Néri de Almeida Souza
Doutora em História Social pela Universidade de São Paulo. Professora de História Medieval da UNESP-Franca
FRANCO JR., Hilário. Cocanha. A história de um país imaginário. São Paulo: Cia. das Letras, 1998. 313p.
Como Jacques Le Goff escreveu em seu prefácio à obra de Hilário Franco Júnior, apenas a inédita organização e apreciação sistemática e completa do corpus documental relacionado à descrição da terra maravilhosa da Cocanha, já teria sido suficiente para garantir à presente pesquisa uma importância inestimável. Mas trata-se também de uma obra que, seja pela temática em si, seja pelo tratamento dado à mesma, goza de capacidade de atração que de nosso ponto de vista apresenta ao menos mais duas grandes vantagens gerais.
Em primeiro lugar permite a divulgação junto a um público mais amplo que o acadêmico, de uma Idade Média ainda mal conhecida, complexa e plena de possibilidades históricas, rompendo com os estereótipos dominantes criados e veiculados pelos ideólogos sociais do período. As críticas internas e externas a estes meios dominantes geralmente encontravam terreno de expressão no campo das representações sociais tão difíceis de explorar, como mostra o livro de Hilário Franco Jr. A investigação destas críticas, de sentido nem sempre claro e unívoco, de objetivos nem sempre firmes, no entanto, nos esclarecem sobre os limites de nosso próprio pensamento. E aqui se encontra uma outra importância global desta obra, pois esta permite revelar também a "nossa Idade Média" e assim, submetê-la à reflexão sistemática. O autor faz isso explicitamente no último capítulo quando examina a presença da Cocanha na obra do cordel paraibano Viagem a São Saruê.
De fato, se as utopias se tornaram apropriadamente, neste final de século, tema privilegiado do pensamento científico, são sempre tema oportuno para as terras americanas, e talvez, em especial para o Brasil. Neste campo temático a sensibilidade do pesquisador brasileiro, que no geral, trabalha com recursos tão menos favorecidos que seus colegas medievalistas de outras partes do mundo, representa uma vantagem. Não é raro encontrarmos o Brasil associado, sobretudo pela imprensa escrita, à Terra da Cocanha. Neste caso a Cocanha vem tomada mais como terra onde o impossível acontece que na acepção plena que teve na Idade Média e Época Moderna. O gosto pelo paternalismo e pela festa, a riqueza, a sensualidade, nossas dificuldades abissais e nossa natureza ímpar ligam, nessa interpretação cocanhestra da Cocanha, alienação e rebeldia num impasse desconcertante. Mas a Cocanha de nossos ancestrais nos mostra que estes termos, embora em relações complexas, não estão necessariamente fadados a um sentido único. Nesta época de pensar as utopias e os tempos futuros, o texto de Hilário Franco Jr., indiretamente sugere a cada um que decida por si se o dito do fabliau lhe agrada: "Qui bien est, qu'il ne se remueve,\ Que li gaains seroit petis" (p.34).
Um exemplo dos ensinamentos que o texto nos traz é o fato de que a mais antiga narrativa escrita sobre a Cocanha, o Fabliau de Cocagne do segundo terço do século XIII, de certa forma, prescinde de Deus. Daí, a respeito dessa outra Idade Média e da nossa Idade Média, podemos apreender, ao contrário do que por vezes se pensou, que os limites imaginários são armaduras apenas aparentes da realidade pois repletos de possibilidades. O estudo da intertextualidade que compõe este fabliau, ocupa todo o primeiro capítulo. Neste, o autor revela uma obra de riqueza temporal e cultural extraordinárias, oscilando entre a longa e a curta duração, entre a mudança e a conservação histórica. No texto do século XIII a Cocanha mítica se mistura de forma perfeita com a manifestação de críticas sociais e desejos próprios a determinados segmentos da sociedade penalizados pelas profundas alterações econômicas e sociais em curso. A relação constantemente evocada entre sociedades reais e imaginárias, a resignificação dos temas folclóricos e o entendimento ao qual podem ser submetidos segundo as circunstâncias históricas, levam o autor a definir sua pesquisa como uma "história social do imaginário" (p. 15-16).
