terça-feira, 21 de junho de 2011

New trends and developments in african religions

CLARKE, Peter B. (Ed.). New trends and developments in african religions. Westport, Connecticut: Greenwood Press, 1998. 309 p.

Ari Pedro OroI; Luiz Carlos dos Anjos
Universidade Federal do Rio Grande do Sul – Brasil


Diferentemente de outros livros sobre religiões africanas ou derivadas, este não versa sobre um país, uma região ou um continente. Contrariamente às visões que concebem aquelas religiões como sendo essencialmente étnicas, este livro enfatiza a sua atual e cada vez mais crescente internacionalização e universalização. Assim sendo, uma das teses principais do livro consiste na ênfase ao importante dinamismo das religiões africanas ou derivadas e suas relações com outras tradições religiosas e culturais, seja na África, no Caribe, nas Américas ou em partes da Europa.

Esse particular dinamismo contínuo das religiões africanas ou derivadas com outras tradições religiosas tem sido freqüentemente rotulado de sincretismo e este tema abre e atravessa todo o livro. Neste sentido, Sidney Greenfield mostra como as análises desse fenômeno são influenciadas pelas agendas sociais e políticas dominantes nas respectivas conjunturas; Peter Clarke analisa as controvérsias sobre o sincretismo na relação entre o Candomblé e o Catolicismo no Brasil; Mundicarmo Ferretti analisa a natureza complexa do sincretismo das entidades espirituais ameríndias na religião afro-brasileira do Norte do Brasil; Ineke van Wetering estuda o sincretismo no Winti cult entre a população crioula, sobretudo de origem surinamesa, na Holanda. Também os capítulos escritos por Vittorio Lanternari e Victor Wan-Tatah versam, em grande medida, sobre o sincretismo, o primeiro ao analisar as relações entre catolicismo e religião tradicional africana no fenômeno Milingo, um culto de cura, desenvolvido em Roma desde 1983, e o segundo ao analisar o tema da conversão sobretudo na Nazarene Church of Isaiah Shembe no sul da África.

O texto de Peter Clarke, bem como o de Roberto Motta sobre a eclesificação do Candomblé no Brasil, e o de William Van De Berg sobre o processo de institucionalização do movimento Rastafari em North Carolina, mostram outro aspecto associado às tendências atuais das religiões africanas: o seu crescente processo de institucionalização. Neste aspecto Stephen Grazier afirma que nem tudo sobre essas religiões pode ser entendido em termos de seu passado africano e nem podem ser adequadamente interpretadas se concebidas apenas como religiões de protesto. A complexidade dos temas acima referidos pode ser percebido no estudo de Roland Littlewood sobre Earth People de Trinidad, um movimento milenarista altamente puritano, fundamentado na bíblia, que incorpora dimensões africanas e elementos indígenas.

O livro ainda contempla outros eixos de análise, tais como: comunidade e construção de identidade, que constitui um dos temas centrais do capítulo desenvolvido por Valerie De Marinis sobre a importância da comunidade para marginalizados na Macumba, em Salvador da Bahia, bem como no estudo de Gerrie Ter Haar sobre africanos imigrantes e descendentes em Amsterdam. O texto de Tina Gudrun Jensen sobre a Umbanda no Brasil também versa sobre o mesmo tema mas sua originalidade está em focalizar a categoria de membro flutuante por oposição ao núcleo dos membros iniciados, sobre os quais versam a maioria dos estudos. O tema do simbolismo religioso no contexto do ambiente cultural total, em lugar de apenas se concentrar no próprio movimento religioso, é objeto de estudo de Charles Gullick sobre os Shakers of St. Vincent, no Caribe. A temática de gênero entra na discussão a partir do estudo de Obiagele Lake sobre o movimento Rastafari. Na opinião da autora, este movimento tem o potencial para simbolizar melhor do que qualquer outro a luta das mulheres africanas para a igualdade com os homens.

O artigo de Mike Taylor sobre a Nação do Islã apresenta dois modos básicos de se perceber este movimento: como um culto que se insere nas aspirações da comunidade afro-americana provendo-as de uma poderosa, embora fantástica mitologia; ou como um movimento orgulhoso de identificação dos negros americanos. Ainda nos Estados Unidos, Brian McGuire e Duncan Scrymgeour avaliam a contribuição de casas de Santeria à formação de comunidades de Latinos sistematicamente marginalizados, comparando com o papel desempenhado pelo Pentecostalismo, também em Los Angeles, e em outros lugares, inclusive a América do Sul.

Assim, o livro vai se desenvolvendo entre temas correlacionados e espaços díspares e nos apresenta a configuração atual e as principais tendências de uma religiosidade dinâmica, moderna, em franco processo de diferenciação e institucionalização. Por tudo isto, e muito mais, "New Trends and Developments..." constitui, sem dúvida, um dos mais importantes livros aparecidos nos últimos anos sobre as religiões africanas e religiões espalhadas pelo mundo cuja cosmologia, ideologia, rituais e ethos derivam de religiões africanas.

Revista Horizontes Antropológicos

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