domingo, 20 de maio de 2012

Pensamento e linguagem



01. O ATO DE PENSAR E A INFLUÊNCIA NA LINGUAGEM
POR: João Paulo Meira Marinho (Geógrafo licenciado  pela Universidade Federal de Mato Grosso - UFMT) 
I - OBRA 
VYGOTSKY, L. S. "Pensamento e linguagem". São Paulo: Martins Fontes, 1996 
II - CREDENCIAIS DA AUTORIA 
Nascido em novembro de 1896, em Orsha, próximo à Mensk - capital de Bierlarus, país da antiga União Soviética, Liev Semiónovitch Vigotsky viveu grande parte de sua vida com a família em Gomel. Era Judeu, segundo filho de oito irmãos. Desde muito cedo interessou-se por várias áreas, organizando grupos  de estudos aprendendo vários idiomas. Estudou direito na Universidade de Moscou  (1913), freqüentou cursos de História e Filosofia na Universidade Popular de Shanyavskii; estudou medicina (em Moscou e Kharkov) pois queria compreender o funcionamento psicológico do homem. 
Como professor e pesquisador, trabalhou em diversas áreas: psicologia, pedagogia, filosofia, literatura, deficiência física e mental. Morreu aos 38 anos, vítima de tuberculose. 
III - CONCLUSÕES DA AUTORIA 
O livro em destaque, condensa uma teoria original e bem fundamentada do desenvolvimento intelectual, sendo também uma teoria da educação. Estruturalmente, ele não é muito bem organizado (talvez por ter sido preparado às pressas) o que o torna um tanto difícil à compreensão imediata de sua unidade interna essencial. 
Algumas discussões são repetidas quase que palavra  por palavra em capítulos diferentes, sendo que às vezes isto ocorre no mesmo capítulo. O tema central de discussão do livro é um dos mais complexos problemas da psicologia: a inter-relação entre pensamento e linguagem. 
Dividido em sete capítulos, aborda primeiro: a questão do problema (objeto) e o método, onde Vygotsky afirma que existem dois métodos de análise: a primeira que analisa os todos psicológicos complexos em elementos componentes, ou seja, separando os componentes para estudá-los um a um. O segundo método (apontado pelo autor como o correto), analisa os todos psicológicos complexos, em unidades. 
Neste caso, os componentes conservam todas as características do todo, não podendo ser dividido. O segundo e terceiro capítulo são análises críticas de duas das mais importantes teorias sobre o desenvolvimento da linguagem e do pensamento: a de PIAGET e a de STERN. O quarto capítulo discute as raízes genéticas do pensamento e da linguagem. No quinto capítulo, é tratado a evolução geral do desenvolvimento dos significados das palavras na infância. O penúltimo  capítulo (número seis), apresenta um estudo comparativo do desenvolvimento dos conceitos "científicos" e do conceitos 
espontâneos da criança. Finalmente no último capítulo, cujo título é também o do livro (Pensamento e Linguagem) é apresentado os diferentes resultados das investigações e experimentos do autor, bem como o processo total do pensamento verbal. à seguir algumas conclusões do autor. 
Assim como no reino animal, para o ser humano, pensamento e linguagem têm origens diferentes. Inicialmente, o pensamento não  é verbal e a linguagem não é intelectual. Suas trajetórias de desenvolvimento, entretanto, não são paralelas. Elas cruzam-se em dado momento (cerca de 02 anos de idade). Neste período, as curvas de desenvolvimento do pensamento e da linguagem, encontram-se para a partir daí dar início à uma nova forma de comportamento. É a partir desse ponto que o 
pensamento começa a se tornar verbal e a linguagem passa a ser tornar-se racional. Inicialmente a criança aparenta usar a linguagem apenas para interação superficial em seu convívio, mas a partir de certo ponto, esta linguagem penetra o subconsciente para se constituir na estrutura de pensamento da criança. 
Além disso, a partir do momento que a criança descobre que tudo tem um nome, cada novo objeto que surge representa um problema que a  criança resolve atribuindo-lhe um nome. Quando lhe falta a palavra para nomear este novo objeto, a criança recorre ao adulto. Esses significados básicos de palavras assim adquiridos funcionarão como embriões para a formação de novos e mais complexos  conceitos. De acordo com Vygotsky, todas as atividades cognitivas básicas do indivíduo ocorrem de acordo com sua história social e acabam se constituindo no produto do desenvolvimento históricosocial de sua comunidade. Portanto, as habilidades  cognitivas e as formas de estruturar o pensamento do indivíduo não são determinadas por fatores congênitos. 
São, isto sim, resultados das atividades praticadas de acordo com os hábitos sociais da cultura em que o indivíduo se desenvolve; conseqüentemente, a história da sociedade na qual a criança se desenvolve e a história pessoal dessa criança são fatores cruciais que vão determinar sua forma de pensar. Nesse processo de desenvolvimento cognitivo, a linguagem tem papel crucial na determinação de como a criança vai aprender a pensar, uma vez que formas avançadas de pensamento são transmitidas à criança através de palavras. Para Vygotsky, um claro entendimento das relações entre pensamento e língua é necessário para que se entenda o processo de desenvolvimento intelectual. Linguagem não é apenas uma expressão do conhecimento adquirido pela criança. Existe uma inter-relação fundamental entre pensamento e linguagem: um proporcionando recursos ao outro. Desta forma a linguagem tem papel essencial na formação do pensamento e do caráter do indivíduo. 
Desta maneira, posso concluir que a obra analisada mostra-nos não um caminho único e imutável a ser seguido para melhor compreendermos a linguagem e o pensamento, mas sim uma proposta a mais para aprimorarmos e desvendarmos esses dois elos complexos da vida do homem. O autor apresenta-nos conceitos, a partir de estudos já abordados (como o de Piaget), de que a criança deve ser vista como ela própria e não como um adulto em miniatura e que por isso temos que observá-la, escutá-la e 
compreendê-la na fase real em que se encontra e não como um "clone minimizado" a caminho da extensão intelectiva adulta. Além disso, ele não se opõe de todo às psicologias existentes antes ou depois de suas análises; não descarta o todo, nem enfatiza especificamente um outro todo. Ao contrário, acresce-nos uma nova perspectiva que em nossos dias deve ser levada em consideração: pensamento e linguagem têm e precisa de uma significação própria. O que fica de muito importante, 
é o fato de que devemos buscar captar através da riqueza de ensinamentos, que o "mundo" infantil pode nos proporcionar um direcionamento e experimentos interrelacionais mais promissores, plausíveis, empreendedores e eficazes no dia-dia desse "mundo" adulto e inteligível em constante mutação. 
(Esta resenha foi apresentada à professora Ms. Antonia Ieda Delfine, ministrante da disciplina: Prática de Ensino II, no ano de 2003)

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