Embora a obra objetive o estudo do País da Cocanha vivenciado na Idade Média, a pesquisa de Hilário Franco Jr. considera versões escritas e iconográficas que contam de um país maravilhoso chamado Cocanha - e outros similares - e citações esparsas do termo "cocanha" aparecidas entre o século XII e o século XX. Os textos, por sua vez, foram recolhidos num território não menos vasto que inclui França, Holanda, Alemanha, Itália, Espanha e Inglaterra. Acertadamente, o texto mais antigo do corpus medieval, o já citado Fabliau de Cocagne, originário da Picardia, foi tomado como parâmetro para a abordagem das demais fontes. Assim, é no contexto do norte francês que o autor primeiramente busca as razões do prestígio que levaram o relato a ser fixado na forma escrita e porque sob a forma do gênero urbano e cômico dos fabliaux. A partir do texto picardo foram estabelecidos os quatro temas que, segundo o autor, dão personalidade ao mundo da Cocanha: a abundância, a ociosidade, a juventude e a liberdade.
Antes de passar para a análise destes temas que constituem respectivamente o objeto dos capítulos dois a cinco, o autor busca definir o gênero fabliau e arrolar influências literárias e míticas que podem ter contribuído para "a construção do imaginário da Cocanha" (p.43) que desaguaram no fabliau ao qual é dado o tratamento de compilação, de obra de autoria coletiva no tempo e no espaço. Nestes textos espalhados pela longuíssima duração que passa pelo Poema de Gilgamesh e pela República de Platão são buscados traços de similaridade que visam situar a tradição cocaniana como um ramo das representações paradisíacas ligada a uma experiência cultural que ultrapassa os limites da liturgia e teologia cristãs. Não se trata, no entanto, de busca segura das origens do tema mas de recuperação da importância das representações de terras maravilhosas ao longo da história ocidental e mesmo humana, e de melhor exposição de seus traços históricos. Procura-se, desta forma, respeitar os dados culturais específicos, profundamente conservadores e ao mesmo tempo atualizados, que caracterizam esta terra de realização de desejos atemporais.
Os quatro capítulos seguintes ao mesmo tempo em que descrevem e procuram analisar o significado da abundância, da ociosidade, da juventude e da liberdade também perseguem a definição do meio social gerador do fabliau e as razões de sua composição. O desejo de uma abundância absoluta de alimentos é relacionado pelo autor à situação de escassez e ao sentido místico e social da alimentação nas sociedades pré-industriais, mas também ao contexto de abundância inacessível, da demanda contida pelo controle sobre a produção exercido pelas corporações de oficio. Assim a comida que cai do céu em forma de chuva de pudim e as aves que voam assadas para a boca dos cocanianos - onde bem notou o autor, as fronteiras entre natureza e cultura se confundem -, seriam respostas a necessidades corporais, fonte de prazer sexual, ato de socialização com os homens e com Deus mas também questão de status social (p.59). Realismo e simbolismo interagem na lógica investigativa do autor. Dessa forma, as "relações sociais livres e igualitárias" que se verificam no acesso comum aos alimentos também podem funcionar como crítica de segmentos sociais definidos a uma situação histórica objetiva.
O autor encontra na ociosidade festiva com que os elementos da Cocanha são desfrutados as razões rituais geradoras da abundância. A fruição sem trabalho de uma natureza benéfica com a qual o homem interage fisicamente leva o autor a traçar a mais importante hipótese da obra. Segundo ele a representação maravilhosa pode ser identificada a um universo panteísta, similar àquele da doutrina do erudito Amaury de Bène (c. 1150-1206) (p.90-92). Em seu prefácio, Jacques Le Goff vê com reticências a possibilidade de dados do alto pensamento da época exercerem tal influência sobre o texto do fabliau. De nossa parte esta hipótese realmente instigante, encontra suporte em outras obras que, embora de fundamentação erudita, também escapam às sutilezas do ambiente teológico mais refinado do século XIII. É o caso da Legenda aurea, coletânea hagiográfica de larga difusão, escrita na segunda metade do século XIII pelo teólogo dominicano Jacopo de Varazze. Nela encontramos dados esparsos que efetivam a identificação entre Deus, a natureza e os seres humanos. É curioso que este documento genovês, composto muito mais próximo ao perigo do dualismo cátaro, tenha demonstrado uma preocupação notável em coibir erros doutrinários ligados a uma concepção panteísta do Deus cristão.
