Feitos para a música
Livro investiga como os seres humanos vivenciam a música e por que ela é tão importante em nossas vidas. Teria a ver com a evolução?
Por: Thiago Camelo
Publicado em 21/09/2010 | Atualizado em 21/09/2010
"Qual é o papel da música na evolução da espécie humana?", pergunta o neurocientista Daniel J. Levitin em determinada passagem de seu mais recente livro: A música e o cérebro: a ciência de uma obsessão humana (Civilização Brasileira / 2010).
De fato, o conteúdo das 364 páginas do livro condiz com o título de Levitin – que, antes de se tornar cientista, trabalhou como músico, engenheiro de som e produtor musical: o cara é obcecado por como a música é produzida, entra nos tímpanos e chega até as células que regulam a emoção no cérebro.
O livro investiga, por exemplo, por que certas músicas grudam como chiclete em nossa cabeça, enquanto outras são esquecidas como o jornal de ontem.
Às vezes, soa como um "à procura da batida perfeita", porque Levitin tenta destrinchar "agudo/grave", "o fá sustenido menor op. 66 de Chopin" e "a guitarra de One of these nights, dos Eagles".
É um detalhamento e uma busca que encontram no funcionamento do cérebro a resposta – a música, para o autor, é praticamente uma necessidade física (tal qual a linguagem), tamanha a sua importância nas nossas vidas.
E daí, há vários detalhamentos científicos, como a explicação minuciosa dos cálculos que nosso lobo frontal faz para dizer: "gostei" ou "não gostei" da canção.
Sobre Beatles, Levitin diz:
Em Lady Madonna, os quatro Beatles cantam com as mãos em forma de concha diante da boca numa pausa instrumental, e nós juramos que estamos ouvindo saxofones, em virtude ao mesmo tempo do timbre diferente que produzem e de nossa expectativa (de cima para baixo) de que faria sentido incluir saxofones numa canção desse tipo.
A graça da obsessão de Levitin está justamente aqui. Quando ele consegue misturar sua verve científica – que se traduz com o uso de conceitos novos da neurociência, como, por exemplo, neurônios-espelho – com um tratamento pop no conteúdo e na linguagem.
A pergunta inicial de Levitin – "Será que determinadas regiões e caminhos evoluíram em nosso cérebro especificamente para produzir e ouvir música?" – é respondida pela metade na obra. A ciência, segundo o próprio, ainda está caminhando para a solução da questão. O livro é uma tentativa mais consolidada de dizer "sim", nós fomos feitos para a música, e não a música foi feita para nós.
Rio de Janeiro, 2010, Civilização Brasileira
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