sábado, 11 de agosto de 2012

A Cultura-mundo: resposta a uma sociedade desorientada

A Cultura-mundo: resposta a uma sociedade desorientada
Gilles Lipovetsky e Jean Serroy, Ed. Companhia das Letras


Os ensaístas Gilles Lipovetsky e Jean Serroy reúnem-se pela segunda vez para adicionar mais um elemento ao mosaico paisagístico do mundo contemporâneo que buscam decodificar. Professor da Universidade de Grenoble, Jean Serroy tem uma trajetória voltada à literatura do século XVII e ao cinema contemporâneo. O filósofo Gilles Lipovetsky, também ligado à Universidade de Grenoble, tornou-se célebre por tratar da moda e do consumo para compreender o que ele chama de hipermodernidade. Ambos já haviam publicado juntos o livro Tela global: mídias culturais e cinema na era hipermoderna(Editora Sulina, 2009) e, continuando as análises, desta vez o foco é a cultura-mundo, assim denominada por eles como a cultura globalizada do mundo hipermoderno.
A atual globalização econômica, permanentemente acirrada pelas tecnologias de comunicação instantânea, produziu uma cultura cosmopolita e cosmopolítica que atravessa as fronteiras e envolve o planeta numa mesma lógica. Para reconhecê-la, é preciso entender os quatro polos que, segundo os autores, estruturam os novos tempos: o hipercapitalismo, a hipertecnicização, o hiperindividualismo e o hiperconsumo. A cultura-mundo se define pelo significativo crescimento da esfera cultural e sua absorção pela ordem mercantil − é a excrescência das indústrias culturais e a cultura da vida cotidiana. Os autores frisam a todo momento a característica ambivalente da cultura-mundo, por ser uma cultura universal não totalizante. Ela é formada pelos idiomas, hábitos e estilos das mais diversas localidades, postos em comunicação e hibridização.
Apresentado agora ao leitor brasileiro, o livro data originalmente de 2008, momento da eclosão da primeira amostra da crise financeira internacional a que os autores fazem diversas referências e que novamente encontramos em uma nova fase. Entretanto, importantes efeitos a que hoje assistimos, como as rebeliões juvenis na Europa, não foram observados a tempo pelos autores ao escreverem esse livro, fato que talvez alterasse as conclusões por vezes conservadoras a que eles chegam.

Luís Eduardo Tavares
Sociólogo, mestre pela PUC-SP e pesquisador do Núcleo de Estudos em Arte, Mídia e Política

Le Monde Diplomatique Brasil

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