A influência de elementos da alta erudição teológica sobre uma fonte saída provavelmente de meios menos cultos, não deve surpreender totalmente, embora de fato seja difícil de documentar. A própria lógica a partir da qual as reflexões teológicas e os textos eruditos eram compostos responde parcial e indiretamente por esta influência. Os contornos próprios da cultura do período, o prestígio ainda marcante da palavra oral e os contornos sociais nem sempre bem definidos em determinados segmentos, explicam influências culturais mútuas. De qualquer forma é possível que as idéias de Amaury de Bène tenham se baseado em percepções religiosas externas aos ambientes eruditos e que estas tenham chegado ao autor do fabliau tanto diretamente como através do refinamento teológico.
O estudo da Cocanha como Terra da Juventude apresenta o aprofundamento desta hipótese ao lado da apresentação de algumas outras. Pelo viés da juventude - que mais do que faixa etária representaria um grupo social, novamente nos introduzindo nos limites particulares que entrecortam o tecido social na Idade Média - o autor apresenta diversas interpretações que poderiam revelar os objetivos da obra e o contexto social de sua autoria. São levantadas diversas hipóteses como a possibilidade do texto ser a expressão de sentimentos corporativos tradicionais contra o individualismo crescente, uma contestação dos laços hierárquicos das guildas face as antigas relações igualitárias das confrarias ou a alegoria da iniciação do jovem em uma comunidade profissional urbana. Baseado em versos importantes do fabliau que dizem que o poeta foi a Cocanha cumprir penitência imposta pelo próprio Papa, o autor sugere a hipótese do documento ser uma alegoria das peregrinações à Jerusalém onde, o poeta se identificaria ao Cristo e Jerusalém à cidade de Roma, lugar ao mesmo tempo repulsivo por seus vícios e fabuloso pelas possibilidades de vida geradas por suas riquezas. Estes versos são de fato significativos e fazem uma paródia das peregrinações mas, podemos de fato identificar a cúria ao local de realização da "penitência"?
O riso provocado pelo fabliau seria libertário já que expressão de críticas ao status quo do qual os "jovens" sentiam-se cada vez mais excluídos. No entanto, esta crítica também se faria veículo de uma proposta conservadora uma vez que se ri implicitamente da mudança das estruturas sociais que limitam o acesso à riqueza, ao casamento, ao prestígio social e ao poder político. Daí nasce a hipótese de a obra também poder ter exercido a função de um charivari. Como acontece seguidamente, as hipóteses se contrapõem e ao lado da sugestão de que o fabliau poderia ser um documento originado na pequena aristocracia ou no ambiente burguês, surge também a possibilidade de ser mesmo uma crítica à juventude (p.133). De qualquer maneira a realização da Cocanha através do riso fazendo da representação mental uma experiência real confirma, segundo o autor, a proximidade entre o texto e o nominalismo moderado de Pedro Abelardo - que encontra "nas coisas imaginadas... elementos reveladores de certos aspectos da realidade" (p.229) - importante para firmar as ligações entre o fabliau e o panteísmo de Amaury de Bène.
No último capítulo dedicado à análise do fabliau francês, o autor recorre a aproximação entre este e a poesia goliárdica a fim de tentar resolver o impasse social da difusão e autoria da obra. Este caminho acaba por fornecer um importante fator conciliador de hipóteses uma vez que as mudanças sociais profundas que acontecem na vida social e econômica do período, segundo o autor, atingem de forma negativa tanto à pequena aristocracia do norte francês - o que responderia pelos traços cavaleirescos do fabliau quanto aos clérigos ou estudantes vagantes, os goliardos. Trovadores e goliardos estariam assim próximos devido a sua origem, ao papel social meio marginal que desempenham e a seu desejo ambíguo de alterar a ordem social e ao mesmo tempo inserir-se nela (p.150-151). Por isso o aspecto utópico do texto encontra-se naquilo que não descreve - na busca de um retorno à sociedade ordenada (p.158) - da mesma forma que sua expressividade de desejos comuns está relacionada a sua faceta mítica.
