autor foi a da valorização da dimensão fenomenológica, aproximando-se de uma Geografia da percepção.

Por outro lado, como se trata de uma obra de 1993, caberia uma nova edição atualizada da obra, discutindo outras abordagens mais recentes da Geografia.

Diante do acima exposto, o texto do Professor Nilson Barros se faz uma leitura quase que obrigatória para os estudantes da ciência geográfica e professores que ministram a disciplina de Introdução à Ciência Geográfica, bem como outras disciplinas equivalentes, tanto por seu caráter didático, quanto por seu conteúdo denso e, ao mesmo tempo, objetivo e rico. Por isso, defendemos que esta obra deveria ser disponibilizada de maneira mais acessível para os alunos dos cursos de Licenciatura e Bacharelado em Geografia do Nordeste e não apenas da Universidade Federal de Pernambuco.

REVISTA MOVIMENTOS SOCIAIS E DINÂMICAS ESPACIAIS 

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