sexta-feira, 27 de julho de 2012

Saídas de emergência: ganhar/perder a vida na periferia de São Paulo


Robert Cabanes, Isabel Georges, Cibele Rizek e Vera Telles (Orgs.), Ed. Boitempo Editorial


Salve-se quem puder! Com Saídas de emergêncianos aproximamos da crua realidade das periferias de São Paulo. Os vários pesquisadores, por meio de etnografias, delineiam o que é viver nessa cidade e trazem a público as trajetórias e experiências daqueles que ganham e perdem a vida em sua periferia.
Sem adjetivar essa dinâmica social, os autores se dispõem a retratar a realidade das camadas populares sem partir de ausências ou comparações com outras épocas e, portanto, abandonam toda valoração comparativa. Narram o que ouvem e veem desde seu movimento próprio para compreender como quem mora nas periferias longínquas, ou nem tão longínquas, sobrevive e vive.
Os relatos reunidos dão notícias das escolhas – ou da redução de seus horizontes – diante de políticas sociais transformadas em gestão da pobreza, do truncamento das trajetórias pessoais e coletivas diante da erosão do mercado de trabalho nos anos 1990, das políticas de encarceramento em massa que fizeram explodir a população juvenil nas cadeias, da transformação das formas de representação das entidades sociais e das associações − trânsitos esses que alteram e ressignificam as categorias do mundo público e dos espaços privados. Trata-se de perceber, a partir das várias perspectivas, as respostas das camadas mais pobres à tormenta neoliberal.
O estranhamento em Saídas de emergência não vem das condições de vida retratadas, que, do ponto de vista de alguns indicadores de acesso a serviços básicos, até melhorou. O que impressiona é o “salve-se quem puder” como lógica, que recrudesce a privatização da vida, de modo que não se plasma – pelo menos não ainda de maneira tangível – algum tipo de organização política/pública que se contraponha ao mundo administrado da gestão do social por organizações sociais e filantrópicas ou as saídas através do individualismo religioso e solidário.
O leitor tem em mãos um livro que nos faz questionar a naturalização do inferno urbano nos quais se transformaram nossas cidades, especialmente aqueles territórios onde vivem Doralices e Amaros, e suas saídas de emergência.


Edson Miagusko e Joana da Silva Barros
Respectivamente, professor adjunto de Ciências Sociais da UFRR e doutoranda em Sociologia pela USP

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