Mas podemos nos perguntar se esse reordenamento por ser panteísta, não seria em si mesmo contraditório com o aspecto conservador apontado no texto e com a hipótese da idealização cocaniana da Sé de Roma, uma vez que não é retorno a uma situação anterior mas uma idealização de outra natureza, distante do clero "ortodoxo". A evocação da tese de Elisabeth Charbonnier segundo a qual os goliardos realmente viviam em meio à contradição da rejeição e valorização do ideal ascético, entre o desprezo do mundo e a busca de prazeres mundanos (p.157) embora importante, mereceria uma exploração mais incisiva no texto.
Ainda a partir da possibilidade do fabliau tratarse de uma fonte goliárdica, o capítulo apresenta outra hipótese: as liberdades cocanianas seriam a representação poética de uma taverna (p. 158). Embora este ambiente possa responder pelo espírito festivo, licencioso e pela glutonaria da Cocanha não dá conta de todos os elementos que a compõem como a liberdade de consumo, onde o dinheiro, espalhado pelo chão, de nada serve já que o acesso a todas as coisas se dá livremente. Por outro lado, como a Cocanha poderia conciliar ao mesmo tempo uma crítica à falta de continência, à gula e à avareza praticados na Sé Romana e exaltar o estado de embriaguez como beatífico? Como conciliar a condição real da taverna à hipótese de experiência ritual nascida do riso, de hipótese anterior?
O livro de Hilário Franco Jr. efetivamente é valoroso ao explicitar a complexidade histórica dentro da qual o Fabliau de Cocagne foi composto. O autor foi sensível ao perceber a oscilação da obra entre mito e utopia - entre presente eterno e proposta de futuro, entre o gozo presente e o retorno ao passado -, entre o comum e o particular, e sobretudo, sua colocação ambígua entre a crítica e o desejo, enfim, em suas próprias palavras, como "catarse em relação ao presente" e "utopia em relação ao futuro" (p.164). O autor tem razão ao defender que as hipóteses levantadas não são necessariamente excludentes uma vez que era próprio das narrativas breves medievais apresentar duplo sentido devido a sua construção baseada na "amplificação da metáfora por dedução metonímica" (p.163-164). Mas parece-nos que este princípio não se aplica, ao menos da mesma forma, a todas as hipóteses. Nem sempre parece possível sustentar a Cocanha com afirmação e negação de um mesmo objeto. A negatividade do dinheiro que para nada serve já que tudo é consumido em total liberdade, o coloca em condição diversa, por exemplo, do vinho e do sexo. A hipótese da natureza panteísta do texto lançaria estes dois elementos na univocidade positiva. Como então vê-los ao mesmo tempo como crítica ao comportamento do clero e das práticas matrimoniais em vigor e símbolo do tempo religioso da Cocanha?
O sexto capítulo compara o fabliau à sua primeira versão, o texto inglês The land of Cokaygne composto entre o último quarto do século XIII e o primeiro quarto do século XIV. De forma diferente do texto picardo, neste as orientações sociais são bem claras. O autor o situa em meio às disputas eclesiásticas que motivaram críticas virulentas de franciscanos às licenciosidades cistercienses. Dessa forma a inclinação ideológica da região de desigualdades do relato insular pode reforçar o aspecto utópico da terra sem conflitos do texto francês e atestar mudanças importantes no tratamento do tema e na literatura de influência folclórica como um todo. Alterações que os séculos seguintes confirmariam. Assim, a Terra da Cocanha chega aos séculos XIV-XVII como objeto exclusivo de apreço da sensibilidade campesina entrando na simbologia de suas manifestações de insatisfação. Situação que leva os segmentos da sociedade que se ajustaram à crise dos séculos finais da Idade Média monarquia, burguesia, nobreza e Igreja - a ignorá-la ou a tentar destruí-la. Os esforços oficiais para descaracterizar o "mastro da Cocanha" (p.201) seria um indício do potencial contestatório das tradições ligadas à terra da saciedade. Mas o autor também aponta, com propriedade, a limitação construtiva destas práticas, normalmente circunscritas de forma ambígua a determinados tempos festivos (p.204). Assim, o surgimento da sociedade industrializada significou um duro golpe no papel psicológico-social desempenhado pela Terra da Cocanha, que não foi suprido pelas utopias intelectuais da Época Moderna que segundo o autor, são negações da Cocanha (p.201).
