sexta-feira, 20 de novembro de 2009

A Tirania do Petróleo


Resenha de “A Tirania do Petróleo: A mais Poderosa Indústria do Mundo e o que Pode ser feito para Detê-la”, de Antonia Juhasz, por José Alexandre Altahyde Hage

A publicação de livros sobre a politização do petróleo tem sido alta nos Estados Unidos desde o instante em que o ex-presidente George W. Bush resolveu seguir orientações de seus policy makers para que o país entrasse militarmente no Iraque. Embora nos assuntos científicos, o que deve servir também para a política, não seja conveniente se apegar a reducionismos e justificativas suficientes para explicar acontecimentos, há em voga nas publicações mais recenteso motivo da segurança energética que incentivou a aventura militar da Casa Branca.

Aliar energia, à base de combustíveis fósseis, com política internacional, e seus conflitos, não é originalidade do passado recente. O mais referendado livro sobre o assunto, Petróleo: Poder e Glória, de Daniel Yergin, publicado no Brasil em 1992, faz um largo estudo sobre os esforços que as grandes potências fazem, sobretudo Estados Unidos e Reino Unido para conseguirem a tão importante regularidade de óleo, com a qual se mantém o poder.

O mais novo lançamento brasileiro sobre a questão, A Tirania do Petróleo, não é diferente, continua na politização da economia do petróleo. Sua autora, Juhasz é uma das mais importantes analistas da questão energética nos Estados Unidos e, como não devia deixar de ser, com interesse internacional, visto que falar de petróleo não se pode perder a dimensão exterior. Além do mais, Antonia Juhasz é articulista sobre energia Herald Tribune e New York Times.

Mas, diferente dos outros autores, Juhasz direciona forte opinião em seu livro contra a chamada indústria do petróleo norte-americana, abig oil, como prefere a autora. No mencionado trabalho a autora defende a premissa de que a elevação das grandes empresas petrolífera nos negócios domésticos e internacionais, com coordenação ou não de Washington, acarreta automaticamente crises e danos de toda ordem na vida política e econômica dos outros países, principalmente os pobres que não têm reservas de poder para se defenderem.

As empresas big oil não se limitam apenas a prospectar petróleo pelo planeta, junto a elas há uma enorme variedade de interesses empresariais e políticos que apostam na preeminência tecnológica, política e econômica dos Estados Unidos para que tais vantagens não acabem. Uma gama de investidores, advogados, administradores privados e públicos e políticos gravitam em torno das mais dinâmicas petroleiras que rodam pelo mundo em busca de novas jazidas.

O que se pode deduzir da analise feita pela autora é que as big oil se configuram em um poder à parte, gozando de certa autonomia frente ao poder político. Essa visão também não é original e tem crescido muito a partir do instante em que a globalização passou a ser entendida como limitação de soberanias. Exon, Chevron, British Petroleum e outras são baluartes daquilo que fora conhecido como instrumentos do imperialismo, mas de modo muito moderno.

O que a autora faz é uma espécie de “pedir desculpas” pelo fato de as petroleiras norte-americanas e britânicas terem ganhado tanta projeção e poder na economia mundial da energia. Antes dela o falecido Peter Gowan já havia reparado na existência de um eixo Londres – Nova Iorque na coordenação internacional de prospecção, transporte e negociação de petróleo, que angaria mais poder que a endiabrada OPEP. Contudo, por ser mais politizado, sob o marxismo, Gowan enxergava nisso nada mais do que uma faceta do capitalismo.

O que o tema internacional do petróleo interessa ao Brasil, bem como a publicação de A Tirania do Petróleo? Um item é relevante dizer. A produção acadêmica e crítica com livros sobre energia é muito mais alta que a brasileira. Embora a premissa de Juhasz não seja tão original assim seu livro traz mais informações e análises que os anteriores não trazem, como a associação de escritórios de advogados e membros da administração federal norte-americana, além dos já conhecidos.

É por causa do forte trânsito que a produção editorial norte-americana tem nos temas de energia que os analistas brasileiros tem de conhecer o livro de Juhasz – é bom aproveitar os caminhos abertos sobre os quais podem ser aproveitados para trabalhos futuros. E, por fim, se realmente se realizar o vaticínio do Brasil se transformar em grande produtor de petróleo, o que vale também para o etanol, deverá ser muito útil o debate e crítica existente nos Estados Unidos. O negócio é aprender com as experiências e erros alheios.

JUHASZ, Antonia. A Tirania do Petróleo: A mais Poderosa Indústria do Mundo e o que Pode ser feito para Detê-la. Rio de Janeiro: Ediouro, 2009, 431 p. (ISBN 978-85-0002-4771-1).

José Alexandre Altahyde Hage é Doutor em Ciência Política pela Universidade de Campinas – Unicamp; atualmente desenvolve estudos pós-doutorais na área de História na Universidade Federal Fluminense – UFF (alexandrehage@hotmail.com).

Meridiano 47

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