segunda-feira, 10 de novembro de 2014

O capital e suas metamorfoses


O capital e suas metamorfoses
Luiz Gonzaga Belluzzo, Ed. Unesp

Nessa coletânea, Belluzzo faz uma interessante revisão de Marx a partir das questões do capitalismo atual. Não se trata de visão historicista, mas sim da análise do capitalismo atual em tempos de exasperação do capital fictício, como evidenciado pelo altíssimo grau de alavancagem e intenso endividamento entre instituições FINANCEIRAS. A abissal desigualdade de renda, a extrema pobreza no mundo e a crise ambiental e de recursos coadunam num mundo sem governo, no qual o capital assume vida própria e “a economia trata de se libertar dos grilhões da sociedade”.

Belluzzo tece uma relação dialética entre os diferentes discursos da economia política, mostrando como grupos detentores do capital se apoderaram de certos fragmentos da racionalidade econômica em prol de seus próprios interesses e em detrimento do direito à autodeterminação dos indivíduos, do direito a uma vida mais digna e cheia de sentido, na qual o ser humano possa de fato desfrutar o progresso tecnológico e social – tema central em Marx.

A instrumentalização do discurso econômico foi paulatinamente “criminalizando” o welfare statee abrindo as portas para o neoliberalismo, apenas para voltar a defender a “socialização das perdas” dos intermediários financeiros nos períodos de crise. O descolamento entre teoria e prática econômica se dá de modo descarado nos círculos mais altos de decisão, seguindo as oscilações de interesse dos detentores do capital. Essa lógica alimentou o “surto de criatividade agressiva” que nos levou à catástrofe.

Nesses ensaios, o autor tece uma narrativa fluida, costurando conceitos clássicos das Ciências Sociais com fatos e dados do capitalismo recente, abordando inclusive a constituição da crise de 2008. Essa trama invoca reflexões profundas acerca da emancipação da sociedade com base na construção conjunta de instituições, que, moldadas pela ação humana, carreguem as sementes de uma sociedade integrada, mais justa e participativa, na qual o indivíduo comum possa de fato usufruir as benesses da civilização tecnológica industrial.

Marcelo Sette Mosaner
Aluno do programa de pós-graduação em Economia Política da PUC-SP
Le Monde Diplomatique Brasil

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