sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Pandora

Anne Rice
Rocco
"Pandora", mais uma incursão da escritora norte-americana Anne Rice em seu mundo de vampiros, celebra o estilo da autora, que parece ter nascido de um "brainstorm" de Bram Stoker com as redatoras de "Sabrina".
O novo livro, uma novela curta, é superficial, afetado, mas ainda assim é muito agradável percorrer suas páginas.
A obra de Rice é puro entretenimento, por mais que sua legião de fãs gaste horas na Internet discutindo com seriedade as complexas relações dos vampiros gerados pela imaginação da autora.
E Pandora, a personagem, é sua nova criação. Com 2.000 anos, Pandora nasceu em Roma e se apaixonou por Marius, quando ele ainda era mortal.
Para quem não é um frequentador do mundo das trevas de Rice, é bom esclarecer: Marius é o mentor do vampiro Lestat, estrela de "Entrevista com o Vampiro" e outros livros dela. No cinema, Lestat é o personagem vivido por Tom Cruise no filme homônimo.
A novela enfoca mais o período de vida mortal de Pandora, mostrando seu envolvimento com os conspiradores que planejam matar o imperador César Augusto e tomar o poder.
Demora um pouco, a trama dá algumas voltas, mas ela reencontra Marius, já transformado em vampiro. E o leitor vai acompanhar sua conversão.
Livrinhos e livrões
Anne Rice deu entrevistas explicando porque "Pandora" é uma novela curta e não mais um de seus habituais "livrões". A autora pretende lançar a cada verão um livro pequeno, uma novela ligeira. Alguns meses depois, ela publicará uma novela de fôlego, nesse caso sem a obrigatoriedade de manter um lançamento por ano.
É fácil ver que Rice assumiu de vez a condição de "fábrica" de livros. Qualquer um pode prever que isso deve afetar a produção da autora, e "Pandora" já dá sinais de repetição e pouca criatividade.
Praticamente todos os desdobramentos da história encontram paralelos com sequências de outros livros da escritora. É como se os contos vampirescos de Rice fossem uma série de filmes para o cinema, com uma produção razoável, e passassem a ser uma série de TV meio chinfrim.
De qualquer forma, "Pandora" manterá o público fiel da autora satisfeito até que "O Vampiro Armand", seu novo "livrão", chegue ao Brasil. Porque, é bom destacar, Rice pode estar fazendo a mesma subliteratura de sempre, mas sabe cativar o leitor.
Seu grande mérito é aproximar os vampiros da vida comum. Eles não são reclusos, são pessoas que podem ser encontradas em cafés ou teatros. Não são assustadores nem conseguem ter prazer ao usar os mortais como fonte de alimento. São personagens sedutores, envolventes, mas estão cansados, atravessam séculos de monotonia e enfado.
Essa aproximação com o cotidiano funciona como uma isca forte para o leitor. É comum ouvir um fã da obra de Rice dizer frases do tipo "Eu vivo procurando o meu Lestat!", uma referência ao herói máximo do universo dela, que seduz seus eleitos e os transforma em criaturas tão tristes quanto ele. Mas, mais uma vez, a melancolia seduz.
Quando escreve com vontade e tesão, Anne Rice sabe misturar esse jogo de sedução com alguma densidade narrativa, conseguindo chegar perto de uma literatura memorável.
Quando apenas quer fazer novelas rasteiras como "Pandora", não ultrapassa os limites de um razoável folhetim de horror.
Autor: Thales De Menezes

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