Cabem ainda alguns questionamentos gerais aos quais o texto não se atem. Em primeiro lugar, que relações podem ser estabelecidas entre as tradições utópicas medievais e, especificamente a cocaniana, e as utopias modernas? Será uma relação que se esgota na negatividade? Haverá influência construtiva de uma sobre a outra? Em que sentidos esta se daria? Em segundo lugar, o autor, baseado no "cálculo" de Bernard Guenée, segundo o qual a "memória social alcança até um século", estabelece que o surgimento da Terra da Cocanha na oralidade seria de meados do século XII (p.50). Diante disso como explicar a existência de uma série de elementos similares encontrados pelo autor entre a Cocanha e a Terra de São Saruê do relato paraibano, cujo registro escrito examinado data de 1947?
A proposta da obra no entanto é apresentar uma investigação geral do corpus cocaniano sem a pretensão de ser definitiva. Na verdade - e aí reside uma das grandes qualidades deste livro - trata-se de uma obra de extrema generosidade científica ao fornecer uma exploração tão vasta, uma indicação de hipóteses tão completa, firmadas numa bibliografia farta que recobre textos clássicos e contemporâneos que tratam não apenas da Cocanha mas de um número imenso de problemáticas específicas dentro do corpus. Assim, o próprio esforço por entender a fonte em sua plenitude histórica - tecida em meio a conflitos os mais intrincados - ao criar um excesso explicativo e associativo que ao mesmo tempo em que fascina, inquieta ao leitor, também tem seu valor ao sugerir estudos mais específicos, ao incitar pesquisadores a dar continuidade a este trabalho. Uma destas possibilidades permanece sendo a sugestão da natureza amauriciana do texto ou, de forma mais difusa, seu panteísmo.
Por fim, fazemos eco a uma ressalva do prefácio elaborado por Jacques Le Goff: a tendência psicologizante das análises do autor (p.11). Esta inclinação leva-o, por exemplo, a situar como hipótese explicativa do panteísmo seu potencial de abolir traumas psíquicos e sociais que trazem sofrimento ao indivíduo (p.108). Não queremos uma barreira impermeável entre a história e a psicologia, mesmo porque temos interesse num mesmo objeto, o homem, mas sugerir uma reflexão sobre os limites desta aproximação no resultado das pesquisas historiográficas. Mas da mesma forma que o autor apresenta tais conclusões saídas da psicologia que como afirma Le Goff, ficam "fora do campo de trabalho do historiador", também demonstra um tributo bem ponderado à psicologia quando sua análise pode constatar a situação excepcional do homem na Cocanha, colocado entre o biológico e o cultural de forma singular. É esta mesma base de orientação que nos parece responder pela exaustiva investigação simbólica que tem lugar na obra. Deste modo o autor nos presenteia com sua erudição ao examinar com minúcia os mais diversos elementos constitutivos da terra da abundância. Ao fazer isso, no entanto, esse também parece sempre correr o risco de cair na armadilha da polissemia simbólica.
De todos os méritos desta pesquisa, talvez o maior deles seja o fato de que - ao longo da travessia difícil e edificante que é o livro de Hilário Franco Jr. - podemos sempre contar com a segurança que nos vem do rigor e erudição com que o autor nos conduz à Cocanha.
Revista de História - USP
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