sábado, 24 de novembro de 2018

ENSINO DE GEOGRAFIA: novos olhares e práticas

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Larissa Corrêa Firmino* 

“Não se pode criar experiência. É preciso passar por ela.”. Albert Camus.

*Mestranda em Educação pela Universidade Federal de Santa Catarina. E-mail: laracorreaf@gmail.com. 1 CANCLINI, Nestor Garcia. Leitores, espectadores e internautas. Tradução de Ana Goldberger. São Paulo: Iluminuras, 2008. 96p. Em sua obra, Canclini faz uma reflexão de conceitos ligados à leitura, ao audiovisual e ao virtual, tratandoda analogia entre ser leitor, espectador e internauta, quando as três atividades são realizadas simultaneamente por uma mesma pessoa.


O espaço escolar se encontra atualmente configurado de modo onde o repasse excessivo de informações predomina em aulas tradicionais, que nada se difere da transmissão de conteúdos praticada há décadas nas escolas e tão criticada no meio acadêmico. Tal cenário faz o educador, de qualquer que seja a área, buscar novas ferramentas e modos de repensar sua prática pedagógica. Nós, professores e alunos, vivemos em uma sociedade onde nos portamos ao mesmo tempo como ‘leitores, espectadores e internautas’, tal nos ressalta Néstor García Canclini em sua obra1 . Assim, a importância de interligar e explorar novas práticas pedagógicas baseadas nestas três ações abordadas por Canclini e que são realizadas momentaneamente por nós e nossos alunos, devem e podem ser inseridas numa prática pedagógica do fazer em sala de aula. Afinal, “o que fazer com milhares de páginas novas por dia, com milhões de canções e chats indiscriminados?” (2008, p. 61). É neste cenário complexo e heterogêneo de informações múltiplas onde a prática pedagógica do ensinar-aprender está inserida. Eis o nosso pano de fundo: lidar com a carga excessiva de informação sobre o mundo. 
Deste modo, se quisermos nossos alunos dispostos e entregues à experiência de apreender, nada mais válido que ampliar nossa própria visão de mundo sobre práticas escolares que propõem outros olhares para a geografia escolar. Nesse sentido, o livro “Ensino de Geografia: Novos olhares e práticas” é um convite ao professor de geografia a repensar e reavaliar seus trajetos em sala de aula (e fora dela, claro!). Este livro é composto por seis artigos elaborados por oito pesquisadores que nos convidam a refletir sobre o ensino de geografia na atualidade com base nas pesquisas e práticas desenvolvidas por eles próprios com seus alunos, sejam estes acadêmicos do curso de geografia ou educandos do ensino regular em escolas públicas. A obra apresenta artigos resultantes de práticas oriundas da inquietude e da percepção de professores quanto à necessidade de aprimoramento do exercício do aprendizado, compreendido não apenas pela absorção por parte do aluno, mas também no sentido mais amplo da construção cotidiana e do registro de sua prática de ensino, onde o professor é com certeza um personagem interativo em constante desenvolvimento. O livro tem o valor de fornecer subsídios para a reflexão do leitor originandose da aplicação das práticas expostas no seu contexto. Não como um manual que deva ser seguido, um pacote a ser incorporado, exportado e aplicado, mas sim como forma de desenvolver um debate reflexivo, onde o profissional poderá dialogar e perceber a si mesmo aplicando novas práticas pedagógicas de acordo com seu contexto. Além da preocupação em problematizar o ensino de geografia no mundo contemporâneo, a obra organizada por Flaviana Gasparotti Nunes, nos apresenta saídas inventivas para tal realidade. Nos textos contidos neste livro, os pesquisadores narram suas experiências em sala de aula tal qual um diário de bordo que se configura como “um registro de práticas para discussão coletiva”, assim como prefacia o Professor Nestor André Kaercher. Flaviana Gasparotti Nunes, a organizadora do livro, é licenciada, mestre e doutora em Geografia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho – UNESP e pós-doutoranda pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ. É professora do curso de graduação em Geografia e do Programa de Pós-Graduação – Mestrado em Geografia da Faculdade de Ciências Humanas da UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados) e desenvolve pesquisas orientando trabalhos na área de ensino e formação de professores de Geografia. Desde 2009 Flaviana coordena o subprojeto de Geografia no Programa Institucional de Bolsa da Iniciação à Docência – PIBID/UFGD. O livro abre seus trabalhos com o instigante texto de Wenceslao Machado de Oliveira Jr, “Desenhos e Escutas”, que busca resgatar uma reflexão inventiva em suas experiências com graduandos de um curso de geografia. Os desenhos confeccionados por estes alunos tornam-se ferramentas de escuta ao professor, os quais são denominados de ‘saberesconhecimentoimagens’ pelo autor. O tema dos desenhos é o meio ambiente, porém convergindo para as múltiplas possibilidades na composição possível do currículo. O ensino de cartografia também aparece como pauta de discussão numa tentativa de estabelecer um diálogo entre a sociedade e o mundo dos mapas, com o texto “O ensino de Cartografia que não está no currículo: olhares cartográficos, “carto-fatos” e “cultura cartográfica”, de Jörn Seemann. Rodolfo Finatti e Cláudio Benito Oliveira Ferraz nos mostram uma das muitas saídas inventivas contidas neste livro. No artigo “Linguagem geográfica do jogo de xadrez: uma aproximação ao conceito de território e ao processo de ensino-aprendizagem”, os autores nos apresentam o jogo de xadrez como uma importante ferramenta para trabalhar o conceito de território dentro da sala de aula, evidenciando uma relação entre o jogo e a ciência geográfica tão presente nesta. Com o decorrer das páginas, encontramos o trabalho de Jonatas Rodrigues dos Santos e Flaviana Gasparotti Nunes, intitulado como “O aluno surdo na sala de aula de Geografia: alguns elementos para a reflexão sobre a inclusão”, que nos demonstra, sob a forma de análise, as dificuldades e possibilidades de trabalho com o educando surdo dentro do ensino regular de geografia. O registro dessas experiências é algo enaltecido já no prefácio pelo professor Nestor Kaercher, que ressalta a importância de passar adiante, grafar a vivência de forma a buscar a evolução da compreensão de algo tão prático e reflexivo como é a docência. Acredito ainda, ser interessante salientar que o conteúdo do livro se metainfluencia. Ou seja, apresenta-nos uma série de inquietudes e experiências indicando a necessidade de aplicação de diferentes métodos para cada realidade/contexto. Sendo assim, o livro é uma forma de apresentar as problemáticas pelas quais os conteúdos estão envolvidos, não sendo obviamente um meio exaustivo de esgotá-las, mas necessitando complementaridade e outras formas de apreensão como o próprio exercício prático das transformações pelas quais o leitor passou. Aos interessados em novos olhares sobre o ensino de geografia, recomendo a leitura deste livro como uma maneira de iniciar deslocamentos inventivos para fazeres em sala de aula. 
Revista Percursos

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