sábado, 11 de agosto de 2012

Pesquisas e terapias com células-tronco: governança, visões sociais e o debate no Brasil

Pesquisas e terapias com células-tronco: governança, visões sociais e o debate no Brasil
Liliana Acero , Ed. E-Papers


Um traço primordial da chamada revolução científica ocorrida no Ocidente entre os séculos XVI e XVII consistiu na superação da dicotomia que opunha a episteme (a ciência, o saber teórico) àtechne (a técnica, o saber prático). A ciência moderna, que então emerge, não convalida tal dissociação. Cada vez mais, o conhecimento teórico propiciará fundamentos para a ação prática, residindo nesse enlace o núcleo da noção, igualmente moderna, de políticas públicas. Mas, como se sabe, o enlace é, para não fugir à regra, ao mesmo tempo profícuo e conflituoso. Teoria e prática nem sempre convivem em harmonia, e os níveis de tensão do relacionamento que mantêm se revelam visíveis e intensos quando se trata da intervenção estatal sobre o cotidiano das pessoas.
O livro de Liliana Acero é altamente esclarecedor das disputas e contradições que rondam não só o progresso da ciência como, sobretudo, sua utilização para melhorar a vida humana em sociedade. Resultado de acurada investigação, a obra envereda pelos bastidores de um tema atual e polêmico, desvelando as inúmeras dimensões do debate em torno do assunto. Contudo, apesar de contemplar dimensões diversas, considerando as especificidades que guardam – as questões da bioética, por exemplo, pode ser enfocada em sua singularidade –, a autora não perde o fio da meada. O eixo de sua análise, respaldada pelo repertório conceitual das ciências sociais, reside justamente no caráter político que perpassa todas as manifestações da discussão, esteja ela no campo da genética, da ética, da saúde, da economia ou da justiça social.
Não há neutralidade na esfera da política. Intervenções governamentais, por mais que se apresentem como técnicas, exprimem correlações de interesses; os sofisticados saberes que lhes conferem aparência de solução também embutem antagonismos. A possibilidade de que a ciência moderna –epistememais techne– sirva à expansão da equidade, à inclusão social e à universalização do bem-estar se encontra no aprofundamento da democracia


Maria Lúcia Werneck Vianna
Decana do Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas (CCJE) da UFRJ
Le Monde Diplomatique Brasil

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