segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Sobre periferias: Novos conflitos no Brasil contemporâneo



Sobre periferias: Novos conflitos no Brasil contemporâneo
Neiva Vieira da Cunha e Gabriel de Santis Feltran, Ed. Lamparina/Faperj


Os textos reunidos nessa coletânea deslocam o leitor para as “margens” – territórios que evocam de maneira conflitante algumas mudanças recentes na dinâmica social urbana. Os autores apostam de forma acertada na polissemia do termo periferia, buscando compreendê-lo como uma categoria que, por ser sempre valorativa, manifesta perspectivas de acusação, reivindicação, resistência e confrontação. Nesse campo temático, portanto, conjura-se uma série ampla de questões em torno dos conflitos urbanos contemporâneos, enfrentamentos políticos e suas formas de gerenciamento.

Os pesquisadores valorizam o dinamismo das fronteiras, apurando alguns domínios, já trabalhados durante décadas nas Ciências Sociais, de forma inovada, relacional, como chamam os organizadores. Como resultado, o que a mudança de foco permite ver são as conjunções entre o trabalho e a religião com o crime, a interconexão de programas sociais com mulheres, famílias e políticas estatais. Novos cenários de direito, expansão do consumo, mobilidade social e luta por reconhecimento são constatados.

Vistas em conjunto, as pesquisas anunciam a dimensão transversal do conflito que vem acompanhando as transformações em curso. Os processos atuais verificados em territórios periféricos apontam para um cenário híbrido: a experiência religiosa pentecostal, em lugar dateologia católica, não está completamente dissociada do universo moral do crime; os postos de trabalho fabril, antes pensados como os pilares do projeto de vida operário, foram substituídos por ocupações informais, ilegais e também ilícitas; e ainda, se antes se constatava a falta de políticas estatais nas periferias, hoje inúmeros programas sociais marcam a presença capilar e excessiva do Estado.

Os trabalhos de campo realizados em quebradas, ONGs, associações, albergues e favelas colocam à prova que uma apreensão sensível, tal como fizeram os autores, é capaz de lançar sobre as periferias novas perspectivas analíticas.

Mariana Medina Martinez é Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social (UFSCar).
Le Monde Diplomatique Brasil

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