segunda-feira, 16 de julho de 2012

Cansaço, a longa estação


Luiz Bernardo Pericás, Ed. Boitempo



É com estrangeirismos, regionalismos, termos populares e até mesmo algumas palavras “de época” que Luiz Bernardo Pericás conta a história de Punaré, Baraúna e Cicica, personagens centrais de Cansaço, a longa estação, seu mais recente romance, lançado em março.
Para compor os personagens, que vivem em terras longínquas, na virada do século XIX para o XX, o autor desenvolveu ampla pesquisa e realizou diversas viagens pelo agreste e sertão do Nordeste brasileiro. O título é uma síntese muito apropriada, que enfatiza um sentimento comum a todos eles, cansados do calor, da seca, da solidão, da opressão e de todas as adversidades da vida, onde só há lugar para os fortes e destemidos.
Os leitores mais atentos observarão nomes próprios que se referem a destacadas figuras do Brasil Imperial e do início da República ao lado de outros cuja inspiração veio de seres mitológicos. O rústico, o popular e o universal, o real e a ficção são alguns dos elementos que compõem o cenário. Além dessa mistura, a obra surpreende ao relatar os fatos sob dois pontos de vista completamente diferentes, antagônicos. Na primeira parte é Punaré quem dá sua versão dos fatos. Na sequência, Baraúna simplesmente desconstrói todas as verdades e crenças do rival. E, assim, o leitor, ao longo da narrativa, vai deixando de ser apenas um agente passivo para assumir, invariavelmente, a posição de um juiz ansioso para dar seu veredicto diante da escolha de uma jovem em disputa.
A edição, muito bem cuidada, apresenta gravuras do artista plástico Fabricio Lopes, texto de abertura assinado por Antônio Abujamra e um útil glossário ao final, que enriquece a leitura e abre novas possibilidades de interpretação desse texto multifacetado e repleto de camadas e discursos, ao mesmo tempo sobrepostos e paralelos, a cada linha provocando o leitor a penetrar no mundo sutil e imaginário de Cansaço, a longa estação, um livro imperdível.



Graziela Forte
Doutoranda em sociologia pela Unicamp
Le Monde Diplomatique Brasil

Nenhum comentário:

Postar um comentário