Uma ode à diversidade lingüística
Revolução da linguagem decorrente do advento da internet é tema de livro de pesquisador britânico
– Qual a boa do fds?! Ou ainda: – Vc tah afim de fzer alguma coisa hj? O leitor habituado com a internet certamente não estranhou as sentenças acima, tampouco deixou de entendê-las. O que soa muito natural para muitos internautas é, para o lingüista britânico David Crystal uma manifestação da revolução da linguagem que o mundo atravessa neste início do século 21.
As principais características dessa transformação são o tema de A revolução da linguagem, o novo livro de Crystal, recém-lançado no Brasil. Ex-professor da Universidade de Reading e professor da Universidade do País de Gales em Bangor (ambas no Reino Unido), o britânico é autor de mais de 100 livros e artigos sobre lingüística, entre eles o Dicionário de lingüística e fonética, referência entre estudiosos do tema.
Editado na Inglaterra em uma coleção chamada “Temas para o século 21”, A revolução da linguagem retoma conceitos de três trabalhos anteriores de Crystal. As idéias originalmente apresentadas em English as a global language, Language death e Language and the internet, publicados entre 1997 e 2001, são descritas na nova obra como partes de um mesmo fenômeno: uma transformação estrutural na ecologia lingüística global em curso desde a década de 1990.
A emergência do inglês como a primeira língua internacional do mundo, falada por um número de pessoas sem precedentes em toda a história, é o ponto de partida da argumentação de Crystal. Mais importante que isso: o número de falantes não-nativos do inglês já supera – e muito – o de nativos. Novas palavras e expressões gramaticais enriquecem e pluralizam a língua de Shakespeare. As mudanças são inevitáveis.
A morte das línguas, decorrente dessa supremacia do inglês, é a maior preocupação de Crystal. O autor, conhecido como um ativista pela diversidade lingüística, alerta para um cenário preocupante: a cada duas semanas, morre uma língua no mundo. Para lutar contra esse perigoso fluxo, o autor tem um plano e pretende conquistar adeptos: quer que o tema seja abordado na mídia, nas escolas primárias, nas artes plásticas, na música, na literatura. Quer um prêmio – uma espécie de Nobel da lingüística – para os militantes em prol da diversidade das línguas. Quer gritar ao mundo inteiro: os pandas precisam de nossa ajuda, mas as línguas também – vamos salvá-las da extinção!
Para Crystal, a língua na era da internet é o sinal mais claro de que a situação lingüística atual é revolucionária, sem medo da grandiosidade da palavra. A rede mundial de computadores inaugurou uma forma de comunicação singular, a meio caminho entre o oral e o escrito. O discurso da internet (o netspeak) afetou mais os processos comunicativos do que qualquer outra inovação tecnológica na história desde a invenção da escrita. E nada mais natural do que criar novos códigos compartilhados entre seus usuários – por isso Crystal rebate qualquer argumento purista de que as recorrentes abreviações e neologismos em chats e e-mails sejam prejudiciais às línguas.
A revolução da linguagem visa o grande público, pouco habituado com os conceitos da lingüística, e até os leitores não usuários da internet. A edição brasileira conta com uma introdução da lingüista Yonne Leite, professora do Museu Nacional/UFRJ, e apresenta uma boa síntese das três obras que inspiraram o livro, ainda não editadas no país.
Embora o texto seja um pouco repetitivo, a mensagem final é clara e a leitura, fluida. O livro de Crystal – uma ode ao pluralismo lingüístico – propõe soluções para questões atuais e decerto agradará ao leigo interessado em línguas e a professores de idiomas, inclusive o português.
A revolução da linguagem
David Crystal (tradução: Ricardo Quintana)
Rio de Janeiro, 2005, Jorge Zahar Editor
Fone: (21) 2240-0226
151 Páginas.
Rosa Maria Mattos
Ciência Hoje On-line
09/05/2006
Muito legal teu blog, com bastante informações.
ResponderExcluirParabéns!
Silvia